Meses depois da execração pública a qual foram submetidos ao tentarem dobrar seus salários, os deputados, em Brasília, retomam a discussão sobre um novo aumento. O presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT), uma semana após ter descartar um novo reajuste para os parlamentares, recolocou o tema em pauta, pedindo aos líderes que “consultassem suas bases” sobre o assunto. “Esse assunto não está em pauta, e não pretendo colocar. No que diz respeito ao reajuste salarial, ou reposição de perdas, isso será tratado em dado momento, que não é este”, chegou a afirmar o líder petista dias antes.

No entanto, agora o Congresso de picaretas quer dividir o ônus do desgaste com o Executivo, ampliando o aumento para os ministros e o presidente. “Se se comparar o salário do presidente da República com o dos parlamentares e o dos ministros do Supremo Tribunal, acho que o presidente da República ganha pouco”, chegou a dizer Chinaglia. O salário do presidente e dos ministros é hoje em torno de R$ 8 mil. Já um deputado recebe R$ 12.847, sem contar a verba de gabinete, de R$ 50,8 mil mensais. Os ministros do Supremo embolsam R$ 24.500 todo mês.

Ou seja, num país com uma das maiores desigualdades de renda do mundo, segundo o presidente da Câmara, não é absurdo um deputado ganhar R$ 12 mil. Para ele, a distorção está no fato do presidente receber “apenas” R$ 8 mil. Como se isso não bastasse, os deputados agora querem aprovar um reajuste de 26,1%, correspondente à inflação dos últimos quatro anos, elevando seus vencimentos para R$ 16.200. Porém, não são apenas os salários dos deputados que serão reajustados. O segundo-secretário da Mesa Diretora da Câmara, deputado Ciro Nogueira (PP) defende um aumento de 28% da verba de gabinete, que iria para R$ 65,1 mil.

Caso seja implementado, o aumento representará um gasto adicional de pelo menos R$ 122,5 milhões mensais. Só para se ter uma idéia, o orçamento de 2007 destinava um total de R$ 304 milhões para programas de alfabetização de jovens e adultos, menos do que representará os gastos extras dos deputados em três meses.

Duas medidas
A justificativa dos parlamentares para o aumento é que o reajuste representaria apenas a reposição da inflação dos últimos quatro anos. No entanto, enquanto se auto-concedem aumento, esses mesmos deputados negam-se a, por exemplo, reajustar os salários do funcionalismo público, defasado em 174,35% desde o governo FHC. Além de não haver reajuste para os servidores, o governo impõe o PAC que, entre outras coisas, ameaça congelar o salário do funcionalismo nos próximos 10 anos.

Isso sem falar no salário mínimo de fome que o “Programa de Crescimento” de Lula pretende manter. Para os trabalhadores, nunca há recursos no orçamento, já para os deputados sempre se tem de onde tirar.