Greve foi contra a ameaça de privatização

O presidente Jacques Chirac, o ministro Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro Dominique de Vilepin, principais representantes do Estado francês, atravessaram três semanas de uma verdadeira rebelião nos bairros da periferia, com jovens filhos de imigrantes incendiando carros e prédios como forma de expressar a revolta com a exclusão a que são submetidos. Os três responderam com repressão, cujo último ato foi resgatar o estado de emergência, que proíbe manifestações públicas e reuniões, lei que só havia sido usada em 1961, contra os pais e avós destes jovens.

`NavioNo entanto, mesmo conseguindo debelar as chamas nos bairros operários, a tríade agora enfrenta uma nova onda de greves e atos de rua que desafiam a lei ditatorial. No sábado, dia 19, cerca de 30 mil pessoas se reuniram na capital, Paris, para protestar contra a privatização dos serviços públicos e contra a lei. Os protestos tomaram todo o Centro, incluindo a margem esquerda do rio Sena e outros pontos turísticas importantes. Estavam lá sindicalistas, integrantes de movimentos antiglobalização, sem-tetos, grupos pró-palestinos, de luta contra a Aids, entre outros. Das estações, um grande número de jovens vinha dos subúrbios, desmontando qualquer tentativa de repressão policial. Também ocorreram manifestações em outras cidades, como Toulouse e Grenoble.

Trens parados
A manifestação do sábado foi também o último ato de rua, antes da forte greve nos transportes ferroviários, contra o que os sindicatos chamam de “privatização insidiosa“ da SNCF, a empresa estatal das ferrovias. A greve convocada por quatro centrais sindicais durou dois dias e, já na segunda-feira, contou com uma forte adesão entre os 165 mil trabalhadores. Em Paris, entre 70% e 80% dos condutores cruzaram os braços.

O governo francês e as autoridades francesas ameaçaram com a declaração de ilegalidade da greve, e o presidente, Jacques Chirac, chegou a clamar pela “responsabilidade e razão” aos líderes sindicais.

`NavioO temor dos efeitos da privatização tem levado a um aumento das lutas na França e na maior parte da Europa. Há cerca de dois meses, trabalhadores ocuparam o porto de Marselha por vários dias e chegaram a tomar um navio, contra a privatização da companhia pública que administrava o serviço. Os grevistas navegaram com ele, até que uma tropa de elite foi levada por helicópteros e retomou a embarcação. A greve durou 24 dias.

Para acabar com esta nova greve, a dos trens franceses, Chirac teve de se pronunciar dando garantias de a SNCF permanecerá pública. A manutenção do caráter público e a interrupção do plano de reestruturação da empresa estavam em 14 dos 15 pontos de reivindicação do movimento. Os trabalhadores também conquistaram ainda reivindicações específicas, inclusive em relação ao pagamento de pensões, além de uma gratificação suplementar de 120 euros por funcionário. Novas negociações ocorrerão em janeiro.

Além dos trens, outras categorias estão em luta no país. Os professores e trabalhadores da Educação anunciaram uma paralisação para esta quinta-feira, dia 24, e os funcionários do jornal Libération estão em greve desde o início da semana. Fundado em 1973 pelo filósofo Jean-Paul Sartre, o jornal com uma linha editorial de esquerda atravessa uma grave crise financeira e, depois de vender quase 40% de suas ações, anunciou um plano de reestruturação, com a demissão de 52 pessoas, a maioria jornalistas. A greve começou na segunda-feira e há três dias o jornal não é publicado.

Além destas lutas, os servidores do transporte público de Marselha estão em greve há 45 dias, contra a concessão da futura rede de transportes movidos por eletricidade, a ser implantada na cidade.

  • Veja o blog da greve no jornal Libération (em francês)
    www.libelutte.org