Leia abaixo a carta de Noel, rompendo com o PSOL e com o Coletivo Socialismo e Liberdade (C-SOL)“Evidente que grande parte de minha motivação vem a partir da análise dos rumos que o PSOL vem tomando e, há que se dizer, em tão pouco tempo.

Essas eleições municipais deixaram absurdamente claro em que patamar é possível “dialogar” para se eleger parlamentares na busca da famigerada disputa institucional: a independência de classe. As alianças foram as mais absurdas possíveis e isso parte inclusive da própria resolução da última conferência em que, na prática, se admitia qualquer tipo de aliança desde que não estivesse nos marcos mensaleiros. Ora, esse tipo de tática abre margem inclusive para alianças com PFL (DEM), PPS, PV, PSB entre outros partidos da ordem onde não há a menor identidade de classe. Percebam que não é apenas uma adaptação a ordem, mas uma aliança com a própria ordem. Com quem se beneficia diretamente da política macro tocada pelo governo Lulla.

Vale destacar o papel cumprido pelas correntes minoritárias do PSOL que, apesar de se oporem a decisão de Genro em aceitar financiamento burguês, não apontaram algo de concreto que pudesse, no mínimo, constranger Luciana e dar um fim a políticas personalistas, capazes de responder a uma base partidária que sequer tem possibilidade de questionar tal ato pelo fato de não haver instâncias democráticas de decisão no partido e de controle de sua direção.

Após a “festa da democracia” percebo um retorno da política pela ética e moralização do Estado burguês (‘um novo partido contra a velha política’). A prioridade do debate político nos últimos tempos tem sido o delegado Protógenes Queiroz e Daniel Dantas. Com uma crise econômica mundial que já é responsável por milhares de demissões de trabalhadores, que é capaz de empurrar o governo ainda mais a direita na medida que abre a possibilidade de “discutir a flexibilização dos direitos trabalhistas”, que entrega bilhões para montadoras de automóveis e banqueiros e o partido…o partido…nada? Nada!?!? Nada. Não tem uma política clara para o enfrentamento que está colocado para a classe trabalhadora frente a mais esta crise, para a possibilidade (real e concreta) de retirada de direitos históricos dos trabalhadores, para mais demissões, para os ataques à liberdade de organização sindical (vide ANDES-SN e SINSPREV-SP)…bem, mas isso não é o mais importante. O mais importante é saber quantos por cento Heloísa Helena tem na pesquisa para a corrida presidencial em 2010. Claro! Acabou 89? Feliz 94. Acabou 2008? Feliz 2010!

É preciso que haja uma grande capacidade de organização da classe trabalhadora e por isso, também é preciso apostar na prioridade de construção das ferramentas que vão tocar esta importante tarefa no movimento popular. Dada a falência da CUT enquanto instrumento de organização da classe (ainda que pese seu quadro de acelerada degeneração desde o início da década de 90), o movimento colocou na ordem do dia a necessidade de construção de uma alternativa de central, sindical e popular, que tivesse um corte de classe muito bem definido e que fosse capaz de aglutinar uma gama de lutadores/as dispostos a avançar nas conquistas para os trabalhadores. Aqui é importante salientar o freio que a maioria da direção do PSOL coloca no movimento ao vacilar na política de unificação da CONLUTAS e da INTERSINDICAL. O papel que a CONLUTAS vem cumprindo hoje no movimento tem sido central para as respostas necessárias da classe trabalhadora frente aos ataques dos patrões e dos governos, em especial o federal. Com uma capacidade de organização que ainda é aquém do necessário, mas que avança dia após dia, que organiza fóruns regulares de debates e apontamentos políticos e que vem se consolidando como alternativa de organização dos trabalhadores onde a burguesia ganha de nós, socialistas, o melhor combate: a luta de classes.

Parte de minha motivação para esta ruptura se dá também pelo peso político que representou a decisão da direção nacional do C-SOL de cancelamento da conferência de juventude do coletivo que estava marcada para janeiro/09 onde seriam tratados diversos temas, alguns polêmicos (é bem verdade), a cerca da organização da sua juventude, da prioridade política pro próximo período e a necessária renovação dos quadros dirigentes de juventude. Na prática, isso representou o sufocamento da discussão que já vinha sendo travada na corrente a respeito da reorganização da classe trabalhadora, no que tange a organização dos estudantes. E isso, pra mim, não é qualquer coisa. Representa, pra mim (repito), a impossibilidade do debate franco de idéias e possibilidade de divergências entre camaradas que buscam uma síntese comum de ação e formulação pro movimento.

Por isso companheiros e companheiras, não estou disposto a perder os melhores anos de minha vida doando meu esforço militante por algo que se propõe a ser o novo gerente do capital, a alternativa de gerenciamento do Estado burguês. Minha disposição militante está, a partir deste momento, para a construção de um partido que tem em suas bases a solidez da classe trabalhadora como central pra sua organização. E não a rigidez dos ferros e vergalhões da Gerdau ou de qualquer outro instrumento da burguesia. Minha disposição militante companheirada, está para a construção de um partido que não vê outra forma de conquista da liberdade e dignidade para os trabalhadores senão a ruptura com o Estado burguês. E não a sua reforma “por dentro”. Com pedreiros, nós só dialogamos com os trabalhadores da construção civil.

Espero reencontrar companheiros e companheiras num futuro breve e (quem sabe?) numa mesma organização.

Evidente que tudo não é perfeito, mas acredito, realmente, que as diferenças políticas que hoje possuo com o PSTU não são empecilhos pra construção do que é estratégico: a sociedade socialista. Os acordos (método de ação, organização, prioridade do debate, estratégia) são muito maiores.

Noel.