Detalhe do cartaz do filme
Divulgação

El Salvador, década de oitenta. Um conflito entre governo e camponeses pobres, em torno da reforma agrária, deu inicio a um dos mais importantes movimentos guerrilheiros da América Latina. Esse é o cenário do mais novo filme que ganha o mundo mostrando as conseqüências na vida dos povos oprimidos da política norte-americana de “Guerra ao Terrorismo”.

O filme chama-se “Vozes Inocentes” e conta a comovente história de Chava, um garoto pobre de 11 anos, que vive em uma favela de El Salvador e tenta evitar ser convocado pelo governo no seu décimo segundo aniversário. A história é baseada na vida real do roteirista Oscar Torres, que teve sua infância interrompida como a de tantas outras crianças devido à desumanidade do capitalismo em forçar meninos de 12 anos a pegarem em armas em nome da sua própria pobreza.

No decorrer do filme diversas cenas mostram com clareza como a guerra e a miséria podem destruir vidas e famílias. Poucas vezes o cinema foi capaz de mostrar com tanta clareza como as mazelas do capitalismo são devastadoras, levando o espectador à emoção com o eterno clima de perda de inocência do filme, que se torna mais pesado com a eterna lembrança que estão vendo uma história real e que pior, ainda não acabou.

É bem verdade que muitos momentos o filme tenta parecer neutro ou colocar governo e guerrilheiros no mesmo barco, entretanto, a pobreza sempre presente ao lado da violência de Estado deixa claro quem é o inimigo dos povos.

O ápice encontra-se na canção “Casas de Carton”, música símbolo da guerrilha salvadorenha, proibida pelo governo, que embala a trilha sonora do filme. A música é um verdadeiro lamento a pobreza de El Salvador, mas que poderia se aplicar a qualquer país da América Latina. Tornando lógica uma comparação com o brasileiro “Cidade de Deus”, pois ambos falam de como a miséria e a violência podem destruir a infância. Porém, enquanto o brasileiro tenta ser mais comedido em mostrar os responsáveis, Vozes Inocentes é claro em uma cena em que um garoto recebe uma goma de mascar de um soldado americano e uma mulher diz: “jogue isso fora! Não aceite nada de quem que veio para ensinar aqueles que vão nos matar”. Aliás, a presença de tropas dos EUA é sempre colada como responsável pelo sofrimento do povo. Bem longe da propaganda de “libertação” feita pela Casa Branca.

Um filme para ser visto, sentido e, acima de tudo, discutido. Em tempos de Guerra do Iraque e Plano Colômbia, onde o imperialismo avança com suas garras em cima dos povos do mundo, tempos mais um triste exemplo de quem são realmente os inimigos do império, e de que poucos deles conseguiram completar ao menos doze anos. O filme termina com uma lembrança de que ainda hoje governos pelo mundo ainda colocam crianças para lutar em guerras que não os pertence.

Para terminar, um dado histórico. A guerrilha salvadorenha entregou as armas quando estava preste a tomar o poder. Hoje participa do Estado e defende a frente popular em seu país. Pensar nisso é a cena não gravada mais revoltante de todo o filme, pois nos revolta a desdém desses governos pelos milhares que morreram e pelos muitos que ainda vivem em “Casas de Cartón”.


FICHA TÉCNICA
Vozes Inocentes

Nome Original: Voces Inocentes
Diretor: Luis Mandoki
Elenco: Leonor Varela, Adrian Alonso, Carlos Padilla
Ano: 2004
País: MEX/EUA/PRC
Duração: 120 minutos
Trilha sonora: André Abujamra
Site: www.vocesinocentes.com
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