Congresso Nacional do PSOL não veta coligações com partidos burgueses e governistas e transfere decisão para o Diretório NacionalO PSOL acaba de realizar seu Congresso Nacional, onde as teses majoritárias oscilaram entre aquelas que já assumiram, de cara, a proposta de alianças com setores burgueses nas próximas eleições e outras que, admitindo esta hipótese como correta, apresentam a proposta de transferir esta decisão para o Diretório Nacional ou para uma futura convenção eleitoral.

Acabou prevalecendo, segundo informes oficiais do próprio congresso, a decisão de admitir a possibilidade das coligações com partidos burgueses e partidos governistas, mas transferindo a decisão final sobre o assunto para o Diretório Nacional. Independentemente da resolução formal do Congresso, o que está em curso é o aprofundamento da linha já aplicada parcialmente em 2008 e 2010.

Infelizmente, a esmagadora maioria da direção nacional do PSOL propõe o caminho da chamada ampliação das alianças políticas com partidos burgueses ou governistas, como PV, PSB, PTB e PCdoB. Assim, busca repetir o mesmo caminho que o PT trilhou no final dos anos 1980 e na década de 90, ou seja, adaptar seu programa e estratégia às alianças com partidos burgueses, com o argumento que esta é a única forma para facilitar o aumento das bancadas e a chegada ao poder municipal. A própria trajetória do PT já demonstra onde termina, inevitavelmente, esta flexibilização do princípio da independência política da classe trabalhadora diante da burguesia e de seus partidos.

Em 2008, dos 25 vereadores eleitos pelo PSOL, nada menos do que 15 conseguiram a sua eleição em alianças com partidos burgueses e governistas. Depois disso, alguns destes vereadores foram expulsos, principalmente das pequenas cidades. Mas, nas cidades mais importantes, onde os mandatos eram controlados por correntes majoritárias do PSOL, a direção nacional avalizou a eleição de vereadores aliados com partidos burgueses. Como em Macapá (AP), em aliança com PSB e PMN, e em Porto Alegre (RS), com o PV.

Outra triste lembrança das eleições de 2008 foi o fato de o PSOL de Porto Alegre (RS) ter aceito financiamento de grandes empresas, como a Gerdau, para a campanha de Luciana Genro à prefeitura.

Em 2010, vimos a iniciativa da maioria da direção do PSOL em buscar a aliança com a candidatura presidencial de Marina Silva, naquele momento no PV. Esta aliança acabou não se concretizando, depois de negociações públicas que se esticaram até o ano das eleições, pois esbarrou na aproximação do PV com partidos da oposição de direita, especialmente com a aliança de Fernando Gabeira (PV) e o PSDB, para as eleições da prefeitura do Rio de Janeiro.

Agora, em 2011, nas discussões preparatórias para eleições municipais, ao contrário do que esperavam os militantes de base do PSOL e algumas das suas correntes mais à esquerda, não estamos vendo uma revisão do caminho equivocado de 2008 e 2010, mas, sim, a intensificação da política de alianças com partidos burgueses.

O Congresso do PSOL no Rio de Janeiro aprovou a candidatura a prefeito de Marcelo Freixo e, por ampla maioria de votos, a aliança do PSOL com o PV e com o mesmo Gabeira, que deve se candidatar a vereador. Ou seja, o mesmo Gabeira que em 2010 se aliou com o PSDB pode estar agora lado a lado com o PSOL. Além da decisão da aliança com o PV, o Congresso vetou possibilidade de aliança na chapa proporcional com os outros partidos, demonstrando mais uma vez o hegemonismo do PSOL diante dos outros partidos da esquerda, como o PSTU e o PCB.

O Amapá viveu a polêmica eleição do senador Randolfe Rodrigues em 2010, em aliança pública e informal com o PTB e outros partidos burgueses. Antes, em 2008, já havia ocorrido a eleição do vereador Clécio Luis, em coligação com o PSB. Agora, o PSOL, por exigência de Randolfe, discute alianças ainda mais amplas envolvendo partidos governistas como o próprio PT e o PCdoB, além de PTB, PTC e outros partidos burgueses, para tentar viabilizar sua eleição a prefeito.

Infelizmente, esta mesma situação ameaça se repetir em outras capitais e cidades importantes, como Belém (PA), onde a coligação em torno da candidatura do deputado estadual Edmilson Rodrigues a prefeitura pode incluir o PCdoB.

PSTU manterá chamado pela Frente de Esquerda e Socialista
Nosso partido seguirá nestes primeiros meses chamando o PSOL, o PCB e o conjunto dos movimentos sociais combativos do país a construir conjuntamente uma Frente de Esquerda e Socialista nas principais cidades.

Uma frente que seja realmente independente política e financeiramente da burguesia, que não tenha financiamento de empresas e empresários, que seja realmente de oposição de esquerda a todos os governos e que seja construída de forma democrática, respeitando o peso social dos partidos e organizações envolvidas.

Neste sentido, têm sido importante os exemplos positivos de cidades como Aracaju e Natal, onde estão sendo realizadas discussões programáticas iniciais entre os partidos, organizações e ativistas. Nestas cidades, ainda que existam diferenças políticas, já se rejeitou toda e qualquer aliança com partidos burgueses, em sentido oposto ao caminho adotado, infelizmente, pela maioria da direção nacional do PSOL.

Renovamos o chamado a que a direção nacional do PSOL e as direções deste partido, pelo menos no Rio de Janeiro e no Amapá, a que revejam o caminho escolhido das alianças com os partidos burgueses, para que se possa retomar as discussões sobre a construção de uma frente de esquerda e socialista na maioria das cidades.

Mas, queremos deixar público que, onde este caminho for adotado pelo PSOL, o PSTU não participará destas alianças de conciliação de classe, e discutirá com os movimentos sociais combativos e o PCB a possibilidade de uma frente. Ou apresentará diretamente suas candidaturas nas eleições para seguir defendendo o princípio da independência política dos trabalhadores e de suas organizações.
Post author André Freire, da Direção Nacional do PSTU
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