O picareta Roberto Jefferson, cassado pela Câmara, retirou o processo contra José Dirceu
Walter Campanato / Ag. Brasil

Está em curso uma tentativa de dar uma cara nova às instituições desgastadas que são repudiadas pelos trabalhadores e jovens. Algo assim como lançar perfume nas ruas ainda inundadas e contaminadas de Nova Orleans, para disfarçar o mau cheiro.
O PT busca, com suas eleições internas, dar uma esperança de uma mudança que não virá. A prisão de Maluf é para iludir o povo com a idéia de que agora os corruptos serão realmente presos. A cassação de Roberto Jefferson dá uma falsa imagem de que os outros deputados também serão punidos. A renúncia de Severino abre espaço para um novo presidente da Câmara, que disfarce mais a imagem desse covil de ladrões. Tudo para facilitar o acordão entre PT e a oposição burguesa para canalizar a crise para as eleições de 2006.

Vida e Morte severina
Eleito com o amplo e descarado apoio do PSDB e do PFL, Severino Cavalcanti assumiu a presidência da Câmara com ares de um “príncipe do baixo-clero“ e rapidamente ganhou o apoio não só de seus aliados nos partidos de “oposição“, mas também, e principalmente, dentro do próprio governo contra o qual ele havia sido eleito.
Corrupto e fisiológico, reacionário envolvido com trabalho escravo, grosseiro e homofóbico, Severino é um retrato sem retoques do típico parlamentar. Justo por isso, nunca foi, para os seus pares e comparsas, uma figura ideal para estar à frente da Câmera. Particularmente num momento em que se busca passar para a população a idéia de estar acontecendo uma “limpeza ética“ no Parlamento.

Com o agravamento da crise e diante da necessidade de tirar a própria instituição do Congresso do foco do repúdio da opinião pública, Severino transformou-se em um sapo muito difícil de ser engolido. O que faltava era uma desculpa razoável para pedir o seu afastamento. O cheque apresentado por Sebastião Buani, no final da semana passada, cumpriu esse papel, desmascarando a história do “mensalinho“.

Acuado e abandonado, Severino deve desembarcar da presidência da Câmara e de seu próprio mandato (renunciando para evitar a perda dos direitos políticos), abrindo espaço para que o governo e a “oposição“ busquem uma nova opção, que disfarce melhor os outros severinos do Congresso.

Dentre os nomes baralhados estão os dos pefelistas José Thomaz Nonô e Inocêncio Oliveira, o peemedebista Michel Temer (PMDB) ou os petistas Paulo Delgado e Sigmaringa Seixas. Gente que, ou tem um longo histórico de serviços prestados ao governo, ou uma longa ficha corrida de casos de corrupção e falcatruas. Ou ambos, na maioria dos casos.

Seja como for, o certo é que, mesmo com alguma resistência, Severino, na quarta, deve juntar-se à já longa fila de políticos que, diante da atual crise, optaram por uma circunstancial saída de cena em troca de garantias de continuidade do funcionamento do sistema e dos esquemas que lhes deram fortuna e poder. Uma fila que, na semana passada, tinha Roberto Jefferson à frente.

O recuo de Roberto Jefferson e o alívio dos outros
Depois de prometer “nitroglicerina pura“ para abalar os alicerces do governo, Roberto Jefferson ofereceu um medíocre espetáculo em sua despedida da Câmara. Cassado por 313 votos (contra 156), Jefferson vociferou muito, mas nada acrescentou. Afinal, dizer que Lula finge que não sabe de nada ou que o Congresso se prostitui não é novidade para ninguém.

Se não bastasse baixar o tom no Congresso, Jefferson ainda deu outra demonstração de “boa vontade“ para com o governo, retirando o pedido de cassação contra José Dirceu, do PT, e Sandro Mabel, líder do PL.

A postura de Jefferson, anunciada com uma cômica declaração à imprensa – “Cansei. Chega de ódio“ –, na verdade, é apenas a ponta de um novo “enredo“ que está sendo ensaiado na Câmara.

Está cada vez mais evidente que o governo, seus principais aliados e seus supostos opositores estão costurando um acordo para, o mais rápido possível, fechar a crise que há vários meses assombra o Planalto.

Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu uma liminar aos deputados do PT que foram pegos com a boca no mensalão, suspendendo a abertura do processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara. Oportunista, José Dirceu pegou carona e conseguiu para si a mesma liminar.

A decisão, na prática, joga a abertura do processo para um futuro não muito bem definido, e sua intenção óbvia é ganhar tempo. Isso significa que esses deputados podem renunciar, evitando sua cassação.

Na última semana, foi intensa a movimentação para abafar outro possível escândalo que poderia jogar água sobre a fornalha da “pizzaria“ desejada pelo governo: a ameaça de que viessem à tona provas de que o ministro Palloci está diretamente envolvido com toda a lama que circula pelo Planalto. Algo que, evidentemente, é um fato, mas que o governo e todos seus aliados (da “oposição“ à imprensa burguesa; do empresariado aos banqueiros) têm conseguido manter fora do foco da crise.

Encurralado com as novas denúncias, Palocci ameaçou, se seu irmão, Adhemar Palocci, for convocado por qualquer das CPIs para depor sobre o caixa 2 do PT de Goiás, entre outros trambiques, abandonar o governo. Como a burguesia não quer que a crise política contamine o plano neoliberal, a ameaça deu certo e o irmão de Palocci não vai depor.

Fora Todos!
Essas negociatas acontecem no Congresso enquanto os trabalhadores olham tudo com enorme desconfiança, e seguem suas lutas. Os trabalhadores dos Correios pararam, na maior greve nacional em muitos anos, apesar das direções dos sindicatos de São Paulo e Rio de Janeiro, ligados aos governistas da CUT. O funcionalismo federal da educação segue com sua greve nacional em ascenso.

É hora dos trabalhadores e jovens unificar suas lutas concretas com as mobilizações contra a corrupção e a política econômica do governo que a Conlutas está promovendo em todo o país. Fora Todos! Fora o governo Lula, o Congresso, PT, PSDB, PFL… Por um governo socialista dos Trabalhadores.

Post author Editorial do Opinião Socialista 233
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