Na tentativa de resolver o problema como se fosse caso de polícia, governo do estado chega a propor um muro em torno da favelaNas últimas semanas os noticiários foram tomados pela disputa em torno do controle da venda de drogas na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Esta favela fica entre bairros “nobres” da Zona Sul e é a maior da América Latina – o censo de 2000 registrou 56.338 habitantes. Semanalmente, a venda de cocaína movimenta R$ 10 milhões na Rocinha. Foi a disputa por esse negócio milionário que levou os traficantes, um setor lúmpen da burguesia, a aterrorizar e humilhar a população dos morros. Mas esse setor, na verdade, é testa-de-ferro de grandes banqueiros e empresários que sustentam o lucrativo negócio do tráfico de drogas.

Com o confronto entre traficantes explodiu outra disputa entre diversas personalidades políticas visando as eleições municipais. O atual prefeito César Maia (PFL), candidato à reeleição, apressou-se em chamar de incompetente o governo de Rosi-nha Garotinho (PMDB), do qual o vice-governador Luiz Paulo Conde é candidato à Prefeitura. Conde jogou a responsabilidade para a Prefeitura por não impedir o crescimento das favelas e, inspirado no neonazista primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, defendeu a construção de um muro de três metros de altura para isolar a Rocinha. Já César Maia disse que isso criaria um “parque temático da cocaína” – a “Cocaine World”. O prefeito acredita que nos morros só moram bandidos.

Não à intervenção militar

Maia ainda defendeu a intervenção federal no Rio, através do Estado de Defesa. Após 40 anos do golpe militar, o prefeito saudosista defende um dispositivo constitucional à altura dos atos institucionais da ditadura. Através do mesmo, que deveria ser decretado pelo presidente da República, inúmeros direitos seriam restringidos: reuniões públicas e sigilo de correspondência e comunicações telefônicas; bens e serviços públicos poderiam ser ocupados e pessoas presas por crimes contra o Estado.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, falando em nome de Lula que apóia o petista Jorge Bittar à Prefeitura, afirmou que “se for o caso o governo federal lançará mão das Forças Armadas”. Rosinha apressou-se e solicitou quatro mil militares para ocupar as principais favelas. Lula exigiu uma declaração do governo estadual, admitindo que perdera o controle da situação, o que seria um duro golpe às pretensões presidenciais do secretário de Segurança, Anthony Garotinho, que não aceitou.

É lamentável que tantos tenham solicitado a presença do Exército na Rocinha para um problema que, em essência, é social. Mais lamentável é transformar em bandida a população trabalhadora das favelas. Os que lucram com o tráfico estão nos condomínios e escritórios luxuosos.

Post author Gilberto Marques, do Rio de Janeiro (RJ)
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