Neste momento, a candidatura de Lula registra uma tendência de crescimento nas pesquisas, ampliando a vantagem sobre Alckmin. Esse quadro sustenta-se
nas mentiras do programa eleitoral de Lula na TV, como o crescimento econômico e o aumento do emprego e da renda. Lula apresenta os resultados do crescimento como
uma de suas maiores realizações e diz que, graças a seu governo, o Brasil é “capaz de garantir o crescimento de forma sustentada e com força para resistir aos
solavancos externos”. Promete um longo e duradouro “ciclo de crescimento”. Também afirma que programas sociais compensatórios, como a Bolsa Família, diminuíram a desigualdade social. Para ele, sua reeleição é o bastante para os trabalhadores e o povo pobre. Nesta edição demonstraremos que a propaganda petista não passa de uma grande farsa. Quem faturou alto com o crescimento foram as grandes empresas e os bancos. Aos trabalhadores restaram apenas migalhas. As desigualdades não diminuíram e, caso Lula seja reeleito, os trabalhadores vão perder conquistas históricas.

Quem ganha com o governo Lula?

Neste governo, o lucro líquido das grandes empresas quase triplicou em comparação com o segundo mandato de FHC. De acordo com a consultoria Economática, a soma do lucro líquido das 193 empresas analisadas deu um salto nos últimos três anos e meio, de R$ 103,5 bilhões para R$ 271,6 bilhões.

O crescimento da economia não tem nada a ver com as “decisões estratégicas” de Lula. A economia cresce em todo o mundo – e não importa se o governo é de direita ou da “esquerda” social-democrata. Lula aproveita-se dessa situação para montar uma farsa, como se o crescimento fosse produto de suas decisões.

É bastante incerto que esse respiro da economia do planeta mantenha-se. O capitalismo funciona em ciclos de bons momentos e crise. Depois do crescimento atual, virá a recessão. Há vários indícios de que a economia norte-americana vem desacelerando (aumento dos déficits fiscal e comercial, fim do aumento dos preços dos imóveis etc). Caso os EUA entrem em crise, o mundo e a América Latina, em particular, serão arrastados ao fundo do poço.

O aumento na dependência
“Quando os EUA espirram o mundo fica gripado”. Essa conhecida frase é associada com freqüência ao Brasil e demonstra o nível de dependência de nossa economia. Tal vulnerabilidade aumentou muito nos últimos anos. Todo abalo na economia deles resulta na imediata queda das bolsas, e na subida do dólar e dos juros por aqui.
Lula diz em seu programa na TV que “o Brasil agora tem uma economia sólida” e que “acabou-se o tempo em que um leve resfriado nos mercados globalizados significava uma grave pneumonia no Brasil”. Nada mais falso.

O processo de dependência da economia brasileira deu um salto com FHC, que colocou em prática uma política de endividamento e aprofundou o vínculo com os mercados financeiros mundiais, resultando na crise econômica de 1998. Depois o governo adotou a política de pagar as dívidas à custa do povo.

Em vez de deter a sangria e promover geração de empregos e combate à miséria, Lula radicalizou esse esforço de pagamento da dívida. Já no início, o presidente nomeou para chefiar o Banco Central um banqueiro, Henrique Meirelles, ex-presidente do BankBoston. Depois aumentou o superávit primário, dinheiro retirado de áreas sociais para pagar juros. Também manteve as maiores taxas de juros do planeta.

O “bolsa banqueiro”
O governo vai gastar cerca de R$ 530 bilhões em juros das dívidas interna e externa – mais do que os dois governos de FHC (R$ 467 bilhões). Quase 90 vezes mais do que destinou à Bolsa Família no ano passado (R$ 5,5 bilhões), principal vedete da campanha eleitoral.

No último semestre de 2005 e no primeiro de 2006, o superávit primário correspondeu a 4,51% do PIB (Produto Interno Bruto) do período – acima da meta de 4,25% fixada com o FMI. Só em junho, o superávit ficou em R$ 10,4 bilhões, outro recorde. Nunca um governo da direita conseguiu tanto a favor dos banqueiros.
Como resultado dos juros altos, os bancos lucraram como nunca. Só nos últimos três anos, o lucro dos bancos aumentou 80,5%, chegando a R$ 57,6 bilhões. Um verdadeiro programa “bolsa banqueiro”.

Crescimento para quem?
O reajuste do salário mínimo para R$ 350 tem sido fartamente utilizado na campanha de Lula. Os dados do governo dizem que o mínimo teve um aumento de 25,7% durante a gestão petista. Uma derrota de goleada se comparado ao lucro de 80,5% dos bancos no mesmo período.

O aumento só ocorreu porque neste ano há eleição. Lula vinha sendo ainda pior que FHC em relação ao mínimo. Nos três primeiros anos de seu governo, o reajuste médio foi de 3,5%, enquanto nos oito anos do tucano foi de 4,5%.
O reajuste é insuficiente para atender as necessidades dos trabalhadores. E está bem longe da promessa de dobrar o mínimo, feita em 2002 por Lula – em torno de R$ 550.

Não houve elevação qualitativa dos salários. Em alguns casos, houve redução, como em São Paulo, onde os assalariados ganhavam em média R$ 1.540 em 1998, valor que caiu para R$ 1.146 em 2005 (dado do Dieese). Mesmo no período de crescimento econômico entre 2005 e 2006, o rendimento subiu só 0,8%. Agora mesmo, em julho, o IBGE registrou uma queda de 0,7% na renda dos trabalhadores. Aos trabalhadores só restaram as migalhas do crescimento.

Lula diz que criou 4,2 milhões de novos empregos. Mas o atual ciclo de crescimento não resultou em mudanças reais na questão do desemprego. Apesar da propaganda, os índices continuam praticamente os mesmos. Segundo o Dieese, o desemprego chega a 20% nas grandes cidades. De acordo com o IBGE, em julho a taxa de desemprego aumentou, e foi a maior dos últimos 15 meses.

Por outro lado, para continuar empregado, se aceita ganhar menos. Segundo cálculos do economista Marcio Pochmann, a cada dez empregos criados hoje no Brasil, nove pagam até dois salários mínimos.
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