Didi cercado de solidariedade
Diego Cruz

Na manhã desta quarta-feira, 14 de maio, dezenas de entidades e organizações políticas se uniram para exigir a imediata reintegração de Dirceu Travesso, o Didi, bancário demitido da Nossa Caixa, banco público de São Paulo. A representatividade do protesto expressou o reconhecimento pelo dirigente histórico do movimento. Quatro deputados estaduais também compareceram para prestar solidariedade: Carlos Giannazi e Raul Marcelo (PSOL), Cydo Cerio (PT) e Davi Zaia (PPS).

Apesar de profundas diferenças políticas, as diversas entidades nacionais dos trabalhadores – Conlutas, Intersindical, CUT, CTB e UGT – estavam presentes, num exemplo de solidariedade. A manifestação aconteceu em frente à agência da Nossa Caixa onde Didi trabalha. O ato foi convocado por diversas entidades e coordenado pelo presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino.

Em nome da Conlutas, da qual Didi é dirigente, Zé Maria de Almeida disse que a direção do banco e o governo atacam a entidade ao demiti-lo. “Aparentemente uma coisa não ter nada a ver com a outra, mas o governo de São Paulo sabe que, para atacar os trabalhadores e os serviços públicos, precisa atacar a capacidade de resistência”, disse. Para ele, o ato desta quarta-feira teve uma dimensão muito grande e é necessário manter a mobilização e a unidade até conseguir a readmissão e até “obrigar a direção do banco a recuar nos ataques que tem feito”. “A luta pela reintegração de Didi traz à tona a luta de centenas de demitidos”, concluiu.

Paulo Pasin, representando a Intersindical, lembrou exatamente essas demissões políticas que vêm ocorrendo no estado em vários setores. Ele é metroviário e foi um dos demitidos após a paralisação do ano passado. “A demissão arbitrária do companheiro Didi é um ataque à organização sindical”, falou. Em sua opinião, trata-se de um processo de desmoralização dos movimentos sociais que precisa ser combatido com o fortalecimento da unidade da classe trabalhadora.

A CUT também se manifestou, através de Daniel Reis. Ele disse que “cabe ao movimento sindical dar uma resposta à sociedade e derrubar esse sistema de governo do PSDB que não realizou nenhuma campanha salarial do funcionalismo”.

Ricardo Gebrin, da Consulta Popular, lembrou da diversidade de lutas que Didi tem encampado ao longo dos anos, como a defesa dos povos árabes, a luta contra a guerra do Iraque, além das lutas específicas em defesa dos trabalhadores. Uma prova disso foi a presença do Comitê de Solidariedade aos Povos Árabes no ato. Gebrin considerou que Didi é “mais do que um dirigente sindical, é um dirigente da luta popular que aprendemos a admirar”.

Um ataque ao PSTU
Militante do PSTU desde a sua fundação, Didi conta com o apoio de seus companheiros de partido, que têm feito uma forte campanha para reverter a demissão, que é um ataque ao partido também. O PSTU tem incansavelmente enfrentado os ataques do governo de José Serra (PSDB) em são Paulo, de Lula em nível nacional e de todos os patrões que tentam enfraquecer a classe trabalhadora e lhe arrancar direitos.

Valério Arcary, dirigente do partido, fez uma fala emocionada ao lembrar a trajetória de 30 anos de luta e militância revolucionária do sindicalista. Ele agradeceu a todos os presentes em nome de cada militante do PSTU. “É para nós um orgulho o que o Didi representa e é uma alegria saber que ele não representa isso só para nós. Atacar Didi, se essa demissão passar, vai ficar como um símbolo de que o destino dos que lutam, que ‘metem a cara´, é ser perseguidos”, falou. Ele ressaltou que isso não pode e não vai acontecer. Resumindo a disposição dos militantes em brigar até a vitória, Arcary disse que era preciso “levar a resistência até as últimas conseqüências”.

