Nesta quinta, 16 de março, a CPI dos Bingos ouviu, enquanto pôde, o caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo. Nos 40 minutos de depoimento aberto, entretanto, ele reafirmou as declarações dadas em entrevistas, comprometendo até o pescoço o ministro da Fazenda e ex-prefeito de Ribeirão Preto (SP), Antonio Palocci. O objetivo do depoimento era saber se a casa era usada pela “República de Ribeirão Preto“, grupo de assessores que fariam lobies junto ao governo para favorecer grupos empresariais. Aparentemente, o local era usado para todo tipo de maracutaia, desde pagamento de mensalões até animadas festas.

O caseiro disse que viu Palocci “umas dez ou vinte vezes“ na casa alugada pelos ex-assessores da Prefeitura de Ribeirão Preto, Rogério Buratti e Vladimir Poleto. Nildo disse que Palocci freqüentava a casa a cada 15 dias, por volta das 18 horas, ou em finais de semana. Palocci era chamado apenas de “chefe“ dentro da casa e chegava ao local sempre em um Peugeot prata, pertencente a Ralf Barquete, então assessor da presidência da Caixa, falecido em 2004. O caseiro reconheceu os freqüentadores da casa através de fotos apresentadas a ele durante o depoimento.

Nildo reafirmou que a casa abrigava animadas festas regadas a uísque, amendoim e castanha, embalagens de salaminho, camisinhas e caixas de Viagra. Mas, segundo ele, Palocci não participava dessas farras. Sobre eventuais distribuições de dinheiro na casa, Nildo conta que viu a entrega de um envelope de dinheiro para Ademirson Ariosvaldo da Silva, assessor especial de Palocci.

O caseiro é a segunda testemunha a dizer que viu o ministro da Fazenda na casa. A primeira foi o motorista Francisco das Chagas Costa. Apesar disso, Palocci negou em seu depoimento que freqüentasse o local.

Intervenção
A liminar do Supremo Tribunal Federal, solicitada pelo PT, fez o depoimento ser interrompido. O partido do governo, com medo do desenrolar dos fatos, também pedirá ao STF a finalização da CPI dos Bingos.

Depois da interrupção, senadores da oposição de direita foram à tribuna e reivindicaram a demissão de Palocci do ministério, dizendo-se decepcionados. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), chegou a afirmar que “a economia está madura o suficiente para suportar que ele seja defenestrado”.

Todavia, durante o evento do qual participava na Confederação Nacional da Indústria (CNI) no mesmo dia, Lula garantiu que, apesar de todas as acusações, Palocci fica no cargo. Lula reuniu-se com Palocci e outros ministros, na parte da tarde. O problema é que não fica da mesma forma que antes. O desgaste da imagem do ministro é muito grande e sua manutenção no cargo pode ter um preço político. De qualquer forma, Palocci não deve perder o cargo enquanto as denúncias contra ele não provocarem abalos na economia, que é a principal preocupação dos apoiadores deste governo e da própria oposição burguesa.