Dilma Roussef  e o PT venceram as eleições com 51,64% dos votos contra 48,36 % de Aécio Neves (PSDB). A apuração do 2º turno fechou ainda com 25,73% de votos nulos, brancos e abstenções. A eleição que terminou nesse domingo, 26, foi a mais polarizada do país desde 1989.

O que fez esta eleição tão diferente foi o enorme desejo de mudança que, desde junho de 2013, pulsa cada vez mais forte entre os trabalhadores, a juventude e os setores populares. 

Esse desejo se manifestou de maneira bastante deformada nas eleições, pois muitos votaram em Aécio (e antes em Marina) acreditando nas mentiras que o tucano dizia, ou simplesmente por vontade de dar um voto castigo no PT. Muitos outros votaram no PT para impedir um mal maior, a “volta da direita”, ou por medo de que as coisas pudessem ficar piores.

Governar com quem?
Depois da apuração dos votos, os discursos de Aécio e Dilma repetiam as palavras “conciliação” para superar uma “divisão do país”. O PSDB e a imprensa cobravam união, na prática, conclamando o PT a governar em acordo com eles.

No ato da vitória, Dilma começou agradecendo os partidos de sua coligação (lembremos que suas alianças vão do PMDB de Renan Calheiros, passando pelo PP de Paulo Maluf e chegam a Collor de Melo, hoje no PTB). Logo em seguida, falou em construir pontes e estendeu as mãos uma vez mais aos banqueiros e empresários, falando em diálogo com todos. Ou seja, a repetição dos 12 anos de governo do PT. Que mudança há nisso?

A classe trabalhadora e a juventude querem a redução da jornada sem redução dos salários; aumento real e substantivo dos salários, educação, saúde e transporte público de qualidade, o fim do Fator Previdenciário, o fim da especulação imobiliária, de aluguéis pela hora da morte e da falta de moradia digna, a reforma agrária; a desmilitarização das PM’s e o fim da repressão e criminalização dos movimentos sociais.

Nada disso é possível de ser garantido sem enfrentar banqueiros e grandes empresários; sem suspender o pagamento da dívida aos bancos, impedir as demissões e garantir a estabilidade no emprego, expropriar o agronegócio e o latifúndio, parar a remessa de lucros das multinacionais para o exterior, reestatizar as estatais privatizadas e estatizar o sistema financeiro.

País dividido, mas entre patrões e trabalhadores
Erram e agridem o povo trabalhador aqueles que pregam que a verdadeira divisão que existe no país é entre o Sudeste e os nordestinos. A verdadeira divisão existente no Brasil não é entre o Nordeste e Sudeste, ou entre São Paulo e o Nordeste, mas sim entre aqueles que trabalham, a maioria do povo, de um lado, e os banqueiros, empreiteiros e grandes empresários que dominam o Brasil de outro.  Aécio e Dilma escondem esta verdadeira divisão.  Aécio representa os ricos e governaria para eles se ganhasse. Mas Dilma e o PT também governam em acordo com eles e aplicam uma política econômica que tem como compromisso número um manter e ampliar os lucros dessa gente.

É por isto que as mudanças para o povo foram pequenas nestes 12 anos de governo, porque um punhado de capitalistas é beneficiado e se enriquece todos os dias com nossa exploração. Uma parcela da classe operária de São Paulo, que fundou o PT, está desiludida e em ruptura com o PT.  Nestas eleições, o Partido dos Trabalhadores, além de ganhar por pouco, perdeu em regiões chaves como o ABC paulista, berço e antigo bastião do partido. Em São Bernardo, o candidato tucano ganhou  de 55% contra 44%, em Santo André a diferença foi ainda maior, 63% a 36%.

Muitos ainda votaram no PT, mesmo não o apoiando, para impedir uma vitória do PSDB, mas uma parcela grande e significativa ou votou Aécio ou votou nulo, ou simplesmente não votou. Basta ver que a votação de Dilma diminuiu muito em relação às últimas eleições. Em 2010, a então quase desconhecida sucessora de Lula vencia José Serra com 56% dos votos contra 43,9%, numa diferença que dava mais de 12 milhões de votos, quase quatro vezes mais que a vantagem que lhe garantiu a reeleição agora.

Estes trabalhadores que acabaram não votando em Dilma e escolheram Aécio não apoiam o programa neoliberal do PSDB, eles simplesmente querem mudança e estão fartos do PT.  

Ataques
Agora está chegando uma crise e os capitalistas, além de não quererem mudanças a favor do povo, vão querer aumentar a nossa exploração, retirar direitos para sobrar mais dinheiro para os bancos e também tornar a nossa mão-de-obra ainda mais barata, mais precarizada e flexível para que os empresários arrochem mais nossos salários e possam produzir mais pagando menos.  

E esse governo, com o apoio do PSDB e de Aécio, vai atacar nosso nível de vida, em nome da “pátria”, para garantir os lucros indecentes dos banqueiros, empreiteiras e multinacionais. Vem por aí aumento de tarifas, as demissões na indústria estão correndo soltas e ninguém ouviu nenhum anúncio de mudança concreta que nos favoreça.

O  PSTU defendeu o voto nulo no 2º turno por entendermos que esse gesto político indica a nossa insatisfação e aponta para o fortalecimento da luta dos trabalhadores após as eleições, ganhasse um ou ganhasse outro.

Agora eleita Dilma, nós do  PSTU, dizemos que somos oposição e refazemos o chamado para que organizemos a luta. Precisamos preparar as lutas contra o Governo Federal e dos estados (e também contra a patronal) pelas mudanças que queremos e para impedir qualquer retrocesso ou ataque às nossas condições de vida. São Paulo mesmo já começa a organizar a luta contra a falta d’água.

Nas lutas, a outra grande tarefa da classe trabalhadora é construir uma alternativa política própria, independente da burguesia, que possa unir verdadeiramente todos os trabalhadores, a juventude, o povo pobre e oprimido desse país contra os ricos de verdade, os banqueiros, empresários e estes partidos patronais, de direita e de oligarcas com os quais o PT governa.

Os pobres e os trabalhadores não são apenas os 51, 64% que votaram em Dilma, são a enorme maioria do Brasil. O problema é que o PT está aliado com uma parte dos 1% verdadeiramente ricos e governa para eles.

Não há como derrotar esse 1% sem que os trabalhadores se organizem e lutem de maneira independente dos patrões. E não há outra maneira de fazê-lo que não se enfrentando com os governos dos estados e com o Governo Federal.

 O governo do PT, de compromisso e aliança com a banqueirada,  com o agronegócio, com as multinacionais, com o empresariado, com Maluf, Collor, Kátia Abreu e um largo etc., com a repressão às lutas e aos lutadores, não fará as mudanças que necessitamos. Aqueles setores que seguem alentando que, depois de 12 anos de governos do PT,  este novo mandato está em disputa e pode “ir para a esquerda” desarmam a classe trabalhadora e alimentam uma ilusão que favorece a direita e até a patronal. A classe trabalhadora precisa retomar a vanguarda das lutas e o caminho da independência de classe.

Vamos à luta! As mudanças virão das ruas, das greves, da mobilização e organização da classe trabalhadora, da juventude e da maioria do povo pobre deste país.