Mesmo à frente de greves e mobilizações importantes, a juventude não ocupava espaço tão relevante na conjuntura nacional desde o “Fora Collor”. Foram anos e anos de refluxo e ideologias individualistas que contaminavam a consciência de milhões.

Quando pareciam domesticados e derrotados pelo governo Lula e sua amiga UNE, os estudantes levantaram suas cabeças. Logo no início do ano, a Unicamp e várias universidades federais foram palco de lutas por melhores condições de ensino e assistência estudantil. O pano de fundo foi o sucessivo corte de verbas do orçamento da educação, que alcançou a marca de mais de R$ 1 bilhão durante os quatros anos e meio do governo do PT.

Em seguida veio a retomada da luta contra o aumento das tarifas de ônibus e pelo passe-livre. Diante de um sistema de transporte cada vez mais precarizado, salários achatados e desemprego, secundaristas garantiram seus direitos através de massivas passeatas que se enfrentaram com a polícia e ganharam a população em Florianópolis (SC) e no Rio de Janeiro.

Para consagrar a chegada de um novo tempo, a greve das universidades estaduais paulistas e a ocupação da USP ganharam as manchetes. Foram quase dois meses de luta contra os decretos de Serra. Estava em jogo a autonomia universitária conquistada na década de 80 – a liberdade de estudantes, professores e funcionários determinarem os rumos da universidade. Afinal, são eles que sustentam as instituições de ensino no dia-a-dia, com trabalho e produção de conhecimento.

Numa tentativa de adequar as estaduais paulistas à reforma universitária, ao Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e ao Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) de Lula, Serra não mediu esforços e reprimiu os estudantes nas ruas com a Polícia Militar.

A ocupação da USP inspirou muitos e fez despertar o que há muito tempo estava contido pela UNE. Houve ações radicalizadas em defesa da autonomia, por mais verbas, contra a reforma universitária e por liberdades democráticas. Foram 15 ocupações em todo o país, com vitórias importantes nas universidades federais, como a ampliação do restaurante universitário na UFAL, licitações públicas para reformas estruturais na UFPA e adiamento da implementação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) na UFRJ.

Não há dúvidas de que o movimento estudantil se encontra em um novo patamar. A juventude parece ter reconquistado a confiança. Bandeiras históricas como “defesa da universidade pública”, “congresso estatutário”, “paridade nos órgãos colegiados” e “livre acesso” faziam parte de um futuro quase inexistente. Hoje o debate sobre concepção de universidade está presente. A estrutura de poder autoritária, a presença de fundações privadas e a cobrança de taxas não são mais vistas com naturalidade. Ao contrário, existe um forte movimento de contestação aos modelos educacionais vigentes.

Está na hora de o movimento de educação reafirmar seu projeto de universidade. A unidade entre ensino, pesquisa e extensão, a democracia interna, o caráter público, a gratuidade e a reivindicação de 10% do PIB para educação são fundamentais para colocar a produção de conhecimento e tecnologia a serviço dos trabalhadores.