Se algum “espetáculo“ ocorreu nestes seis meses, podemos dizer que ele foi um drama e expressão de uma tragédia. As cenas da polícia lançando gás lacrimogêneo contra dezenas de milhares de desempregados que enfrentavam uma fila quilométrica para o concurso para lixeiro na Comlurb do Rio, comoveu o país.

O choro daqueles que, por terem perdido algum documento, depois de horas na fila não conseguiam se inscrever; o desespero de outros que, involuntaria-mente, viam-se depois de longa espera envolvidos num tumulto, empurra-empurra, bombas de gás; e, sobretudo, o drama contido nas histórias narradas por muitos trabalhadores desempregados ao vivo e a cores na mídia, certamente aper-taram o coração de todos os explorados desse país. A insegurança e o medo do de-semprego ampliam-se. Toda família ou tem um desempregado, ou conhece um amigo desempregado e, sobretudo, tem um membro que teme perder o emprego.

A esperança de que Lula acabasse com essa angústia dos que estão, por enquanto, empregados, e com a aflição e desalento dos desempregados, vai dando lugar à volta do medo e ao desespero. O desemprego é a preocupação número um dos explorados: 90% da população têm essa como sua principal preocupação.

Às mais de 131 mil pessoas que enfrentaram enormes filas para concorrer a uma vaga no cadastro de reserva da Comlurb (Cia. de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro), somou-se a notícia de que nada menos do que 3,8% da população de Londrina (PR) – 17 mil pessoas – disputavam vagas no serviço funerário da cidade.

O desemprego atinge todos: jovens, trabalhadores de meia idade, pessoal altamente qualificado, semi-qualificado ou menos qualificado. Tentando uma vaga de lixeiro ou de coveiro, estão milhares e milhares de trabalhadores altamente qualificados: telefônicos, engenheiros, advogados, publicitários e um longo etc de gente que tem todo o ensino médio e títulos universitários.

Esses números escancaram a realidade do país. Milhões, aos 40 anos, são expulsos do mercado de trabalho. Uma geração inteira de jovens não consegue o primeiro emprego e não vê a menor chance de trabalhar na profissão que escolheu.

Os 10 milhões de empregos – prometidos por Lula na campanha eleitoral, entre os quais, os novos 250 mil neste ano – viraram pó.

O desemprego aumentou. Só na região metropolitana de São Paulo, em maio, 1,959 milhão de pessoas estavam desempregadas. Sendo que, num único mês, de abril para maio, 100 mil perderam o emprego, segundo pesquisa do Dieese/Seade. Nas contratações ocorridas no mesmo mês, predominaram os autônomos e os assalariados sem carteira assinada. Ao lado do desemprego, crescem os trabalhadores sem direitos previdenciários, trabalhistas etc. É o avanço do desemprego e da precarização no país.

Cai por terra a farsa da falta de qualificação

Cai por terra o argumento dos neoliberais e, infelizmente, comprado por muitos sindicalistas, de que o desemprego é produto da falta de qualificação profissional do trabalhador.

A procura por emprego na Comlurb e no serviço funerário de Londrina colocam em xeque essa mentira, que visa colocar a responsabilidade do desemprego na classe trabalhadora.
Esse tremendo exército industrial de reserva é responsabilidade do capital e deste modelo econômico perverso. É produto do aumento da exploração e também da estagnação e retrocesso econômico de mais de 20 anos. Os bilhões bombeados anualmente para o exterior resultam em falta de investimento em infra-estrutura, nova capacidade instalada, obras e serviços públicos. Por sua vez, a “produtividade“ e mais tecnologia na produção, ao invés de redundar em diminuição da jornada de trabalho, redundam em desemprego em massa.

Queremos emprego!

Não há como criar empregos sem romper com o FMI, suspender o pagamento das dívidas e atacar capitalistas e latifundiários.

Para gerar empregos é preciso reduzir a jornada de trabalho para 36 horas, sem redução dos salários. É preciso também investir pesadamente em obras públicas e infra-estrutura: energia, hospitais, escolas, saneamento básico, moradia popular. E fazer a reforma agrária, assentar e garantir crédito agrícola para os 4,5 milhões de sem-terra.

O governo e os capitalistas vão dizer que suspender o pagamento da dívida é irreal, que precisamos dos capitais de fora e o blá, blá, blá de sempre. Porém, nestes anos todos, saiu e continua saindo muito mais dinheiro do que entra aqui no Brasil. Segundo o economista Reinaldo Gonçalves, para cada R$ 1.000 que entraram no país nestes 4 meses, saíram R$ 1.400 com a agiotagem que pagamos.
Post author André Valuche,
da redação
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