Deixando explícito que as palavras daquele ato não seriam em vão, deu um recado ao governo e à direção do banco: “o preço que será pago pelo governo de São Paulo por essa provocação será algo que nunca foi visto nessa cidade”.

Bloco parlamentar
O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) informou que está se conformando um bloco parlamentar na Assembléia Legislativa para denunciar a demissão e pressionar o governo Serra. Considera Didi um militante histórico da classe trabalhadora e, por isso, disse que essa afronta atinge a todos.

Segundo ele, as demissões são uma das formas de ataques aos trabalhadores. Ele acrescentou, ainda, a constante repressão policial utilizada pelo governo de José Serra e a intenção de privatizar 18 estatais. “A demissão de Didi tem a ver com tudo isso, o movimento sindical foi um dos responsáveis pelo fracasso da privatização da Cesp”, opinou. Para privatizar, vai ter que enfraquecer o movimento sindical”, completou. Ele informou, ainda, que esse bloco parlamentar vai fazer reuniões com secretários, enviar moções e fazer pronunciamentos na Casa sobre o assunto.

Uma história de dedicação às lutas
Emocionado, Didi fez a última fala do ato. Agradeceu politicamente a presença de cada um dos presentes. Ao contar um pouco de sua história, lembrou que a primeira manifestação que participara, em 1977, em São Carlos (SP), fora justamente em solidariedade a presos políticos da ditadura militar, exigindo a liberdade dos mesmos. Entre os presos, encontrava-se Zé Maria de Almeida.

Esse não é o primeiro ataque que sofre diretamente. Ainda em 1977, sofrera sua primeira prisão, durante a ocupação da PUC de São Paulo pela Polícia Militar. Em 1978, fora enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Em 22 de junho de 1983, um dia após a primeira tentativa de greve geral chamada pela CUT, Didi fora demitido do banco que trabalhava.

“A minha vida é a vida da militância pela transformação social e em defesa dos trabalhadores de qualquer parte do mundo”, disse. E referindo-se aos colegas bancários: “atrás da minha história, está a história de resistência de cada um desse banco”.

Ele também denunciou a política de obter lucro a qualquer preço aplicada pelos bancos. Falou que os bancários são obrigados a cumprir metas, mesmo que para isso tenham que enganar a população, “os verdadeiros donos do banco”, “empurrando” produtos e empréstimos a altos juros até para aposentados. “A minha demissão é o coroamento da perseguição cotidiana”, disse.

“Eles não têm o direito de impedir que os trabalhadores possam debater”, completou. Ele terminou defendendo que a unidade construída para o ato se colocasse a serviço de uma luta maior pelo direito à organização.

VEJA QUEM PARTICIPOU DO ATO:
Centrais
– Conlutas, Intersindical, CUT, UGT, CTB. Entidades bancárias – Contraf, Contec, Fetec-SP, Federação dos Bancários de SP, Federação dos Bancários do Rio de Janeiro e Espírito Santo, Sindicato dos Bancários de SP, Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte, Sindicato dos Bancários da Bahia, Sindicato dos Bancários do ABC, Sindicato dos Bancários de Bauru, Sindicato dos Bancários de Campinas, Sindicato dos Bancários de Santos, Afeceesp (Associação dos Aposentados da Nossa Caixa), Sônia Zaia (representante dos funcionários no Conselho de Administração da Nossa Caixa). Sindicatos e Oposições – Sinal, Sinsprev-SP,
Sintrajud, Sindsef, Sindicato dos Radialistas, Sindicato dos Metroviários, Sindicato dos Advogados, Sintaema, Adunesp, Oposição Metroviária, Oposição dos Correios, Alternativa da Apeoesp. Partidos – PSTU, PSOL, PT, PPS. Outras organizações – Consulta Popular, Pastorais Sociais de SP, Comitê de Solidariedade dos Povos Árabe, MTST, Conlute. Deputados – Carlos Gianazi e Raul Marcelo (PSOL), Cydo Cerio (PT), Davi Zaia (PPS)