Trabalhadores revoltados mostraram notas de dinheiro aos diretores, em repúdio à manobraNestas quarta e quinta-feira, 28 e 29 de março, foram realizadas assembleias para que os trabalhadores da Volkswagen de Taubaté e de São Bernardo do Campo decidissem sobre a proposta de reestruturação de investimentos da empresa. A proposta foi apelidada por parte dos trabalhadores de “pacote de maldades”, pois atende apenas aos interesses da empresa, garantindo ainda mais lucros.

O pacote foi dado como aprovado pelos sindicatos de metalúrgicos do ABC e de Taubaté, apesar de terem perdido a assembleia com o pessoal do segundo turno em Taubaté e de, no mínimo, ter sido dividida a votação no ABC. Houve extremo descontentamento dos trabalhadores e ameaças por parte da empresa.

Direção dos sindicatos e CUT desrespeitam democracia
A Volks e o sindicato de Taubaté fizeram uma operação de guerra e de ameaças para reverter o resultado da assembleia no primeiro e no terceiro turno, conseguindo, então, aprovar a proposta. Em São Bernardo do Campo, a empresa convocou a chefia, os mensalistas e os terceirizados para votar pela aprovação do pacote. No entanto, os trabalhadores da produção vaiaram a proposta do início ao fim. Os trabalhadores afirmam que a maioria dos votos foi contrária à proposta. Essa também foi a impressão visual da votação. Porém o sindicato ignorou a visível divisão da assembleia e declarou o acordo como aprovado.

Esse foi um ataque não só da empresa aos direitos e salários, mas também um ataque à democracia operária novamente. Em 2006, outro pacote foi à votação e, abaixo de vaias, o então presidente do sindicato do ABC, José Lopez Feijóo, passou por cima da decisão dos trabalhadores e aprovou uma proposta claramente rejeitada.

Ao ser anunciada a aprovação nesta quinta-feira, muitos trabalhadores gritavam de indignação, quase indo a confrontos físicos. Muitos mostravam notas de dinheiro enquanto manifestavam sua revolta com a proposta e com a forma como foi encaminhada a votação. Os metalúrgicos entraram indignados para seus setores, e o debate prosseguiu intenso no interior da fábrica.

Demissões, terceirizações e banco de horas
A Volks fez uma proposta de acordo que mais parece uma grande ameaça. A empresa diz aos trabalhadores que, caso o pacote não seja aprovado, terá de demitir. Mas se a proposta for aprovada, também haverá demissões. Que vantagens os trabalhadores levam?

O acordo inclui terceirização de mais de mil postos de trabalho e demissão de trabalhadores com o Plano de Demissões Voluntárias (PDV). Isso não garante que não serão demitidos aqueles que não aderirem ao PDV, já que o comentário é que a Volks tem como objetivo chegar a 3.800 demissões. Além disso, a montadora propõe pré-definir os reajustes salariais e a PLR até 2016 e congelar o piso salarial. As propostas de PLR, abono e salários são inferiores àquelas conquistadas onde houve luta dos trabalhadores nas campanhas salariais neste ano. É realmente um “pacote de maldades”.

Volks nunca lucrou tanto
A montadora vive um momento muito positivo de lucros e vendas. Em 2011, registrou lucro recorde de R$ 37,18 bilhões, o dobro de 2010, quando lucrou R$ 16,49 bilhões. Desse lucro, porém, a maior parte vem da produção na América Latina, graças à maior exploração dos trabalhadores e os inúmeros incentivos dos governos, como o governo de Dilma Rousseff, que reduziu o IPI das montadoras e concede empréstimos impagáveis à empresa via BNDES. A Volks, dessa forma, compensa o lucro que perde na Europa, que vive uma grave crise, e manda todo o lucro que ganha superexplorando os trabalhadores brasileiros para a sua matriz na Alemanha. As montadoras enviaram 36% a mais dos lucros pra suas matrizes no exterior em 2011.

Os dados dos lucros da empresa mostram que não há nenhuma crise que justifique demissões e ataques. No jornal que a Volks distribuiu aos trabalhadores, nesta quinta, não deixa dúvidas. A empresa diz que é necessário reduzir gastos com salários para poder competir melhor, ou seja, piorar salários e condições de trabalho para garantir sua expansão e lucros recordes.

Dilma tem de governar para os trabalhadores
Se as montadoras e multinacionais são tão rentáveis aqui, por que precisam de redução de impostos, empréstimos do BNDES e acordos como os negociados com os sindicatos do ABC e Taubaté? Não há justificativa para tamanho ataque aos trabalhadores.

Não há nada que justifique as concessões de impostos e empréstimos para empresas que demitem covardemente os trabalhadores. Ao contrário, temos de exigir que Dilma governe realmente para os trabalhadores e garanta nossos empregos e nossas conquistas, que suspenda os empréstimos e a redução de impostos imediatamente, exigindo que as empresas parem de fazer ataques aos trabalhadores brasileiros.

Sindicatos do ABC e de Taubaté em parceria com a Volks
Na semana passada, os sindicatos fizeram assembleias em Taubaté e em São Bernardo do Campo para defender o pacote da Volks. Os sindicalistas falaram que chegariam a uma boa proposta e que o pacote era determinante para manter os empregos nas regiões. Em nenhum momento defenderam a resistência contra os ataques, apesar da exigência, por parte dos trabalhadores, para organizar a luta. Pelo contrário, apresentaram a proposta como a melhor possível e, durante esta semana, tentaram convencer os trabalhadores a aceitá-la incondicionalmente.

Os sindicatos de metalúrgicos do ABC e de Taubaté escolheram o lado da milionária multinacional Volkswagen. Contudo, deveriam agir como representantes dos trabalhadores, lutando contra as demissões e terceirizações que só fazem aumentar a exploração da nossa classe, que só servem para aumentar mais e mais os lucros das montadoras.

Devemos tirar pelo menos três lições deste episódio. A primeira é que as grandes multinacionais querem recuperar, no Brasil, o lucro que estão perdendo na Europa por conta da crise, fazendo com que os trabalhadores brasileiros paguem por ela com verdadeiros planos de austeridade mascarados de políticas de investimentos, à custa de sangue e suor dos trabalhadores. Outra lição é que esse fato demonstra os rumos que toma a CUT em nosso país, oposto às lutas que a fundaram na década de 1980, justamente no ABC, onde hoje ajudaram os patrões a aplicar seu plano para melhor explorar os trabalhadores, mesmo que seja necessário passar por cima da democracia operária e da vontade dos trabalhadores na base.

Mas não foi um dia marcado apenas pelos ataques dos patrões. Foi um dia em que os metalúrgicos do ABC e de Taubaté mostraram que não caíram na conversa da empresa e do sindicato. Embora tenha sido uma resistência sufocada pela pressão do patrão, pelo medo do desemprego e pela parceria do sindicato com a Volks, foi uma amostra de que os trabalhadores não estão dispostos a aceitar tudo, nos apontando a última lição: que precisamos construir uma alternativa de oposição a esses sindicatos que fortaleça os trabalhadores ao invés de enfraquecê-los. Assim, eles vão lutar, novamente, como fizeram na década de 80, enfrentando os governos e os patrões sem tréguas e sem vacilação, superando suas direções tradicionais para garantir a democracia operária contra os exploradores e seus parceiros e demonstrando todo o poder que tem a classe operária.