Dilma Roussef durante evento da Bovespa em NY

Nos próximos meses será a vez de Serra e Marina Silva fazerem o juramento de fidelidade aos mercadosNesse dia 20 de maio a pré-candidata do PT, Dilma Roussef, viajou a Nova York para uma agenda com uma série de atividades eleitorais. Mas o que uma candidata à presidência do Brasil foi fazer nos EUA? Pedir votos certamente que não foi. Dilma, com o atual deputado e ex-ministro Antonio Palocci a tiracolo, foi falar a grandes investidores e empresários internacionais, reafirmando seu compromisso com a atual política econômica e reeditando um ritual cumprido por Lula oito anos antes.

Seguindo os passos de Lula
Em, 2002, durante a campanha eleitoral que daria a primeira presidência ao PT, o país vivia uma grave crise financeira, com o governo FHC recorrendo aos empréstimos do FMI, e reforçando os planos de ajuste e de arrocho para pagar em dia os juros das dívidas.

Com as eleições os mercados se agitavam e exigiam o compromisso dos candidatos de manter essa mesma política. FHC então se reuniu com os quatro principais candidatos na época: Lula (PT), Serra (PSDB), Ciro Gomes (então no PPS) e Garotinho (PMDB), fazendo com que cada um declarasse publicamente que manteria o acordo com o Fundo Monetário Internacional. Evidentemente, essas conversas tinham como alvo o favorito disparado na campanha: Lula.

O PT, àquela altura, já não assustava os donos do PIB, como em 1989 quando o então presidente da FIESP enxergou uma fuga de empresários caso Lula fosse eleito. Ainda assim, o candidato do PT procurou acalmar o mercado e lançou a famosa “Carta ao povo brasileiro”. O documento é, na verdade, uma carta ao sistema financeiro internacional, na qual Lula se compromete a não mudar os rumos da política econômica e “cumprir todos os contratos”. Significou um marco para o partido ao reafirmar seu compromisso ao neoliberalismo.

Uma vez eleito, Lula cumpriu sua promessa, radicalizou o arrocho fiscal e aumentou a meta de superávit primário. E ainda fez mais. Logo no primeiro ano de governo, Lula impôs a reforma da Previdência ao setor público, utilizando o velho discurso da Previdência quebrada, tão usado pelos tucanos. Para liderar o Banco Central, o escolhido foi ninguém menos que um banqueiro do Bank Boston, o então deputado tucano eleito por Goiás, Henrique Meirelles, recentemente homenageado em Nova York por sua longa folha de serviços prestados.

Acalmando os donos do dinheiro
Agora, é a vez de Dilma prestar seu juramento aos deus mercado. Na agenda de Dilma em Nova York, além da presença na premiação do presidente do Banco Central, houve um encontro fechado com investidores realizado pelo banco Itaú, além de uma palestra organizada pela Bovespa. Vários compromissos para se apresentar pessoalmente aos donos da banca e garantir ao sistema financeiro internacional que o atual rumo do país não sairá da rota.

Aos investidores, Dilma reafirmou seu compromisso com todos os eixos da política econômica de Lula, que por sua vez foi herdada de FHC. Isso significa: a “independência” do Banco Central, a política de juros altos e tudo o mais que isso implica. “Minha afirmação a eles é que o Brasil vai continuar crescendo com inclusão social, mobilidade social ascendente e, ao mesmo tempo, manterá a estabilidade econômica perseguindo o controle da inflação”, afirmou aos jornalistas.

Dilma Roussef ainda reivindicou a política econômica dos governos “nos últimos vinte anos”, num lance até aqui inédito, pelo menos nos discursos públicos do PT. Até agora o partido, após autocrítica ao assumir a presidência, reivindicava políticas do governo FHC como o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, embora na prática o PT implementasse de conjunto tudo o que os tucanos já haviam feito em seus oito anos de governo. “Os últimos vinte anos” reivindicados agora por Dilma inclui também toda o programa de privatização iniciado por Collor, assim como a abertura desenfreada da economia do país imposta pelo “caçador de marajás”.

A medida parece ter surtido efeito. Os investidores estão convencidos de que, para seus interesses, tanto faz ser eleito Dilma ou Serra. “Do ponto de vista internacional, a maior parte dos seguidores do assunto acha que as políticas vão continuar sob qualquer um dos candidatos”, declarou à imprensa o executivo Tom Glocer, da Thomson Reuters, uma empresa de consultoria financeira.

Preparando para o que vem aí
Nos próximos meses, será a vez de José Serra e Marina Silva cumprirem essa mesma agenda de Dilma. Ambos já foram convidados a conversar com investidores em Nova York. Alguém poderia perguntar, por que a ânsia em fazer os principais candidatos declararem seu compromisso ao mercado quando nem mesmo as candidaturas foram ainda oficializadas pelos partidos? A resposta para isso pode estar do outro lado do oceano. A grave crise fiscal que atinge praticamente todos os países da Europa, e os sucessivos pacotes de cortes nos salários e na Previdência prenunciam o que está por vir.

E, para os investidores não pode haver dúvida. É preciso ter certeza que não haverá hesitação na hora de sacrificar os salários ou as aposentadorias para manter a “credibilidade” do país, ou seja, o pagamento dos juros da dívida pública. E essa certeza, tanto Dilma, quanto Serra ou Marina, garantem.