Candidato do PSTU condena a ligação Lula-Medeiros e Ciro-Paulinho
O candidato ao governo do Estado pelo PSTU, Dirceu Travesso, condenou ontem, em visita a Bauru, a aliança política que aproximou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o PL de Luiz Antonio Medeiros, ex-presidente da Força Sindical, em nível nacional. Travesso refere-se à entidade como “Farça Sindical” e condena que a dobradinha Ciro Gomes (PPS) e Paulinho Pereira (PTB) – também ex-presidente do sindicato – representa o elo da candidatura à presidente da República com os patrões e a prática do sindicalismo classificado de pelego no País. Leia os principais trechos da entrevista:

Jornal da Cidade – O movimento estudantil no País deve se associar a candidaturas?
Dirceu Travesso – O movimento estudantil historicamente é um levante politizado de discussão e foi decisivo no combate da ditadura militar, no processo de clandestinidade da União Nacional dos Estudantes (UNE) e em todo o processo de prisão de seus dirigentes. Hoje, é absolutamente normal que os organismos sociais mobilizados discutam suas questões a partir da política nacional. Porque não há possibilidade de resolver nenhum dos problemas do País, seja no campo estudantil, sindical, ou popular se você não discutir o projeto nacional. Agora, a aproximação da união estadual dos estudantes do Ciro Gomes é uma contradição. Porque o Ciro era da ditadura, veio das oligarquias do Nordeste e está em uma aliança do sindicalismo patronal, que não representa os trabalhadores. Uma aproximação do movimento sindical com o Ciro é uma demonstração de absoluta incoerência. Apesar da tentativa do Ciro de tentar se afirmar como independente, ele representa este mesmo projeto que vive o País. A história dele e o beijo na mão do ACM (Antônio Carlos Magalhães) são símbolos de sua própria identidade. O Ciro só foi o prefeito mais novo, o governador mais novo e tudo mais porque foi apoiado pela oligarquia do Nordeste.

JC – O projeto neoliberal desmobilizou os movimentos sociais como o estudantil no País?
Travesso – A ofensiva do projeto neoliberal desde o início do governo FHC, que ganhou a opinião pública e a grande imprensa, gerou dificuldades para vários movimentos sociais e não só para o movimento estudantil. Até as greves ficaram dificultadas. Mas, ainda assim, temos movimentos organizados contra a Alca, a favor da reforma agrária, as privatizações, o sucateamento das universidades.

JC – O vice do Ciro, Paulinho Pereira, vem pregando a flexibilização da jornada de trabalho. Qual é a posição do PSTU?
Travesso – Nós defendemos redução de jornada sem redução de salário. Não falamos em banco de horas. Essas coisas são defendidas pela Farça Sindical que está com o Ciro Gomes. Eles defendem a mesma lógica dos empresários, que é reduzir os direitos dos trabalhadores. Na lógica deles, esses direitos engessam a economia. Porque é mais custo e menos lucro e eles acabaram, com isso. Depois querem discutir o combate à criminalidade e crise social com violência descolado do processo de miséria, de desemprego e de educação que forma semi-analfabetos. Isso é conseqüência de uma política que coloca o trabalhador pressionado contra os interesses dos banqueiros, das multinacionais e dos latifundiários no País. Este é o governo Fernando Henrique e (Geraldo) Alckmin. E o (Paulo) Maluf significa pior que isso. Portanto, nós rompemos com esse programa. O Paulinho representa o sindicalismo dos patrões junto com a oligarquia do Ciro. E o Lula, infelizmente, se distanciou das causas sociais para se aproximar do Medeiros que também era da Farça Sindical. É a aliança pelega das eleições, uma que fez leasign com o discurso de esqueeda, a do Lula, e a outra que tenta se posar de esquerda, mas representa a oligarquia e a direita.

JC – Não tem mudança com os candidatos que lideram as pesquisas?
Travesso – Não há possibilidade de mudar nada no País, nada, com esses nomes e grupos colocados. Se nós discutirmos qualquer tema, educação, saúde, segurança, transportes, o que quiser colocar, em qualquer um deles a eleição será um festival de mentiras, de promessas, de candidatos que manipulam o eleitorado despolitizado com hipocrisia e discurso de bonzinho. Como pode ser transformada essa realidade com este projeto? Ou rompe, ou não há mudança. De onde sai o dinheiro? Não tem mágica e eles dizem que tem, mas é mentira. Esse País até hoje privilegiou transferência de renda do povo para pagar juros de dívida. É o discurso do superávit fiscal, lei de responsabilidade fiscal. É um ordenamento político, jurídico e institucional organizado para os juros altos e a pressão cada vez maior sobre cortes no Orçamento do País para pagar juros da dívida. E isso significa sacrifício ano a ano da população, porque o governo não tem como implementar políticas de mudança cada vez com menos dinheiro. Além disso, o dinheiro drena para os banqueiros.

