Demoraram 15 horas para chegar a Atenas. De lá até a praça Sintagma, epicentro político do país, foram mais 40 minutos. Mesmo assim, pegar o trem do aeroporto até o centro da cidade foi uma experiência pra lá de prazerosa. Por conta da política de bloqueio às contas bancárias, o governo grego decidiu instituir o passe-livre no transporte público, pelo menos até o fim do referendo. A decisão, infelizmente, se resume à capital. Thessaloniki, segunda maior cidade do país, segue com as catracas a pleno vapor. Privatizado, o usufruto de seu transporte público segue restrito aos que têm dinheiro.

Ninguém sabe direito o significado nem a duração do “corralito” grego. A única certeza por aqui é que os bancos estão muito próximos de quebrarem. Seu futuro depende, essencialmente, da boa vontade do Banco Central Europeu que, até agora, decidiu não dar seu xeque-mate ao sistema financeiro local.

Imaginava, ao chegar, que me depararia com enormes filas nos caixas eletrônicos e supermercados com estoque vazio, como já havia testemunhado em outros momentos, entre 2011 e 2012, no Cairo. De fato, havia alguma aglutinação em torno das máquinas de sacar dinheiro, mas nada desproporcional. Os supermercados, ao menos por onde estive, também tinham suas prateleiras com produtos repostos. Verdade que resumi meu dia a alguns quarteirões da região central de Atenas. Porém, certamente, não há nenhum caos estrutural na cidade.

Independentemente do grau de pânico na população, a restrição aos saques de Euro tem conseguido pautar o debate sobre o referendo da austeridade. O medo de uma quebra dos bancos tem empurrado, segundo indicam as pesquisas de opinião, a população em direção ao “sim”. Ao longo dos últimos dias, o “não”, defendido pelo governo Syriza e pela oposição de esquerda, testemunhou perda de apoio popular. A enorme manifestação pró-Euro de anteontem jogou mais água no moinho da direita, que afirma conseguir ter colocado nas ruas mais gente pelo seu lado do que o campo antiausteridade.

A televisão por aqui também está em campanha aberta pelo “sim”. Não são poucos, inclusive, os comerciais a favor do acordo com a Troika. Segundo o jornal britânico The Guardian, além da grana da burguesia, a campanha conta com bastante dinheiro da igreja ortodoxa grega. Por outro lado, as ruas de Atenas estão tomadas por cartazes e pichações afirmando o “OXI” – “não” em grego – que esteticamente conquistou a cidade.

Por volta das 19h daqui, ocorreu minha primeira atividade política. Foi uma concentração em frente à biblioteca nacional grega, que terminou diante da representação diplomática da União Europeia. Convocado pelo Antarsya e outras organizações que não integram o governo Syriza, ela deve ter tido, no seu auge, 5 mil pessoas.

Eram 5 mil ativistas muito disciplinados. Porém incomparavelmente menos organizados que a imensa coluna do KKE, que passava a poucos metros dali. Mas me dedicarei a escrever mais sobre isso amanhã pela manhã. Depois de 15 horas trancado num avião e outras 15 horas de voltas por Atenas para me organizar e acompanhar as coisas, preciso recarregar minhas baterias.

Pretendo, a partir de agora, atualizá-los diariamente sobre o que vem ocorrendo por aqui. Amanhã, às 19h30, está marcado o grande ato da esquerda. Espero, até lá, ter conseguido lhes contar um pouco mais sobre a curiosa dinâmica dos partidos de esquerda que testemunhei hoje à noite.

Até lá!

LEIA MAIS
Grécia: Todos às ruas em defesa do NÃO no referendo!