(Nova York - EUA, 24/09/2018) Presidente da República, Jair Bolsonaro, discursa durante a abertura do Debate Geral da 74ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU). rFoto: Alan Santos/PR

É urgente derrotar o governo Bolsonaro-Mourão e o seu projeto de destruição e barbárie

Se o discurso de Bolsonaro na ONU não causou grandes surpresas no público brasileiro, tanto aos que o apoiam (cada vez menos), quanto os que já se opõem a seu governo, o mesmo não se pode dizer de parte da imprensa e da própria burguesia que esperavam uma fala mais mediada, que pelo menos transmitisse a ideia de um governo comprometido com o meio ambiente. Expectativa, aliás, alimentada pelos próprios assessores do presidente nos dias anteriores. Não foi o que aconteceu.

O discurso de Bolsonaro foi um resumo das atrocidades propagadas por ele nos últimos anos, e em especial nos últimos meses quando recrudesceu seu tom bonapartista. Começa com a Fake News de Whatsapp de que o Brasil esteve “perto do socialismo”, passa pela história dos guerrilheiros cubanos disfarçados por médicos e pelo desplante de elogiar o golpe de 1964 dizendo que, com a ditadura, “resguardamos a nossa liberdade“.

Afora os arroubos autoritários e o discurso típico da ultradireita, como todo populista, Bolsonaro mentiu. E não foi pouco. Contou um verdadeiro conto de fadas no qual seu governo combate a corrupção, em que a economia cresce e o desemprego arrefece. Tudo muito longe da vida real, em que seu governo chafurda em denúncias de corrupção (nas quais ele mesmo faz um acordão com o STF para abafar), o desemprego continua desesperador na mesma medida em que disparam o trabalho precarizado e a renda diminui.

No momento em que a população se indigna com a morte da pequena Ágatha, fuzilada pela PM no Rio de Janeiro, Bolsonaro diz que seu governo combate a violência, num cinismo que só não choca tanto por sabermos bem como a sua canalhice desconhece limites.

Além das besteiras disparadas e o nacionalismo fake, que brada por soberania e contra o colonialismo, mas apoia a entrega e privatização do patrimônio nacional (e ainda diz “I love you” a Trump), o que significou esse discurso?

Bolsonaro: “I love you”. Trump: “Bom te ver de novo”. Foto: Alan Santos/PR

Uma guerra social que se aprofunda
O texto lido com dificuldade por Bolsonaro, que espremia os olhos para enxergar o teleprompter enquanto mantinha uma fala robótico, foi escrito pelo ministro Augusto Heleno (GSI), o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo (a ala mais maluca do governo ligada a Olavo de Carvalho), Eduardo Bolsonaro e, evidentemente, revisada pelo estrategista da ultradireita internacional, Steve Bannon.

O texto pode indicar o aprofundamento da política de Bolsonaro de manter e coesionar sua base de apoio, daí o fato do elogio a Sérgio Moro, ministro que está sendo sistematicamente fritado há meses pelo governo, mas que personifica parte significativa de sua base, a ala lavajatista. E também um aceno ao setor evangélico. Coesionar o setor duro do bolsonarismo mesmo que isso possa significar mais instabilidade pela frente, com a perda de apoio popular e, inclusive, de setores da própria burguesia que não são exatamente alinhados a essa política de ultradireita, ainda que tenham acordo com o programa ultraliberal levada a cabo pelo governo.

O que de mais grave aponta o discurso de Bolsonaro, porém, é o aprofundamento da sua política de terra arrasada, de destruição da Amazônia e genocídio das populações indígenas e dos povos da floresta. Sua intenção de privatizar todas as estatais e entregá-las ao grande capital estrangeiro. De recrudescer a violência policial, tal como Witzel, que produz cenas de barbárie como a execução da pequena Ágatha (de olho em 2022, Bolsonaro e Witzel competem para ver quem produz mais cadáveres). Sua política de aprofundar a guerra social contra os trabalhadores e os pobres, que vem provocando o caos no país. Isso tudo dito às claras, sem meios-termos, ao mundo inteiro.

Isso coloca a necessidade urgente de derrotá-lo, e não esperar seu desgaste até 2022 para contrapor o mesmo projeto conciliatório dos governos do PT. Uma que, até lá, danos incontáveis e irreversíveis já terão sido feitos, tanto em termos de meio ambiente, quanto de direitos, empregos, serviços públicos e sobretudo, vidas humanas. De jovens negros da periferia, de indígenas, enfim, dos setores mais oprimidos e vulneráveis à sanha destrutiva e assassina do capital e deste governo.

E para derrotar Bolsonaro e seu projeto só há um caminho: a unificação das lutas. Unir as lutas dos indígenas, quilombolas e dos povos da floresta aos dos trabalhadores do campo e da cidade, dos trabalhadores das estatais contra as privatizações, aos dos professores, funcionários e estudantes em defesa da Educação, numa grande luta contra a guerra social aos pobres, a destruição dos serviços públicos e dos direitos, em defesa do meio ambiente e da educação. Unir as lutas para derrotar Bolsonaro e o seu projeto de guerra social e barbárie.