Mobilizações, porém, não terminaram e ainda ameaçam governo SarkozyApós nove dias de uma grande greve que balançou a França, as direções sindicais ligadas ao Partido Socialista e ao Partido Comunista Francês conseguiram, nesse dia 22, impor a suspensão da paralisação. Ao lado da imprensa burguesa, que atacou e criminalizou o movimento desde o início, as direções das centrais e principais sindicatos do país, com a CGT à frente, orientaram o término da greve em troca da abertura de negociações com o governo Sarkozy. Desta forma, grande parte das assembléias aprovaram a suspensão da greve.

A paralisação teve início na noite de 13 de novembro e parou grande parte dos trens da SNCF e dos metrôs e ônibus da estatal RATP, contra os ataques de Sarkozy á Previdência dos servidores. A reforma prevê o fim do regime especial de aposentadoria que certos setores do serviço público têm direito. Tal regime permite a aposentadoria a partir dos 37,5 anos de contribuição. O projeto de Sarkozy amplia esse tempo para 40 anos. A reforma atingiria cerca de um milhão e meio de pessoas.

O presidente francês de ultra-direita esperava aproveitar sua grande popularidade e impor a reforma logo no início de seu mandato. Além do ataque ao regime especial previdenciário, Sarkozy também quer impor um pacote de medidas neoliberais, como a drástica redução do quadro de funcionários públicos e a ampliação do arrocho salarial dos servidores. Em 2007, o governo francês concedeu apenas 0,8% de reajuste a uma categoria que sofre 6% de defasagem desde 2000.

Trabalhadores e estudantes juntos
Tais ataques causaram indignação nos trabalhadores do setor público. A greve, encabeçada pelos funcionários dos transportes e gás, praticamente paralisou o país. As mobilizações contaram ainda com o apoio dos estudantes universitários, que enfrentam a chamada “Lei Pecresse”, que, assim como a reforma Universitária no Brasil, avança na privatização das universidades.

Os estudantes bloquearam a entrada de diversos campi e engrossaram as manifestações de rua dos trabalhadores. O movimento teve seu auge no último dia 20, quando diversas outras categorias paralisaram suas atividades e foram às ruas por “salário, emprego e em defesa do serviço público”. Professores, trabalhadores dos correios, médicos e demais profissionais da saúde se incorporaram ao movimento. Estima-se que tenha havido 148 manifestações em todo o país, reunindo ao todo perto de 1 milhão de pessoas.

Muitos compararam a greve com as grandes mobilizações em 1995 ou em 2003, quando o então presidente Jacques Chirac tentou impor essa mesma reforma. Os trabalhadores conseguiram derrotar o governo, que permaneceu praticamente paralisado até seu término.

Traição
No entanto, apesar das mobilizações massivas contra o governo Sarkozy, as direções sindicais aceitaram impor o fim da greve em troca da negociação de migalhas com o governo e as direções das estatais. O primeiro-ministro, François Fillon, elogiou publicamente a “responsabilidade” dos líderes sindicais.

O Partido Comunista Francês chegou a divulgar uma declaração, antes mesmo do fim da greve, em que considerava uma “primeira vitória” o fato do “governo ter encontrado o caminho de uma verdadeira negociação”. Já o Partido Socialista declarou que não era contra a reforma, mas a maneira como Sarkozy a encaminhava.

O governo, por outro lado, já sinalizou claramente que não recuará dos ataques e limita-se a negociar medidas rebaixadas, como abono e compensações. Além disso, a intenção do governo francês é recrudescer ainda mais as regras para a aposentadoria no setor público, e este primeiro ataque pode ser o prenúncio de um ataque geral à Previdência dos franceses.

Trabalhadores ainda não estão derrotados
Apesar dessa manobra, os trabalhadores ainda não estão derrotados. O máximo que as direções dos sindicatos conseguiram negociar foi a suspensão da greve até o término do prazo para as “negociações”. Na estatal que controla as ferrovias, a SNCF, as negociações vão até o dia 18 de dezembro. Na RATP, até o dia 13. Os trabalhadores aprovaram indicativo de retomada da greve caso o governo não recue dos ataques.

Os estudantes, por outro lado, vem mantendo a mobilização contra a reforma. Nesse dia 23, os alunos fecharam a entrada da tradicional universidade Sorbonne, forçando a suspensão das aulas.

Exemplos e lições
As fortes mobilizações que fizeram a França tremer por quase dez dias foram um verdadeiro exemplo de mobilização. A unidade entre trabalhadores e estudantes apontou o caminho da luta contra as reformas, inclusive contra as reformas Universitárias e da Previdência que o governo Lula prepara no Brasil.

Porém, por outro lado, a traição das direções também desponta como um grave alerta à luta contra as reformas aqui. Sem uma forte direção com influência de massas, de luta e desatrelada ao governo e ao Estado, toda a mobilização pode ser em vão. Coloca-se na ordem do dia, portanto, o fortalecimento da Conlutas como alternativa de luta, assim como o avanço na construção de uma alternativa unitária de mobilização com os setores combativos.