Governo japonês perde controle da situação e tenta esconder gravidade do acidenteA sequência de eventos trágicos que aflige o Japão desde o último dia 11 pode se transformar numa catástrofe nuclear que ameaça o povo japonês e de outros países. Após ser atingido por um dos maiores terremotos já registrados no mundo, chegando a uma magnitude de nove pontos na escala Richter, o país sofreu também com um tsunami que devastou algumas cidades da costa nordeste. O maremoto foi devastador e matou quase nove mil pessoas. Pelo menos 12 mil ainda estão desaparecidas. O tsunami também afetou o funcionamento da usina nuclear Fukushima I, que fica a 250 quilômetros de Tóquio. A usina sofreu pelo menos cinco explosões por conta do maremoto, e há vazamento de radiação.

Antes de tudo, queremos mandar nosso mais profundo sentimento de solidariedade a todos os japoneses e seus familiares. O Japão sempre foi considerado um modelo de prevenção a desastres naturais, com experiência em sismos e grandes projetos de engenharia. Pela intensidade do terremoto, o desastre poderia ter sido ainda maior, caso ocorresse em outro país menos rico. Para efeito de comparação, o tremor que matou mais de 230 mil pessoas no Haiti, em janeiro de 2010, foi 900 vezes menor do que o japonês.

Ou seja, se o mesmo terremoto, seguido por um tsunami, ocorresse em algum país pobre como o Haiti ou a Indonésia, o número de vítimas certamente estaria na casa de centenas de milhares. Também é importante lembrar que Indonésia e Sumatra sequer foram alertados do tsunami que devastou esses países em 2004.

Nem tudo foi planejado
A possibilidade de um desastre nuclear surpreendeu muita gente. Afinal, bilhões foram gastos em planejamento para o desenvolvimento de tecnologia para limitar os danos de tremores e tsunamis. A pergunta é: como o governo japonês deixou de fora deste planejamento as usinas nucleares? A resposta a essa questão evidencia uma grande negligência dos governantes do país. E expõe dramaticamente, contra todos os mitos propagados nas últimas décadas, a imensa insegurança da operação de usinas de energia nuclear.

O Japão é o país com maior número de usinas nucleares, com 55 plantas fundamentais para alimentar uma das maiores economias capitalistas do mundo. Todas elas estão a serviço dos capitalistas, que através deste tipo de energia conseguem obter uma enorme quantidade de lucro. Muitas destas usinas foram construídas sobre as chamadas linhas de falhas, onde ocorrem os terremotos. Mas os governantes sempre insistiram que elas eram “absolutamente seguras” e ofereciam “energia limpa”. A tragédia transformou essa mentira em poeira radioativa.

Sinais da tragédia atual foram dados há poucos anos. Em 2007, um terremoto de 6,8 graus de magnitude na escala Richter provocou danos na usina nuclear de Kashiwazaki-Kariwa, a maior do mundo, também no Japão. Por incrível que possa parecer, essa usina foi construída sobre uma falha geológica, e o epicentro do abalo sísmico na época estava localizado apenas a 19 quilômetros da planta. Investir em usinas nucleares sempre foi perigoso, mas construí-las sobre falhas geológicas é mais do que mera imprudência: simboliza o desprezo dos governantes por milhares de vidas.

Governo perde o controle e esconde informações
O governo japonês manipula informações essenciais e esconde a real escala da tragédia. No começo, tentou minimizá-la e chegou a enviar apenas bombeiros para apagar o incêndio na usina de Fukushima I. Depois, mesmo diante das explosões violentas dos reatores da usina, estas foram descritas como “não muito graves”.
Segundo o jornal norte-americano The New York Times, as quantidades de radiação detectadas indicavam claramente que o combustível que alimenta a planta já estava danificado. Contudo, as autoridades japonesas se mantiveram inertes por horas até ordenarem a evacuação da área.

Quatro dias depois, André-Claude Lacoste, agente da Autoridade de Segurança Nuclear francesa, informou ao jornal espanhol El País que o acidente na usina nuclear de Fukushima está “mais além de Three Miles Island, sem chegar [ao nível de] Chernobyl”. A autoridade se referia aos dois mais importantes acidentes nucleares da história recente (veja ao lado) e indicava que a radiação em Fukushima I já atingia o nível 6 (penúltimo em uma escala de 7 níveis), ou seja, bem mais grave do que admitido oficialmente. Mas o governo japonês insistia em dizer que o acidente estava em nível 4, com consequências e alcance locais.

A verdade é que o governo perdeu totalmente o controle da situação. Enquanto isso, a população japonesa continua sem informações sobre o que está realmente acontecendo. E um grande volume de material radioativo segue escapando dos reatores, contaminando milhares de pessoas.

‘Falta tudo’
Como se não bastasse, a maioria das vítimas foram jogadas à própria sorte. Faltam refeições para as pessoas que estão desabrigadas, e não há combustível ou suprimentos médicos em quantidades suficientes para atendê-las. “Falta tudo”, disse o desesperado governador da província de Fukushima, Yuhei Sato.

O desastre vai agravar ainda mais a situação do Japão, duramente afetado pela crise econômica mundial. Os trabalhadores do país já haviam chegado a um ponto crítico quando veio o terremoto. “No ano passado experimentamos uma violenta tempestade de demissão em massa: demissões em razão da privatização da Agência da Previdência Social, demissões dos trabalhadores da Japan Airlines, e a demissão de vários trabalhadores da Japan Post. Um grande número de trabalhadores foi empurrado para o emprego irregular”, explica um comunicado dos ferroviários de Doro Shiba. O site da organização comunica que está realizando uma intensa campanha de solidariedade, tentando levar mantimentos para as vítimas. Mas encontra dificuldades, uma vez que o governo e as forças de autodefesa tomaram o controle das principais estradas para “manter a segurança e a recuperação das rodovias”.

O país que já vive uma grave crise econômica foi atingido por um golpe devastador. O governo japonês vai querer que os trabalhadores paguem pela destruição. O resultado serão demissões em massa, sob o pretexto do terremoto, além de desemprego em grande escala. O terremoto vai provocar uma mudança total na sociedade japonesa.

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