O letreiro semiapagado anuncia o filme “Casa Vieja”. No antigo e charmoso cinema “Karl Marx”, centenas de cubanos assistem atentos à película nacional. O filme trata de temas polêmicos: homossexualidade, machismo e relações familiares.

Num certo momento, um dos protagonistas dirige-se a outro personagem e pergunta: “neste país se pode pensar?”. Todo o cinema cai em risadas, completando a ironia da cena.

A ditadura em Cuba amordaça e reprime violentamente. Estão proibidos os sindicatos independentes, a oposição pública, a livre expressão e a liberdade de organização. Enfim, não é tolerada a mínima divergência organizada em relação ao regime. João, que trabalha num teatro em Havana Vieja, quase sussurrando, nos explica a situação: “não posso manifestar minhas opiniões, não posso viajar, para falar com vocês tenho que falar em voz baixa para ninguém ouvir… Queria comprar um sapato, mas não posso, meu salário não permite… Veja: dizem que a educação é boa e é verdade, mas de que adianta isso se eu não posso ter minhas opiniões livres?”
Com a restauração capitalista, o regime ditatorial tornou-se ainda mais nefasto. A ditadura “castrista” que se erguia sobre a base social de um Estado operário, hoje se apoia sobre o capitalismo. A diferença em relação a qualquer país latino-americano que derrubou regimes ditatoriais na década de 80 é a de que em Cuba, frente ao ajuste neoliberal do governo, não se pode fazer greves, realizar manifestações ou mesmo organizar um sindicato livre.

Em um sistema capitalista, há uma luta incessante para definir quem é mais “forte”, pois o objetivo é conseguir mais dinheiro e melhores condições materiais. Uma minoria obtém os privilégios econômicos à custa da maioria, que trabalha duramente para obter ao menos um pouco de alimento, enquanto outras pessoas já sofrem a síndrome do desemprego. As expressões de dor são comuns entre a gente que, em sua miséria, trata de encontrar alguma alegria para sobreviver. Isso é justamente o que se passa em Cuba sob o “tacão” da ditadura.

A tarefa imediata e mais sentida pelo povo cubano é a derrubada da ditadura. Junto a essa luta, é preciso estar contra os “ajustes neoliberais” anunciados recentemente pelo governo, bem como defender as conquistas sociais que sobrevivem. A luta pelo socialismo em Cuba pressupõe retomar a propriedade estatal sobre os principais meios de produção, além de reconquistar a planificação econômica e o monopólio sobre o comércio exterior. É necessária uma segunda revolução política e social em Cuba!
Post author Gabriel Casoni e Verónica Garcia
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