Em texto que circula na internet, Diogo Ramalho, estudante de Letras Espanhol da Universidade de Brasília, ativista do Movimento Fora Arruda e Toda Máfia e editor político do jornal O Miraculoso, denunciou ter sido espancado após ser preso em manifestação. Antes de sofrer violência física, foi moralmente agredido com falas de baixo calão, repletas de homofobia e de machismo. Nada surpreendente vindo do aparato repressivo do Estado burguês.

No último sábado, 17, enquanto a Câmara Distrital do DF elegia indiretamente o governador-tampão, manifestantes se reuniram em frente à Casa para protestar. Apesar de muitos dos deputados que votaram estarem envolvidos no mensalão do DEM, que sofreu a repressão policial foram os militantes.

Foi a violência policial que garantiu a eleição de Rogério Rosso (PMDB), que foi parte do governo de José Roberto Arruda, principal figura do escândalo. Também foi membro do governo anterior, de Joaquim Roriz, que renunciou ao cargo de senador para não ser cassado em outro escândalo de corrupção. Pelo menos cinco estudantes foram hospitalizados e quatro foram presos.

Abaixo, reproduzimos a parte do texto de Diogo Ramalho em que relata a violência moral e física que sofreu.

“Quando prenderam o primeiro companheiro, eu era um dos que gritavam para soltá-lo, e gritei bem forte várias vezes ‘Vocês têm que prender os filhos da puta que estão aí dentro votando em nosso nome´. No meio do caos, muita confusão, um tenente já conhecido meu de outros protestos, olhou no meu olho enfurecido e disse que prenderia a mim. Eu disse ‘Prende então, não estou fazendo nada´. Fui preso por desacato a autoridade.

A PM estava enfurecida, mas fui conduzido primeiro para a 2º DP, onde já encontrei rapidamente com o advogado do Movimento Fora Arruda e Toda Máfia, que me orientou a ficar em silêncio até a chegada dele na DRPI, para onde eu estava sendo transferido, pois era um direito constitucional meu. Fiquei 30 minutos na viatura, sem sofrer qualquer violência dos Policiais Militares. Chegando na DRPI, ainda sozinho, na presença apenas dos 3 policiais militares e 3 policiais civis, sentei-me no banco e aguardei, então começou a tortura moral. O policial civil agente Barcelar, que me torturou fisicamente momentos adiante, iniciou o diálogo com os policias militares dizendo que esses baderneiros deviam ser todos ‘veados´, porque ‘ao invés de estarem em casa fodendo uma mulher, estavam nas ruas protestando´, e aí seguiram-se as ofensas verbais, eu, calado.

Num dado momento, o agente Barcelar me perguntou se minha identidade era do Distrito Federal, eu disse que era de Minas Gerais, aí, mais ofensas ‘O que você tá fazendo aqui, seu merda? Você nem de Brasília é seu bosta e tá protestando, puta que pariu´ etc. Em seguida, perguntou meu nome para puxar minha ficha, eu disse ‘Só vou falar quando meu advogado chegar´ isso foi o suficiente para dar início à tortura.

O agente Barcelar, (ex-carcereiro por mais de 15 anos, agora trabalhando no “Administrativo”) após a minha simples frase de que estava aguardando meu advogado, deu a volta no balcão de atendimento, foi até a cadeira em que eu permanecia sentado, me pegou pela camisa me jogando com violência no chão, rasgando toda a lateral da camisa, e já iniciando uma série de murros na cabeça, chute, e me arrastando pelos cabelos junto a outro agente da polícia civil, que eu não soube identificar posteriormente porque eu estava no chão, e as duas mãos do agente Barcelar a mão do outro agente me arrastaram pelos cabelos, pelos corredores da DRPI, até chegar na cela, onde, por estar sendo arrastado lesionei a coluna na barra de ferro do chão da cela.

O agente bateu a porta da cela e disse que eu era um merda e que iria apanhar mais.

10 minutos depois, o advogado e outra estudante chegaram, de dentro da cela eu escutava o agente Barcelar dizer que eu tinha me jogado no chão, de lá da cela eu gritava que tinha sido espancado. Quando o advogado chegou diante da cela, lhe disse que fui espancado, o agente chegou a admitir na frente do advogado, dizendo que me puxou pelos cabelos porque eu não quis fornecer os dados que me solicitou. Mais adiante, conforme mais pessoas chegaram, o agente passou a dizer que nada aconteceu, que eu estava com a camisa rasgada e com visíveis marcas de agressão porque me joguei no chão.

Depois, fui conduzido enjaulado em uma viatura da Polícia Civil até o Instituto Médico Legal, onde foram constatadas todas as agressões que sofri na DRPI. O mesmo agente Barcelar tomou meu depoimento e se negou a colocar no inquérito as agressões que sofri, colocando a si próprio como vítima, me acusando de ter resistido a prestar informações.”

O texto não foi revisado