A. tem 37 anos e dois filhos. Casou aos 17 anos e passou 18 anos com o mesmo parceiro, seu agressor. Separada há um ano, hoje faz parte do Grupo Vozes, que organiza mulheres vítimas de violência no ABC paulista. Leia um trecho do depoimento de A. ao Opinião Socialista.

“Eu tinha ido à delegacia da mulher (eu tinha ido umas duas vezes) e eu estava muito desesperada, procurando ajuda. Aí elas [Grupo Vozes] me deram um papelzinho falando do Cedesc, com um número de telefone e um endereço. (…)

Ele tinha muitos ciúmes, e o ciúme dele virava violência, uma violência contínua. Eu estudava e trabalhava, era bem ativa para fazer as minhas coisas. (…) E ele me agredia. Em alguns desses momentos, eu fui à delegacia da mulher e procurei ajuda.
Naquele momento, eu não tinha a minha identidade. De tanto viver sob a pressão dele, eu perdi a minha identidade. (…) Na delegacia, eles queriam que a gente registrasse uma ocorrência e não era isso que eu queria naquele momento, porque eu não estava pronta para isso.

É muito, muito difícil para a gente tomar esta decisão, mas a gente tem de se segurar em alguma coisa, tem de ter um apoio. (…) Hoje, nós só falamos da agressão física, ‘ele me bateu’, mas também tem a agressão moral, psicológica. A gente tem de tomar consciência disso e do que nós somos capazes. Nós, mulheres, depois que casamos ou nos juntamos, acabamos vivendo para o homem e sob o homem, perdemos a nossa identidade. É o momento de começarmos a dar a volta por cima e mostrarmos que somos pessoas também.”
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