Imagens de relatório produzido por infiltrado em reunião de preparação do I Encontro dos Atingidos pela Vale, em 2010

Entre monitorados estão dirigentes da então Conlutas e do PSTU

Não é apenas o Estado que lança mão da infiltração e da espionagem para conseguir informações sobre os movimentos sociais. Empresas privadas também recorrem ao expediente para se municiarem de dados para preservarem seus interesses e contra os que consideram seus inimigos. Recentemente, um agente infiltrado a serviço do Consórcio Belo Monte foi desmascarado enquanto filmava com uma caneta espião uma reunião do movimento contra a usina (veja matéria). Outro caso recente é a denúncia de um ex-agente da Vale que prestava serviços de “vigilância e inteligência” à empresa.

O ex-agente André Luis Costa de Almeida, que comandava o chamado “departamento de Segurança Empresarial” foi demitido em 2012 após oito anos de serviços à mineradora. Segundo ele, o departamento contava com 200 funcionários e uma rede de terceirizados que chegava a 4 mil. Em março deste ano, ele apresentou uma denúncia ao Ministério Público Federal em que relata como a Vale espiona, monitora e infiltra agentes em movimentos sociais que a empresa vê como ameaças. Mais que isso, apresentando uma farta gama de documentos, como notas fiscais e relatórios, o ex-agente provou como a Vale suborna funcionários públicos para obter informações da Polícia Federal e da Receita, e se utiliza de grampos telefônicos para gravar ligações de pessoas monitoradas.

Parte dos serviços era realizado através de empresas terceirizadas, como a “Sacramento”, que depois mudou o nome para “Network”. Trata-se, na prática, de milícias, pistoleiros e espiões a serviço da Vale. Os documentos de posse de Almeida mostram uma série de comprovantes de pagamentos aos agentes que tinham como alvo, além dos movimentos sociais, jornalistas e ambientalistas. Essas denúncias, veiculadas pela imprensa em abril, não são exatamente uma novidade. Mas agora a agência de notícias Pública, divulgou vários documentos revelados pelo ex-agente, que incluem os relatórios de pagamentos a agentes e documentos produzidos pelos próprios infiltrados, com fotos e identificação de líderes sindicais.

Um dos documentos que a Pública divulgou, um arquivo de Power Point chamado de “mosaico”, mostra várias fotos da Caravana de Minas ao I Encontro dos Atingidos pela Vale, realizado em 2010 no Rio de Janeiro. O encontro reuniu dirigentes sindicais e ambientalistas de vinte países em que a mineradora atua. Além das fotos das reuniões internas do movimento, o documento traz a identificação de várias lideranças, entre elas membros do PSTU e da então Conlutas (hoje CSP-Conlutas) que integravam a direção do Sindicato Metabase de Inconfidentes e Itabira. As fotos e a identificação das lideranças mostram de forma clara que o documento foi produzido por um informante infiltrado (clique aqui para ver o documento). Esses “mosaicos” eram passados às gerências regionais de inteligência da empresa. 


Documento da  “Network” mostra Conlutas como “entidade contrária à Vale”

Métodos da ditadura
Esses documentos e as denúncias contra a Vale mostram que, quase trinta anos após o fim da ditadura militar, expedientes típicos de regimes de exceção são utilizados não só por governos e órgãos repressivos, mas diretamente por empresas privadas. Diferentemente do período militar, em que havia uma estreita relação de parceria e troca de informações entre órgãos repressivos e empresas, geralmente o setor de RH, agora as grandes empresas montam seus próprios aparatos de espionagem e repressão, utilizando-se de pessoal e know-how dos anos de chumbo.

Veja aqui a reportagem completa no site da Pública