Valdir Martins, o Marrom, liderança dos sem-teto em São José
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Marrom foi resgatado pelos próprios desabrigados enquanto era encurralado pela PMApós o violento despejo das nove mil famílias do Pinheirinho em São José dos Campos, a polícia tem em sua mira os dirigentes do movimento por moradia. Na noite desse dia 1º de fevereiro, quarta-feira, um dos líderes dos sem-teto, Valdir Martins, o Marrom, foi perseguido pela polícia após denunciar a situação precária de milhares de famílias abrigadas nos alojamentos mantidos pela prefeitura.

Marrom estava em seu carro, seguindo em direção ao alojamento mantido pelo movimento de solidariedade aos desabrigados, no bairro do Morumbi, quando se deparou com várias viaturas da Polícia Militar. “Passei por um carro da polícia em uma esquina, logo após à frente por outro carro, um terceiro carro já acelerou e saiu atrás de mim” , relata. Sozinho e sem qualquer testemunha por perto, Marrom não parou o veículo. “Dei um balão pra voltar pro acampamento”.

Ao se aproximar do alojamento no Morumbi, o dirigente foi rendido pelos policiais. Outras viaturas também chegaram ao local. Os próprios moradores, porém, saíram do alojamento e socorreram Marrom, não permitindo que a polícia o detivesse. “Não sei o que poderia ter ocorrido comigo”, diz.

Dirigente denunciou comida estragada
A perseguição policial ocorreu poucas horas após Marrom ter denunciado a entrega de alimentos estragados aos desabrigados no alojamento do Poliesportivo Vale do Sol, da prefeitura. Em um vídeo gravado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, o dirigente mostra carne estragada servido durante o almoço, o que provocou a revolta das famílias ali alojadas.

Após a denúncia, a prefeitura de Eduardo Cury (PSDB), junto com a empresa fornecedora, foi à delegacia e registrou Boletim de Ocorrência contra o próprio Marrom, acusando o dirigente de ‘sabotagem´. A prefeitura alega que o representante dos sem-teto roubou a comida dos moradores e a expôs ao sol para que estragassem e, assim, criar um ‘factóide´. Foi a melhor história que a prefeitura conseguiu inventar para se defender da acusação.

Criminalização
A ação intimidatória da polícia e da prefeitura ocorre de forma orquestrada com a imprensa local, principalmente através do jornal O Vale que, desde o despejo, vem publicando de forma sistemática matérias caluniosas contra o Sindicato dos Metalúrgicos e o dirigente dos sem-teto. Trata-se de uma estratégia de criminalização das lideranças com o objetivo de esmagar de vez o movimento por moradia na cidade.