JC – Para o PSTU, a saída é deixar de pagar a dívida?
Travesso – É claro. Deixar de pagar a dívida externa e interna. A gente fala que a dívida é problema do governo federal, mas é dos Estados também. O Estado de São Paulo tinha uma dívida de R$ 32 bilhões dependendo dos critérios da dívida. O número mais alto é R$ 32 bilhões quando o Covas assumiu, em 1994. Eles pagaram algo na média de R$ 5 bilhões por ano. Daria algo perto de R$ 40 bilhões. Além disso, teve o programa de privatização que rendeu R$ 32 bilhões. O Estado pagou R$ 40 bilhões, transferiu um patrimônio de R$ 32 bilhões e, oito anos depois, ainda deve R$ 94 bilhões. Essa dívida já foi paga inúmeras vezes.

JC – Mas onde há espaço prático para romper com o modelo atual sem causar transtornos ainda maiores para o País, como a falta de dólar para honrar seus compromissos?
Travesso – O Brasil tem falta de dólar para pagar a dívida e nós defendemos não pagar para romper com esse sistema. Para ter arroz, feijão, escola, segurança e saúde não precisa de mais dólar. É só deixar de pagar a dívida. E os grandes grupos privados nacionais que captaram dinheiro mais barato lá fora porque a taxa de juros aqui estava muito alta, como continua? E agora eles têm o crescimento do endividamento por causa do câmbio. Mas isso é problema deles e não do governo.

JC – Mas é simplista assim, romper com o FMI e pronto?
Travesso – Sim, sabemos que será difícil e temos clareza disso. Agora, o que nós estamos dizendo é que mais difícil é manter esse modelo. O País está sendo quebrado com esse modelo. Estão pagando juros da dívida com a fome do povo e isso não há como continuar. As empresas estão falindo, os índices de desemprego são enormes e a convulsão social está em alta. É claro que não é fácil romper, mas estamos indo para o buraco com esse modelo que só interessa para quem está ganhando muito dinheiro, e são poucos. Esses é que praticam a especulação e a pressão sobre o mercado. No início da década de 30 o Brasil deixou de pagar a dívida em um movimento muito parecido como este de agora. Era um liberalismo puro na economia que teve seu maior debate na quebra da bolsa de Nova York, em 1929. A disputa do grande capital tem que se dar pela luta. Não tem outro mecanismo. O mundo está ordenado para esse processo neoliberal liderado pelas multinacionais americanas que querem dominar nossos mercados através da Alca. E não se enganem com as multinacionais européias, que elas fazem o mesmo.

JC – Mas não é utopia política imaginar o Brasil exercendo queda de braço com os EUA?
Travesso – Acho que não será utopia se pensarmos na lógica de mobilização e de luta, a organização popular. O processo na América Latina, no Peru, Argentina, Paraguai está caminhando para essa mobilização, infelizmente em função de uma tragédia social. E o papel do PSTU é para discutir a falência desse modelo. Porque entendemos que o PT, infelizmente, abriu mão da discussão desse processo, de fustigar o povo, de chamar e colocar o dedo na ferida. As candidaturas do PSTU têm esse objetivo. Não acreditamos que esse processo se dê por outro lado a não ser por lutas sociais.

JC – Mas por que nossa sociedade parece adormecida frente a números de guerra civil em matéria de violência e índices absurdos em matéria de fome é miséria?
Travesso – Nós somos mantidos por um modelo eficiente de controle social formado pelo modelo econômico, social e de massa. Não é só o governo, é a grande imprensa e as telenovelas que ajudam a manter essa situação de aparente adormecimento social. Nenhum movimento de transformação social acontece da noite para o dia. O Maluf está aí por isso, ainda vive com suas mentiras. O Jader Barbalho, o ACM etc. Mas nós não vamos nos acomodar. O PSTU tem que desempenhar esse papel como um partido pequeno, minoritário, que sabe qual o seu tamanho, mas não abre mão desse papel. E o que dói mais é ouvir o (José) Genoíno dizer que para resolver violência é preciso colocar a Rota na rua. Nossa campanha está associada com a luta contra a Alca e o imperialismo americano por isso. E vamos difundir isso pelos bairros, pelas paróquias e perseguir essa transformação, ainda que ela demore para vir.