Bem diferente da última edição do Fórum Social Mundial realizado no Brasil, Lula estará presente nesta 5a edição sem a mesma aura que o cercava há dois anos. Em 2003, a maioria da esquerda mundial saudava a eleição do petista com grande expectativa, chegando praticamente a ignorar sua ida, em seguida, para o Fórum Econômico em Davos.

Passados dois anos, restam somente ilusões perdidas. Apenas os apóstolos do auto-engano ainda insistem em afirmar que este é um “governo em disputa”, entre um pólo progressista e outro conservador. A única disputa que há é entre setores da burguesia ligados às grandes empresas aos bancos.

Lula aplica a mesma política neoliberal de FHC. Todos os sonhos do sistema financeiro e das multinacionais estão sendo realizados: pagamento pontual da dívida externa, superávits primários recordes, os juros reais são os mais altos do mundo, as reformas exigidas pelo FMI são cumpridas à risca, as PPPs foram aprovadas e, ainda, garantiu-se a entrega da metade das reserva de petróleo do país. Por outro lado, os trabalhadores continuam amargando um enorme arrocho e, ainda, têm seus direitos (férias, 130 etc) ameaçados pela reforma Trabalhista.

Aliado aos latifundiários do agronegócio – que têm nos ministros Furlan e Rodrigues seus mais notórios representantes – o governo Lula liberou o cultivo dos transgênicos e mantém a reforma agrária em estado de paralisia. Nem a meta acordada com os sem-terra foi cumprida: no ano passado, o governo assentou 25 mil famílias, apenas 1/4 do que foi prometido.

Crescimento econômico

Com base em uma enorme campanha de marketing, o governo do PT tenta passar um clima de otimismo, apresentando os números do crescimento econômico do país. Em 2004, o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter crescido em torno de 4,5% e 5%. Esse resultado foi obtido em função do crescimento econômico mundial, alavancado principalmente pela economia norte-americana. Mas como todo ciclo de crescimento neoliberal, não significou uma melhora das condições de vida dos trabalhadores. O desemprego continua nas alturas (em torno de 20%) e as vagas criadas são insuficientes para absorver os novos trabalhadores que ingressam no mercado de trabalho. Em 2004, os brasileiros trabalharam mais para pagar imposto. De acordo com a UNAFISCO, passou de 120 dias o número de dias trabalhados para o fisco. Em contrapartida, não há nenhuma melhoria para os serviços públicos essenciais.

Lula aprofundou o endividamento do país

Recentes dados divulgados pelo Banco Central (BC) sobre o endividamento do país apresentam uma pequena amostra do que foi a terapia de choque neoliberal. Entre 1998 e 2004, os gastos com os pagamentos de juros e encargos da dívida pública alcançaram R$ 696 bilhões. No mesmo período, o superávit primário gerou uma quantia igualmente espantosa de R$ 316,4 bilhões. Mesmo assim, a dívida aumentou de R$ 385,9 bilhões para R$ 941 bi. Um saco sem fundo.

Nos dois anos de governo petista, Lula, Palocci e o blindado Henrique Meirelles apertaram ainda mais o torniquete dos juros. Até a metade do governo, foram pagos R$ 261,8 bilhões dos juros e R$ 152 bilhões – quase 50% do total – foram retidos para fazer superávit. São bilhões de reais desviados da saúde, da educação, da reforma agrária, dos salários dos servidores para engordar os lucros dos banqueiros.

Como se não bastasse, com a política de juros altos do BC, o governo fez o endividamento do país, em 2004, aumentar em mais R$ 80 bilhões, animando a farra-do-boi da especulação financeira.

Política externa progressista?

Lula, além disso, cumpre um papel ativo no plano de recolonização do imperialismo norte-americano. Mesmo assim, há setores da esquerda que insistem em dizer que sua política externa é “progressista”. Na América Latina, Lula vem atuando como bombeiro das crises revolucionárias em que as massas, por meio de suas mobilizações, derrubam governos.

Foi o que aconteceu nas jornadas que derrubaram Sánches de Lozada, na Bolívia, enquanto Lula lhe dava apoio até o fim. Depois que Lozada foi expulso pelas massas, Lula se apressou em apoiar o vice-presidente Carlos Mesa, declarando que era necessário preservar as “instituições democráticas”.

A isso se soma a iniciativa de retomar as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Fazendo o jogo do imperialismo, Lula está disposto a entregar a nossa soberania a empresários exportadores ligados ao agronegócio. O que exige o acirramento da luta por parte de todos aqueles que querem impedir que o país seja transformado numa colônia dos EUA.

Mas, para quem ainda tem ilusões na postura “progressista” do governo brasileiro, basta ver o triste papel que o país cumpre na liderança da ocupação ao Haiti, onde, a serviço de Bush, cerca de 1.200 soldados fazem o serviço sujo para o imperialismo.

Governo mais fraco

Lula chega à metade do seu governo bem mais fraco do que quando iniciou. Mesmo toda a propaganda e as loas de auto-estima e confiança do povo brasileiro não impediram a derrota do PT nas eleições municipais. Para piorar a situação do PT, em 2004 explodiram importantes lutas sindicais, como a greve bancária que, após uma rebelião de base contra as direções sindicais governistas, enfrentou o governo, banqueiros e os sindicatos chapa-branca ligados à CUT.

Depois da derrota eleitoral do PT, o governo seguiu em marcha acelerada para a direita. Enfraquecido, Lula procurou dar mais espaço aos seus aliados entre os partidos burgueses (PP, PTB, PMDB), iniciando a demissão de membros do governo que faziam tímidas críticas à política econômica. A demissão mais emblemática foi a de Carlos Lessa do BNDES. Considerado pela esquerda petista representante da “ala nacionalista” do governo, Lessa foi demitido porque não concordava com a política de juros altos do BC, o que desagradou os banqueiros.

Na semana passada foi a vez dos diretores da Embrapa, ligados à esquerda petista, que foram substituídos por nomes fiéis à turma do agronegócio. Agora, com a reforma ministerial em vista, Lula vai ampliar o espaço dos partidos aliados de direita, podendo inclusive dar um ministério a Roseana Sarney, do PFL.

Oposição de verdade, é de esquerda

A decepção com o governo Lula, contudo, não pode resultar na desmoralização de milhares de trabalhadores ou em deixar a bandeira da oposição nas mãos dos velhos partidos tradicionais, de direita, como o PSDB e o PFL. Hoje, eles só atacam o governo para voltar ao poder e perpetuar o neoliberalismo, a miséria e o desemprego.

É necessário construir e fortalecer uma nova alternativa de oposição de esquerda ao governo. Todos os ativistas de esquerda devem saber que Lula não é nenhum aliado, mais sim um inimigo que precisa ser derrotado.

Post author
Publication Date