Kerry é chamado de “candidato do eu também”O atual governo americano e a cúpula republicana estão dominados por grupos influenciados ideologicamente pela extrema-direita política e religiosa, que apresentam a situação mundial como “uma luta entre o bem e o mal”. Obviamente, os EUA e o capitalismo encarnam o “bem”.

O Partido Democrata não se nutre dessas fontes ideológicas. Inclusive tem, historicamente, uma importante participação das minorias negra e hispânica, dos homossexuais e dos sindicatos. Mas seria um equívoco completo alimentar expectativas de que uma vitória de Kerry mudaria as coisas no Iraque e em relação a outros temas, como lamentavelmente fazem várias organizações de esquerda e “progressistas” dos EUA e de outros países, que chamam a votar nele.

O Partido Democrata é tão imperialista quanto o Republicano, por isso, defende e defendeu o sistema imperialista com toda a sua força. Recordemos que foi o presidente democrata Lyndon Jonhson quem iniciou a intervenção americana no Vietnã e que outros presidentes desse partido apoiaram e impulsionaram inúmeros e sangrentos golpes militares na América Latina e em todo o mundo.

Mas vejamos as posições do próprio Kerry, defendidas pelo comitê diretivo do Partido Democrata. Antes da invasão do Iraque, ele criticou Bush por não haver reagido rápido o bastante e, depois, por “não ter enviado as forças suficientes para cumprir sua missião”. Agora se apresenta como alguém “capaz de resgatar a falida ocupação do Iraque”, cuja proposta é “incrementar o esforço militar e o envio de tropas”. Os democratas inclusive criticaram Bush por não responder militarmente à fabricação de armas nucleares pela Coréia do Norte ou a ameaça do Irã de fazê-lo, expressando: “Com Kerry como comandante-em-chefe, nunca deveremos esperar para atuar no exterior quando nossa segurança estiver em jogo”. Fica claro que é uma ilusão pensar que se Kerry vencer as eleições irá pôr um fim à invasão do Iraque por vontade própria ou não vai impulsionar agressões contra outros países.

Ao mesmo tempo, tal como o ex-presidente democrata Bill Clinton, Kerry foi grande defensor das novas ferramentas de saque imperialista na América Latina, como o Nafta e a Alca.

Em relação à política interna, apesar de ter de diferenciar-se em alguns temas, como o aborto, para preservar as tradicionais bases eleitorais democratas, Kerry como senador apoiou o USA Patriot Act (que restringe os direitos civis dos cidadãos americanos com o álibi do “terrorismo”) e os cortes orçamentários na educação e na saúde públicas, que afetam os trabalhadores e os setores mais pobres da população. Não é à toa que alguns meios de comunicação chamem-no de “me-too-candidate” (o “candidato do eu também”) pelas grandes coincidências de suas propostas com as de Bush.
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