Nesta quarta, dia 21, já existia uma orientação nacional da direção do Comando de Negociação da greve dos Correios, dirigido pela Articulação (PT) e pelo PCdoB, para que a greve fosse suspensa. Nas assembléias daquele dia, 10 dos 29 sindicatos em greve do país aprovaram o retorno ao trabalho, sendo que entre eles estavam importantes centros, como Brasília e Rio de Janeiro.

No dia seguinte, as categorias dos outros 19 sindicatos foram vencidas pela imposição burocrática da direção governista. Esses setores ainda resistiam às direções, mas viram que a negociação estava sendo feita por cima e sentiram nas assembléias todo o peso do aparato que a direção jogou para que a greve tivesse fim.

Em São Paulo, a votação foi dividida, mas não havia espaço para que as divergências se expressassem no carro de som. Ezequiel Filho, militante da Conlutas e do PSTU, conta que “eles impuseram sua posição de maneira autoritária e burocrática. Levaram até ‘bate-paus´ para impedir que a base falasse no microfone. A direção fez várias intervenções, ameaçando que se a greve se mantivesse perderíamos direitos, que o TST tomaria medidas contra a categoria e que não tínhamos chances. A Oposição só teve direito a uma fala”.

Mesmo com todo o peso do aparato contra a greve, a suspensão só foi aprovada em São Paulo numa votação bastante dividida, com 60% dos votos. “Muitos votaram nisso por não verem perspectivas de luta por causa das direções”, segundo Ezequiel. É provável que esse sentimento também tenha influenciado os trabalhadores dos Correios no restante do país.

Golpe
A proposta rebaixada do presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ministro Vantuil Abdala, foi rejeitada pela maioria da categoria. A proposta previa 8,5% de reajuste salarial a partir de 1º de agosto, 3,61% em fevereiro de 2006, abono de R$ 800 e compensação dos dias parados.

A direção da ECT se aproveitou disso para recuar aos termos iniciais de negociação, oferecendo somente reajuste de 6,57% (IPCA) e abono salarial de R$ 400.

Qualquer que seja o julgamento dos dissídios, a categoria não terá grandes ganhos devido à ação traidora das direções. O Comando fez questão de negociar tudo direto no TST com o ministro, sem ouvir a categoria.

A greve dos Correios é uma lição para os trabalhadores, pois mostra que essa direção não respeita a vontade da categoria e tem uma clara política de conciliação com o governo. Por outro lado, a Oposição, ligada à Conlutas, vem se fortalecendo como alternativa e mostrando que para obter vitórias reais, os trabalhadores precisam enfrentar o governo e os patrões.