Lançamento da "Frente Parlamentar pelas Diretas Já". Foto Agência PT
Redação

Júlio Anselmo e Israel Luz, da Juventude do PSTU

Para barrar as reformas é preciso derrubar Temer. Esta é a tarefa fundamental colocada para os trabalhadores. O governo está cada dia mais suspenso no ar e o regime democrático burguês vai se mostrando cada vez mais questionado pelos trabalhadores.

Com este cenário se abriu uma discussão na sociedade sobre a sucessão de Temer. Grande parte da burguesia defende eleger um novo presidente pelo Congresso, variando qual seria o nome proposto. Mas o fato é que há probabilidades de Rodrigo Maia (DEM-RJ) assumir a presidência num cenário de queda de Temer.

Precisamos rejeitar qualquer tentativa de eleição pelo Congresso corrupto, ou de que  Maia assuma quando Temer cair. Mas aqui queremos fundamentar nossa polêmica com a política de uma parcela da esquerda que está chamando “diretas já” e apresentar a proposta de “eleições gerais”.

CUT e CTB, PT e o PcdoB, dizem que estão pelo Fora Temer, mas na prática não é bem assim. Veja-se a dificuldade para que as grandes centrais marcassem as datas da Greve Geral e mesmo fizessem dela uma data de resistência ativa da classe.  E também as declarações de dirigentes do PT e PCdoB a favor de negociar com PSDB e outros uma “saída” para a crise.

Temer hoje, como Dilma ontem, não tem apoio da população por uma razão simples: as retiradas de direitos e a crise econômica são uma combinação cada vez mais brutal para quem vive do trabalho. Ao mesmo tempo, as denúncias de corrupção envolvendo o presidente, bem como o descontrole da Lava-Jato somam elementos imponderáveis nesse quadro.

Nesse sentido, a crise política já se tornou um problema para as próprias instituições de nosso país. Em outras palavras, o sistema político dos ricos está na sua maior crise desde a redemocratização.

Para o campo hoje formado por PT, PCdoB, MTST e PSOL isso é um problema a ser resolvido. Como eles mesmos têm declarado, é preciso dar nova legitimidade à democracia. Naturalmente, ninguém acha que existe hoje uma democracia que não seja a burguesa, da Odebrecht e dos bancos. Portanto, o essencial para eles é estabilizar o país.

A saída operária e popular para a crise
Além de derrubar Temer, temos defendido fazer o mesmo com o Congresso corrupto. E mais: buscamos impulsionar nos bairros e locais de trabalho comitês de luta e mobilização. Ao mesmo tempo, queremos debater com cada ativista que é necessário um poder dos trabalhadores, oposto ao poder da minoria rica e branca do país. E que os comitês podem ser o embrião disso: de uma democracia de base, popular e operária, construída na vida real da classe.

Para nós, só os trabalhadores no poder sem patrões e corruptos, e que supere esta democracia dos ricos, podem garantir o fim dos ataques aos nossos direitos, salários dignos, emprego, moradia, terra, transporte decente, educação e saúde públicas de qualidade. Através de medidas como a expropriação, estatização, e colocando sob controle dos seus funcionários, as empresas corruptas (JBS, Odebrecht etc), ou ainda a prisão e confisco de todos os bens de corruptos e corruptores e a suspensão do pagamento da dívida aos banqueiros.

Michel Temer e Rodrigo Maia. Foto Agência Brasil

 “Diretas já” está a serviço de qual estratégia?
A saída estratégica, para nós, é através das mobilizações, por fora da democracia dos ricos, sem alianças com a burguesia e com um programa socialista de ruptura com o capitalismo. PT, PCdoB e MTST não têm acordo com esta estratégia. O PSOL também não – caso se tenha dúvida basta lembrar que este partido já fez inúmeras vezes a aposta na democracia burguesa, sendo o último caso o apoio dado ao governo do Syriza, que hoje aplica na Grécia uma política econômica que não deixa nada a dever a de Temer.

Por isso, tentam transformar a luta pelo Fora Temer em uma luta pela regeneração da democracia, pela defesa do Estado Democrático de Direito, e se limitam a apresentar um novo governo de “esquerda” eleito na democracia dos ricos como solução. Governo este que deverá invariavelmente se aliar com setores da burguesia e que não há nenhum garantia de que não irá atacar os trabalhadores.

É nítido que um governo do PT, PMDB ou PSDB não pode atender as necessidades populares, como as que apontamos acima. Por isso é um crime político apostar na estabilização pela via das eleições.

Então, a questão fundamental da polêmica com as “Diretas Já” está inserida neste contexto. Esta palavra-de-ordem, como a estão utilizando, está a serviço da estratégia do PT de manutenção da democracia burguesa quando este regime está se esfacelando. Nada tem a ver com o papel da mobilização por eleições diretas no cenário da queda da ditadura que, embora fosse uma bandeira democrática, era consequência natural do processo político de queda do regime.

É obvio que, diante da queda do Temer e da iminência deste Congresso corrupto eleger o novo presidente, e com os trabalhadores ainda não suficientemente organizados para tomar o poder, defendemos as eleições gerais com novas regras. Mas aqui há duas diferenças.

Primeiro, fazemos isso sem depositar nenhuma expectativa de que isso vá mudar algo. Mesmo defendendo eleições gerais, denunciamos o regime democrático burguês, afirmando que o voto nas urnas não mudam nada, ao mesmo tempo que apontamos sem parar que esta democracia existente é contra os trabalhadores, os negros, as mulheres e as LGBT’s.

Segundo, fazemos isso, portanto, com o objetivo de aprofundar a crise do regime democrático. Para deixar a burguesia mais atônita, para aprofundar o desgaste da democracia burguesa na consciência dos trabalhadores, para aprofundar as mobilizações e não para aprisioná-las nas urnas.

Ou seja, diante da possibilidade de eleição pelo congresso, o problema não é exigir que o povo vote, mas sim com qual política fazemos isso, a serviço do que apresentamos esta tática.

Hoje, defender “Diretas Já” sem denunciar o regime, apresentando a eleição burguesa como solução dos nossos problemas, retomando o derrotado projeto petista de aliança com a burguesia e programa burguês, é enganar os trabalhadores, equivale a uma traição.

O resumo da polêmica sobre a saída para o país é: auxiliar o PT a formar um novo campo de conciliação de classe que sustente o sistema político ou lutar desde já para que os trabalhadores se livrem de vez das direções tradicionais e trilhem caminho próprio rumo a um governo seu?