(Brasília - DF, 06/03/2020) Pronunciamento do Presidente da República, Jair Bolsonaro.sobre a coronavírus no Brasil Foto: Carolina Antunes/PR
Redação

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No dia em que os mercados de todo o mundo sofriam uma queda histórica, e o dólar disparava, Bolsonaro deu uma nova declaração a fim de jogar lenha na fogueira. Durante um evento nos Estados Unidos, o presidente denunciou uma suposta fraude nas eleições em que ele próprio foi eleito.

Pelas provas que eu tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu fui eleito no primeiro turno, mas no meu entender teve fraude“, declarou. Segundo sua versão, ele teria tido, mesmo no segundo turno, “muito mais votos do que se poderia esperar“, mas que “ficaria bastante complicado uma fraude naquele momento“.

Essa “denúncia” repete o discurso de Bolsonaro em 2018 quando, às vésperas da votação, ele afirmou que não reconheceria outro resultado que não fosse a vitória. Agora, quando conclama o povo às ruas para os atos que defendem o fechamento do Congresso Nacional e do STF, as fake news da fraude eleitoral reaparece requentada.

Essa manobra de Bolsonaro é um diversionismo para tentar mudar de assunto num momento em que seu governo é duramente questionado por conta do PIB pífio de 2019 (após toda a propaganda de que, com a reforma da Previdência e trabalhista, iríamos crescer e o emprego deslanchar). E que se vê ainda acuado por denúncias de corrupção e fraudes na campanha eleitoral por meio da disseminação de fake news, ou ainda pelas denúncias que estão por vir sobre as ligações de sua família com as milícias. Bolsonaro tenta ainda insuflar suas bases para os atos do dia 15 convocados por ele, jogando dúvida sobre as eleições de modo que possa ter uma carta manga, inclusive, no caso de perder a reeleição em 2022 (caso não caia antes). Ou até antes, caso veja possibilidade.

É, assim, uma ameaça a mais para testar se cola seu projeto autoritário de ditadura, quer dizer, se encontra sustentação suficiente. Se hoje não há possibilidade de um golpe militar, Bolsonaro quer criar as condições para isso. Por isso sua política de esgarçar os limites da democracia burguesa, num avança-e-recua constante para ir testando até onde vão esses limites.

Bolsonaro ataca e acua o Congresso Nacional, mas seu projeto autoritário tem como principal alvo o direito de expressão, manifestação e organização, as liberdades democráticas e os direitos civis. Ele quer destruir não só o parlamento, mas principalmente, o movimento operário e de massas.

Não confiar a defesa das liberdades a Maia

Quando Bolsonaro chama o povo às ruas contra o Congresso, o que faz o presidente da Câmara, Rodrigo Maia? Ao invés de reagir duramente contra as ameaças golpistas desse governo, faz concessões a ele, entrega o dinheiro que ele exige, para logo em seguida ser chantageado de novo e novamente não reagir à altura. Pelo contrário, Rodrigo Maia chama Bolsonaro a unir-se ao Congresso para aprovar novas “reformas” para acalmar o “mercado” e jogar o custo da crise nas costas dos trabalhadores e do povo pobre. Já o Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, chegou a dizer que não sabia “de nada” ao ser questionado da movimentação golpista de Bolsonaro.

Rodrigo Maia e Toffoli querem é o “apaziguamento dos ânimos” entre os de cima, para  a retomada das reformas, como a reforma Administrativa que ataca duramente os servidores públicos, e a conclusão da votação da MP 905 que institui a carteira verde-amarela. Como eles não se opõem à política econômica ultraliberal de Paulo Guedes (muito pelo contrário), têm uma atitude completamente covarde perante as investidas de Bolsonaro. E, com isso, vão fortalecendo e sustentando Bolsonaro, que alardeia ainda mais seu projeto de ditadura, exigindo mais concessões do Congresso.

O projeto econômico de Bolsonaro é de semiescravidão (o qual Maia concorda), e de ditadura (o que Maia discorda); porém há um limite de classe na sua defesa da democracia (mesmo essa democracia dos ricos e limitada que hoje existe): ele prioriza as reformas contra os trabalhadores junto com Bolsonaro a ter uma atitude forte e uma ação para impedir a sanha autoritária desse governo, que hoje já é bem minoritário na população. Pelo contrário, concedeu nas exigências de Bolsonaro sobre o dinheiro do Orçamento e o presidente, ao invés de recuar, aumentou o tom do ataque exigindo mais e, de novo, o Congresso e STF não reagem à altura.

Essa democracia dos ricos, os três poderes (Governo, Congresso e Judiciário) governam contra nós. Vide que os três juntos apoiaram a reforma da Previdência e trabalhista, arrancando o couro dos trabalhadores e dos pobres, para beneficiar banqueiros. Mas, quando Bolsonaro fala em fechar os outros poderes, não é para entregar o poder a nós de baixo, mas é para ele mandar sozinho e não deixar que quem discorda possa dar nem um pio, como era na ditadura; acabando com sindicatos, direito de greve, de opinião, de expressão, etc.

Por isso é necessário que os trabalhadores e o povo pobre tomem a dianteira na defesa das nossas reivindicações, mas também das liberdades democráticas, e não deixe essa tarefa para Maia, Toffoli, ou parte da cúpula das Forças Armadas. Se é necessária a soma de todos os esforços para derrotar Bolsonaro nesse projeto de ditadura, pois precisamos de liberdade para lutar, não se pode deixar essa bandeira nas mãos de setores da burguesia e seus representantes, pois estes, covardes, não são consequentes nem nisso.

Fora Bolsonaro e Mourão

Essa é a importância do próximo dia 18 de março, originalmente um dia de luta chamado pelos servidores públicos contra a reforma administrativa, e pelo setor da Educação, mas que vem se transformando num dia de mobilização de toda classe trabalhadora contra o desemprego, a MP 905,  e também contra as ameaças de ditadura de Bolsonaro. É preciso sair às ruas para derrotar esse projeto e, na luta, criar as condições para botar para fora Bolsonaro, Mourão e esse governo entreguista, autoritário e ultraliberal.

Nesse caminho, devemos apresentar uma alternativa socialista em prol dos trabalhadores e do povo pobre, defendendo a revogação dessas reformas, a soberania do país, a Petrobrás 100% estatal, o meio ambiente, as mulheres, os negros, indígenas, LGBT’s, etc. Vamos organizar a classe trabalhadora, a juventude e o povo pobre e lutar por um governo socialista dos trabalhadores, que governe através de conselhos populares. Ditadura nunca mais! Queremos os operários e o povo pobre no poder.