Atrocidades da ditadura contra a tribo Cinta Larga foram expostas no Relatório Figueiredo. Depois de atirar na cabeça de um bebê, os assassinos cortaram a mãe ao meio com um machado

No dia 31 de março, completam-se 51 anos do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart, o Jango, e deu início à ditadura militar

O golpe de 1964 foi apoiado, preparado e financiado por empresários, por multinacionais e pelos Estados Unidos, que temiam que o governo do então presidente João Goulart não conseguisse conter as lutas travadas pelos trabalhadores. Na época, os trabalhadores realizaram centenas de greves e lutas por salário e direitos. Entre 1962-64, aconteceram 176 greves. No campo, as Ligas dos Camponeses enfrentavam o latifúndio, ocupavam terras e exigiam reforma agrária.

Todas essas lutas obrigavam os patrões e o governo a fazerem concessões. Por exemplo, o 13º salário foi uma conquista das greves dessa época, sendo instituído por Goulart em 1962. Outro exemplo é a instituição da lei sobre as remessas de lucros, que proibia as multinacionais de mandar dinheiro para fora do país. Os lucros deveriam ser reinvestidos no Brasil. O embaixador norte-americano Lincoln Gordon ficou furioso, e Goulart não assinou a lei. Mas como as mobilizações continuaram, em janeiro de 1964, Jango se viu obrigado a assiná-la.

Apesar de ser obrigado a fazer concessões, Goulart tentava implementar uma política de estabilização financeira baseada no congelamento salarial. O FMI e o governo dos EUA exigiam a implementação desse programa de arrocho, mas atender às exigências só seria possível reprimindo as greves.

Em 13 de março, o comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, reuniu 300 mil pessoas. Novamente pressionado, Jango decretou a nacionalização das refinarias de petróleo e desapropriou, para a reforma agrária, propriedades às margens de ferrovias e rodovias. A resposta veio alguns dias depois quando militares derrubaram o presidente e instauraram o regime autoritário. Os EUA prepararam a chamada Operação Brother Sam para apoiar o golpe. Caso houvesse alguma reação popular, tropas norte-americanas poderiam invadir o Brasil.

O golpe derrotou as greves operárias, esmagou as lutas travadas no campo, fechou sindicatos, prendeu e torturou militantes, proibiu a existência de partidos políticos e cassou mandatos parlamentares. Assim, com mão de ferro, o regime militar conseguiu impor o aumento do arrocho salarial e fez com que sua política econômica fosse inquestionável.

Um país endividado

Os anos entre 1968 e 1974 foram marcados pelo chamado milagre econômico. Na época, a economia crescia com taxas acima de 10% ao ano. O ministro da Economia da ditadura, Delfim Netto, dizia que era preciso fazer o bolo crescer para depois reparti-lo. Mas o bolo cresceu e nunca foi dividido. Na verdade, houve um aumento da desigualdade social. Os 10%, mais ricos que detinham 38% da renda em 1960, chegaram a ter 51% da renda em 1980. Já os mais pobres, que tinham 17% da renda nacional em 1960, caíram para 12% vinte anos depois. O salário também foi achatado. Em 1974, o poder de compra do salário representava a metade do que em 1960.

O crescimento da economia só aconteceu porque as empresas e as multinacionais foram fazendo empréstimos em bancos do exterior. Depois, foram as estatais que pegaram empréstimos lá fora. O resultado de tudo isso foi o endividamento brutal do país. Durante a ditadura, a dívida externa passou de cerca de US$ 3 bilhões, em 1964, para US$ 100 bilhões, em 1984.

Trabalhadores foram as maiores vítimas da ditadura

Nas manifestações do dia 15, vários grupelhos de extrema direita defenderam a volta da ditadura. A defesa da volta dos militares ao poder foi minoritária no ato da Avenida Paulista. Uma pesquisa indica que apenas 10% dos presentes defenderam isso. Na passeata da CUT, no dia 13, também havia os que defendiam a ditadura: eram 6%.

A ditadura representou um dos períodos mais cruéis da história do país. Ao contrário do que dizem seus defensores, a corrupção corria solta. Manifestações e greves foram proibidas, e a imprensa foi censurada. Prisões e torturas de opositores eram rotina.

Muitas das obras faraônicas da ditadura foram construídas com o sangue dos trabalhadores. Por exemplo, a construção de Itaipu provocou a morte de pelo menos 145 operários. Calcula se que milhares de indígenas e camponeses foram assassinados, principalmente na Amazônia, no momento em que a ditadura resolveu construir hidroelétricas e estradas por lá.

A ditadura levou o país a uma tremenda crise econômica. O resultado foi a explosão da revolta social. Em 1984, o povo realizou os maiores protestos da história com as campanhas das “Diretas Já”.Poucos anos depois, a ditadura caiu. Quem defende a volta dos militares não sabe o que fala. Mas o povo não esquece. Ditadura nunca mais!

Corrupção rolou solta

A ditadura foi tão corrupta quanto os governos democráticos. Bilhões foram desviados das obras faraônicas da ditadura (Rodovia Transamazônica, usinas Angras 1, 2 e 3 e hidrelétrica de Itaipu, entre outras). Como não havia nenhuma fiscalização, e a ditadura não prestava contas dos gastos públicos, nunca saberemos exatamente o quanto foi desviado. Além disso, a imprensa estava sob censura, e qualquer notícia sobre corrupção era barrada. Ou seja, se você denunciasse um corrupto, podia ir para a cadeia.