Ronaldo Souza, dirigente do Terra Livre e morador do Jd. Pantanal

Desde o início de dezembro de 2009, a população do Jardim Pantanal, na margem do rio Tietê na capital paulista, convive com o drama dos alagamentos. Milhares de famílias perderam tudo o que tinham e ficaram desabrigadas. Até agora, 12 pessoas morreram. O Portal do PSTU conversou com Ronaldo Delfim Souza, dirigente do movimento Terra Livre e morador do bairro. Ao contrário do que tenta passar o governo e a grande imprensa, o problema dos alagamentos não é culpa de “fenômenos naturais”, como explica o dirigente.

Responsabilidade do governo
Segundo Ronaldo, as moradias do Jardim Pantanal foram construídas em 1986, pelo próprio governo, a fim de desocupar uma outra área ocupada pelas famílias. Hoje estariam lá cerca de 30 mil famílias. Diferente do que possa parecer, os alagamentos nem sempre fizeram parte da vida dos moradores. Começaram de repente, em 1997. “Naquele ano tivemos uma grande cheia e não sabíamos de onde vinha, pois não tinha chovido e estava aquele solzão, soubemos então que existiam as barragens na cabeceira do Tietê” , afirma Ronaldo.

As barragens teriam sido construídas para conter os alagamentos na marginal. O problema é que, quando fechadas suas comportas, as águas transbordam e alagam a região do Jardim Pantanal. Em 1997, o governo do estado fechou a barragem para impedir o alagamento da marginal e garantir o carnaval, que se realizaria no Anhembi. “A partir desse fato nós fomos à luta e conseguimos que se abrissem as barragens e a água foi embora, depois de dias com a água na cintura” , relembra o dirigente.

Naquele mesmo ano, a população do Jardim Pantanal realizou uma manifestação com 3 mil pessoas em frente ao Palácio dos Bandeirantes. Entraram também com uma ação no Ministério Público para que as barragens não fossem mais fechadas. “Só que em 2006 o governo Serra fechou de novo, teve alagamento e aí ameaçamos explodir as barragens” , diz Ronaldo. O governo recuou e a situação voltou ao normal.

Ação premeditada
Em 2009, porém, o problema voltou. No dia 8 de dezembro um grande temporal se abateu sobre São Paulo e a região foi alagada, e até hoje algumas áreas ainda estão debaixo d´água. No entanto, Ronaldo lembra que antes disso, já no dia 4, as famílias que moram mais próximas do Tietê já avisavam que o rio estava enchendo, mesmo sem chuva. Ronaldo denuncia que, prevendo o período de fortes chuvas, através da estação meteorológica de Salesópolis, o governo Serra teria se aproveitado da ocasião para liberar as águas das barragens.

“Esperaram dar um temporal forte para colocar a culpa na chuva, mas aquela água toda que alagou a marginal não era água do rio, era dos córregos que descem da Cantareira” , denuncia. A chuva teria sobrecarregado as barragens, fazendo com que o governo despejasse a água represada. O governo, verdadeiro responsável pelo alagamento, além de não ajudar as famílias, teria um plano de expulsar os moradores. “Ninguém da grande mídia quer divulgar o verdadeiro projeto do governo, que é expulsar as famílias e construir lá um parque, que na verdade seria uma continuição da marginal, ligando o Parque Ecológico à Salesópolis“.

Repressão
Hoje, cerca de 9 mil famílias estão desabrigadas. O governo oferece bolsa-aluguel para apenas 3 mil, de R$ 300, que mal dá para alugar um imóvel com dois cômodos. A população se revolta cada vez mais, pois, além da enchente, tem que enfrentar também a repressão da polícia. “Fizemos algumas manifestações e a polícia desceu o cacete; somos ameaçados pela polícia também” , denuncia Ronaldo. Recentemente, algumas famílias tentaram se abrigar numa escola da região e foram expulsas pela polícia, em ação conjunta com a Defesa Civil e a Guarda Metropolitana. Mulheres, crianças e idosos foram agredidos pela polícia.

Além da enchente, os moradores enfrentam ainda as doenças trazidas pelas águas da chuva. “Os hospitais não divulgam isso, para não associarem com as chuvas” , diz o dirigente, que responsabiliza o governo Serra por esse desastre e acusa a imprensa de conivente com isso. “Precisamos mostrar que houve e está havendo um crime lá; a imprensa mostra só o filhote de urubu que é o Kassab para poder dizer que a prefeitura é a única culpada, mas sabemos que o verdadeiro assassino é José Serra e governo do Estado de São Paulo, que autoriza esse desastre todo” .