Aos olhos do Capital, os dilemas para a crise atual são: a) retomar o crescimento econômico, b) estabilizar o sistema financeiro e c) administrar a dívida pública. A curto prazo, nenhum deles é possível.

O crescimento econômico nos países centrais não está sendo retomado porque a burguesia duvida de novos investimentos perante a crise política que se abre com as lutas dos trabalhadores. Os planos de austeridade também são em si mesmos, recessivos, por cortar em investimento público, salários e direitos. Ou seja, as medidas que viabilizaram a leve recuperação em 2010 são as mesmas que estão causando a recessão atual.

Não se trata de saber se a recessão irá começar no quarto trimestre de 2011, no primeiro de 2012 ou um pouco depois, mas qual a intensidade dela. A perspectiva para os próximos anos, caso se afirmem as políticas dos governos atuais, é de longas fases de baixo crescimento econômico, alternando com períodos de recessão, principalmente nos países centrais. E ainda segue aberta a possibilidade de uma nova depressão.

Vale lembrar que este cenário não significa imediatamente prejuízos para o Capital: ainda lhe resta apostar no mercado financeiro.

Novas turbulências financeiras
É justamente isto que os capitais têm feito: apostado na valorização dos ativos financeiros para garantir sua lucratividade. No entanto, como as finanças não criam riqueza nova, a valorização do capital financeiro depende da criação ou transferência constante de valor de outro setor. Antes da crise, os novos recursos foram garantidos pelo crescimento econômico e o endividamento público. Com a crise e a recessão, o endividamento público passou a cumprir este papel sozinho.

Os pacotes aos bancos não foram utilizados para abrir linhas de crédito para o setor produtivo. Estes recursos têm sido usados para aumentar ainda mais a especulação financeira, sempre com a possibilidade da formação de novas bolhas. Ou seja, as mesmas medidas que levaram à estabilização do mercado financeiro em 2010 contribuíram, junto com a crise da dívida pública, para as turbulências financeiras em 2011. Neste sentido, a perspectiva para 2012 é de aumento da instabilidade, com a possibilidade de formação novas crises financeiras e quebras de bancos na Zona do Euro e dos países europeus.

A cada vez que isso ocorrer, uma fuga de capitais para os investimentos considerados seguros vai provocar queda das bolsas no mundo todo, desvalorizando as ações das empresas e aprofundando ainda mais o quadro recessivo.

Ironicamente, uma regulação do mercado financeiro limitando-se apenas a conter a especulação para evitar uma nova crise financeira, só iria antecipá-la. O primeiro país que quiser apenas regular o mercado financeiro ao invés de estatizá-lo, será o primeiro a sofrer com a fuga de capitais. O reformismo, que sempre foi apresentado como realista pela social-democracia, é a proposta mais utópica das que estão colocadas à mesa.

Com baixo crescimento econômico e sobreacumulação de capital, a estabilidade financeira na Europa a curto prazo só pode ser conseguida por uma estatização do sistema financeiro sem indenização. É claro que isto não interessa ao capital. Sendo assim, seus esforços não têm sido para superar a crise a curto prazo, mas administrá-la por meio do caráter rentista do Estado. Visivelmente, isso está agravando a crise.

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