Quebras de sigilo fiscal e propinas na Casa Civil trazem de volta o fantasma do mensalão,Se o debate político já passava ao largo da campanha eleitoral, nas últimas semanas os cadernos de política mais parecem a seção policial. Uma verdadeira sucessão de escândalos monopoliza os noticiários sobre as duas principais candidaturas.

Nos últimos dias de campanha eleitoral, os jornais e o candidato do PSDB, José Serra, bombardeiam a candidatura Dilma com uma série de denúncias, que vai da quebra do sigilo fiscal de adversários políticos à cobrança de propinas milionárias em pleno ministério da Casa Civil.

Os casos de corrupção que se avolumam a cada dia mostram a disputa renhida entre PT e PSDB pelo domínio do aparato do Estado. A larga vantagem apresentada pela candidata petista não impede que os tucanos e companhia escarafunchem cada detalhe da vida de Dilma e do governo, em busca de munição.

Se a derrota já parece certa para Serra, a tentativa de desgastar a futura presidente pode servir como trunfo para a oposição no próximo governo. Nessa luta intestina entre setores burgueses, porém, como costuma acontecer nesses tipos de caso, seus protagonistas vão se desnudando em público e revelam uma incrível semelhança.

Um Estado policial?
O primeiro grande escândalo que explodiu em plena campanha eleitoral foi a revelação da quebra do sigilo fiscal de uma série de políticos do PSDB. Primeiro, a declaração de imposto de renda de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, circulava por entre partidários de Dilma. Aos poucos, nomes graúdos do tucanato foram se juntando à lista, como o do ex-ministro do governo FHC, Mendonça de Barros, o “Mendonção”, responsável pela privatização da Telebrás. O caso explodiu com a descoberta de que a filha de Serra, Verônica Serra, também figurava entre os nomes cujos dados foram vasculhados.

Após ter fracassada sua ridícula tática de se ligar a Lula, tentando parecer mais governista que a própria candidata do governo, José Serra não perdeu a chance de explorar politicamente o escândalo. Desesperado com seu candidato despencando nas pesquisas, o PSDB colocou de lado sua campanha “paz e amor” e partiu para o ataque. Em vão. Não só a candidata governista subiu nas pesquisas, como Serra desceu ainda mais.

Apesar da ajuda militante da imprensa paulista, com porta–vozes como o Estadão e a Folha de S. Paulo, Serra não conseguiu sensibilizar o eleitorado. O máximo que o escândalo parece ter conseguido fazer foi ajudar a candidatura Marina Silva crescer um pouquinho entre setores da classe média. Não é para menos. Após escândalos como a da empresa Alstom em São Paulo, acusada de pagar milhões em propina para os tucanos, as denúncias de fraudes nas privatizações de FHC e, mais recentemente, a prisão do ex-governador do DF, José Roberto Arruda (ex-DEM), o PSDB parece completamente desmoralizado para bancar o paladino da moralidade.

O escândalo, porém, mostra também que, para atacar seus adversários, o PT não hesita em colocar em marcha o aparelho do Estado que tem em mãos. Tampouco mostra problemas em quebrar as leis a fim de espionar a vida de inimigos. Ao que tudo indica, a Receita Federal foi instrumentalizada para beneficiar o PT, já que quebra do sigilo ocorreu no final de 2009, quando Serra ainda aparecia na frente das pesquisas eleitorais.

Pela quebra do sigilo fiscal dos políticos
Uma questão, no entanto, pouco aparece nos jornais. Qual a motivação do PT em acessar os dados dos tucanos? O que estaria por trás das informações que gente como Mendonça de Barros e a filha de Serra prestaram à Receita? Se a quebra do sigilo fiscal mostra a instrumentalização do aparato do Estado pelo PT, por outro lado, o sigilo fiscal esconde negociatas e falcatruas. Ou qual seria a motivação para a quebra do sigilo?
Por isso o candidato do
PSTU à presidência, Zé Maria, denunciou em propaganda eleitoral da TV a própria existência do sigilo fiscal de políticos e candidatos. Zé Maria defendeu o fim do sigilo de todos os candidatos, colocando o seu próprio à disposição.

A queda de Erenice
O pior para a candidatura Dilma, porém, ainda estaria por vir. Após a revelação de que o filho da sucessora de Dilma na Casa Civil, Erenice Guerra, cobrava propina para a contratação de empréstimo do BNDES ou de serviços para o governo, a ministra pediu demissão, ou melhor, foi na prática demitida do governo. A denúncia dá conta que Israel Guerra, filho da ex-ministra, cobraria propinas em troca de contratos milionários, ou bilionários em alguns casos, com empresas.

Algumas versões do escândalo apontam que tal esquema montado na Casa Civil serviria para irrigar a campanha de Dilma. Assim como o mensalão que financiava campanhas petistas, ou o mensalão do PSDB em Minas. E Dilma, a exemplo de Lula na época, afirmou que “não dá para saber tudo o que acontece”.

A rapidez com que Erenice foi arrancada do cargo pelo governo mostra o perigo que o escândalo representava à candidatura Dilma. Mostra ainda que o esquema do mensalão, as mesmas práticas que fizeram balançar o governo Lula em 2005, continua intacto.
E põe a nu, por fim, a extrema semelhança entre PT e PSDB, não só no programa de governo, como na corrupção que ambos praticam quando governo.
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