Acompanhe a reportagem sobre a resistência ao golpe de estado, enviadas por uma delegação que está no país. Desde o dia seguinte ao golpe de estado em Honduras, formou-se na Costa Rica o Movimento de Solidariedade com o Povo hondurenho. O Movimento ao Socialismo (MAS), seção oficial da LIT na Costa Rica, participa desde o início das atividades do comitê, com a firme certeza de que a atitude dos revolucionários da América Central deve ser assumir para si qualquer luta que ocorra nos cinco “países” da região que foram artificialmente divididos. Neste momento uma delegação se encontra em Honduras, levando solidariedade e participando da resistência. Estas são as primeiras notícias que eles nos enviam desta importante luta democrática, antioligárquica e antiimperialista.

Quarta-feira 15 de junho 2009

Uma tensa calma governa Honduras. Ao ingressar no aeroporto de Toncontín a estranha sensação de estar num lugar onde ocorreram fatos históricos. No dia 5 de junho, há apenas 10 dias, centenas de milhares de hondurenhos se manifestavam aqui aguardando o regresso de Zelaya. A resposta dos militares veio à bala.

Após dois dias de reorganização, o movimento popular recuperou sua força e manteve a resistência. Quando chegamos a Honduras completavam-se 17 dias do golpe. Desde então, não há um só dia que não tenha ocorrido protestos, bloqueios de ruas e greves.

Ao chegar no aeroporto vários representantes de grupos sociais e de esquerda estavam nos esperando. Alguns nós já conhecíamos faz algum tempo e outros recentemente. As brincadeiras não demoram pois, como já dizia Lênin, “a revolução é a festa dos oprimidos”. Duas difíceis semanas de resistência não impediram a jovialidade e hospitalidade da população.

Há uma tensa calma em Honduras, os militares se mantêm na rua, mas também há muitos sinais de que existem negociações diplomáticas realizadas pelas “cúpulas”. Até o fim de semana se esperam fatos importantes, mas a situação pode mudar rapidamente. O mais importante de tudo é que o povo trabalhador segue mobilizado, ainda que não tenha ocorrido uma paralisação geral. Nesta semana, os métodos de luta foram as marchas e bloqueios de estradas.

Foi anunciada a possibilidade que Manual Zelaya regressasse, mas não se sabe em que dia. Uma das debilidades do movimento de resistência é que ele depende demasiadamente dos prazos que o presidente deposto define unilateralmente. A resistência que num momento foi dispersa e espontânea começa agora a se afirmar e a ser mais orgânica, intensa e ganhar uma dimensão nacional. Nesse sentido, a possibilidade de que a Frente Nacional de Resistência contra o Golpe ganhe independência política, força e dinâmica própria é estratégica, não só na luta contra o golpe, mas também na luta para desmontar todo o velho regime.

***

O objetivo de nossa missão em Honduras é muito claro: enviar uma mensagem de solidariedade e apoio entre os povos irmãos da Costa Rica e Honduras. Demonstrar nos fatos que a classe operária não tem fronteiras, que a América Central é uma nação artificialmente divida e que a luta dos povos por se libertar do imperialismo e das oligarquias, é uma só.

As reações das diferentes organizações juvenis, de esquerda e popular, são muito diferentes: alegria e orgulho ao saber que na Costa Rica e no resto do continente há manifestações contra os golpistas. Muita informação sobre o repúdio geral ao golpe são omitidos pelos meios de comunicação do país, mas pouco a pouco as informações aparecem graças aos meios alternativos de comunicação e através do boca a boca entre as pessoas. Em Honduras uma parte importante da população não tem acesso a internet. Nesse sentido, nossa visita é muito importante.

A alegria se transforma em clareza política, quando se explica o papel e o significado de Oscar Arias, como agente direto do imperialismo na Costa Rica e na região. O golpe de estado “técnico” que realizou (1) e o tratamento que deu a delegação da Frente Contra o Golpe de Estado, na Costa Rica.

Uma lição política brota facilmente: enquanto os empresários estão unidos pelos negócios e os laços familiares, os povos da região continuam divididos artificialmente.

Uma pergunta muito repetida é sobre nossa posição a respeito das negociações na Costa Rica. Respondemos que é preciso se opor a elas e recusá-las categoricamente, pois se trata de uma manobra para consolidar aos golpistas. Alguns instintivamente desconfiam de Arias. Nossas informações apenas confirmam suas intuições.

A cada conversa com os lutadores hondurenhos, a cada história que nos contam sobre as últimas duas semanas de luta, mostram com clareza que este povo tem resistido. Em Honduras, nada será como antes.

NOTA
(1) Para poder chegar ao poder em 2006, Oscar Arias teve que “torcer” a Constituição da Costa Rica, que proibia a reeleição presidencial. Só através de uma emaranhada resolução que a reeleição foi possível.