Durante as discussões na Conlutas e na Conlute ocorreram debates muito interessantes sobre dois tipos de equívocos possíveis.

O primeiro tem a ver com posições defendidas por uma parte do P-SOL, a corrente Socialismo e Liberdade, que tem expressão no Andes e na Previdência Social. Essa corrente está contra a ruptura com a CUT e contra a Conlutas. Na verdade, toda a sua estratégia está associada à da esquerda da CUT, que não quer, de forma alguma, romper com a CUT.

A argumentação é frágil e insustentável em uma discussão clara. Dizem que romper com a CUT é deixar de disputar suas bases. Na verdade, é o oposto. Para disputar as bases da CUT é necessário organizar uma alternativa nacional que supere o isolamento (cada um em seu sindicato).

As grandes mobilizações contra o governo em 2004 foram articuladas por fora da CUT, com a participação direta da Conlutas, como as marchas de 16 de junho e 25 de novembro, assim como a greve nacional bancária.

Outra argumentação é que a Conlutas “é coisa do PSTU”. O Encontro da Conlutas comprovou mais uma vez que isso não é assim: havia militantes do PSTU, do P-SOL, do PDT, do PSB, do PT e independentes. Um dos princípios que está sendo discutido para a formação da nova organização é a independência em relação aos partidos.
Na verdade, a ruptura com a CUT é um processo de massas, que se amplia a cada greve (como a do funcionalismo federal, em 2003, e a dos bancários, em 2004), com cada reforma neoliberal do governo. Caso não haja a construção de uma alternativa, essa ruptura pode ir para qualquer lado, dispersando-se ou mesmo sendo capitalizada pela direita.

Essa corrente – Socialismo e Liberdade – não discute suas posições com clareza, optando por manobras como dizer que está a favor da Conlutas, mas querendo evitar que ela passe de uma Coordenação para uma nova organização alternativa à CUT e à Força Sindical. Ou, ainda, dizendo que está “a favor da Conlutas e da CUT” e que quer a unidade das duas”. Na verdade, eles defendem, de conteúdo, a continuidade da CUT, sempre com o objetivo de acompanhar a esquerda da CUT.

Os erros de ultra-esquerda
O segundo equívoco tem a ver com posições de diversas e bem minoritárias correntes de ultra-esquerda, que se expressam na Conlutas e na Conlute. Em geral, defendem posições como a palavra-de-ordem “Fora Lula”, pela convocação imediata de uma greve geral e que a Conlutas se transforme em um soviete de imediato.

Todo dirigente sindical sabe que nem sempre uma proposta para a ação “mais à esquerda” é a mais revolucionária. A proposta mais correta é a que pode mobilizar as massas e não a “mais à esquerda”. Caso um dirigente sindical proponha uma greve sem que as massas estejam preparadas para isso, a greve será derrotada, a burguesia se fortalecerá e o sindicato se enfraquecerá.

O caso da palavra-de-ordem “Fora Lula” é típica. Hoje setores importantes dos trabalhadores romperam com o governo. Mas a maioria dos trabalhadores de muitas categorias ainda tem expectativas em Lula. O mais importante para o próximo período é promover lutas e ganhar os trabalhadores contra a política econômica do governo e suas reformas, para levá-los a romper com Lula.

Este é o terreno real da luta. Mas se colocarmos a proposta de derrubar o governo (que é o significado da palavra-de-ordem “Fora Lula”) para os trabalhadores que ainda têm expectativas nele, ao invés de nos aproximarmos deles e levá-los à luta, vamos facilitar o jogo de governo e CUT.

Assim, para os que realmente querem lutar contra o governo, para que um dia possam chamar o “Fora Lula” (como levantamos no passado “Fora Collor” ou “Fora FHC”) temos de recusar com clareza essa proposta para os dias de hoje.

A convocatória imediata de uma greve geral é um equívoco semelhante. Como não temos ainda uma ruptura de 70% ou 80% das massas com o governo, e tampouco um ascenso generalizado, o chamado a uma greve geral vai cair no vazio.

Pior, deixaríamos de lado as tarefas reais de preparar as campanhas salariais do funcionalismo no primeiro semestre, dos bancários, dos petroleiros e dos metalúrgicos no segundo, a grande marcha a Brasília etc. Caso a Conlutas aceitasse a proposta dos companheiros, quem se beneficiaria seria a direção da CUT. Com a Conlutas desacreditada e em crise, por não conseguir garantir uma greve geral, a CUT voltaria a se fortalecer.

Para termos uma greve geral será necessário que os trabalhadores acumulem forças com mobilizações setoriais e rompam com o governo em um escala superior. Para os que querem chegar realmente um dia a uma greve geral, a tarefa hoje é a preparação das campanhas salariais e das lutas contra as reformas Sindical, Trabalhista e Universitária.

Outro erro semelhante é pretender transformar a Conlutas em um soviete, de imediato. Um soviete é um organismo de duplo poder que, em geral, surge nos processos revolucionários, quando se está na luta direta pelo poder. Os trabalhadores não se organizam por se organizar, mas para lutar por seus direitos.
Como não existe hoje ainda um ascenso revolucionário, o chamado a um soviete cairia no vazio e não existiria nenhum avanço para os trabalhadores. Ao contrário, deixaríamos de lado as verdadeiras tarefas de organização da Conlutas: a disputa pelas bases pela ruptura com a CUT, a construção das oposições sindicais, a luta pela sustentação financeira etc.]
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