Bebianno na posse de Bolsonaro. Foto Agência Senado
Redação

Se existe crise e divisão no governo, em relação à reforma da Previdência estão todos unidos

No final da tarde desta segunda-feira, 18, o governo Bolsonaro finalmente oficializou a demissão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno (PSL), em meio a uma crise que vinha se arrastando há cinco dias. É a primeira e mais importante baixa do governo e expõe a crise interna dos diferentes setores que compõem o governo de ultradireita. É a segunda demissão mais rápida de um ministro pós-democratização, perdendo só para Romero Jucá no governo Temer em 2016.

Bebianno sofria uma longa “fritura” por parte do governo após denúncia revelada pelo jornal Folha de S. Paulo mostrando que o dirigente do PSL, e coordenador da candidatura Bolsonaro nas eleições, articulou uma série de candidaturas laranjas em seu partido. Em parte, para cumprir o mínimo exigido pela legislação de 30% de candidaturas mulheres, e também para desviar dinheiro fundo eleitoral que a sigla tem direito. Só uma das candidaturas teria recebido R$ 400 mil para angariar só 247 votos, indício do pomar que o partido de Bolsonaro plantou nessa campanha.

A gota d’água para a demissão ocorreu quando Bebianno divulgou ter conversado com Bolsonaro no dia em que este recebia alta do hospital Albert Einstein. Tentava passar a ideia de endosso do presidente à sua permanência no cargo. O filho de Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), porém, desmentiu publicamente a conversa e o chamou de “mentiroso”. Jair Bolsonaro confirmou a versão do filho, e o caldo entornou de vez.

O problema é que Bebianno não é um integrante qualquer desse governo tresloucado. É simplesmente o homem que articulou e atuou à frente da campanha de Bolsonaro à presidência. E nesses dias de “fritura”, deixou evidente que não cairia sozinho ou calado. Em declaração “vazada” à imprensa, chegou a dizer que tinha vergonha pelo papel cumprido na eleição de Bolsonaro. “É uma pessoa louca, um perigo para o Brasil“, teria afirmado.

A demora na demissão do ministro teve a ver com um complicado processo de negociação para sua saída. Primeiro, Bolsonaro ofereceu uma diretoria na Usina de Itaipu. Com a recusa de Bebianno, o governo ofereceu a embaixada do Brasil em Roma. Os próprios militares teriam entrado em cena para evitar um desfecho catastrófico ao recém-empossado governo.

O anúncio da demissão de Bebianno foi realizado de maneira cuidadosa. Bolsonaro divulgou vídeo em que elogia a “seriedade e a qualidade do trabalho” do ex-ministro, dias após tê-lo chamado de mentiroso.

Crise no laranjal
A primeira grande crise no Planalto mostra a divisão interna das facções que compõem o governo Bolsonaro, e a própria divisão da burguesia. Reforça ainda que o governo Bolsonaro é tão ou mais corrupto que os governos anteriores, fazendo exatamente o contrário do discurso anticorrupção que foi seu carro-chefe durante a campanha. Primeiro o laranjal do PSL, partido de Bolsonaro. Depois, a série de tentativas de desarmar a bomba-relógio representada pelas ameaças não tão veladas de Bebianno. Tentativa de abafa, troca de cargos públicos em troca de silêncio, tudo o que já estamos cansados de ver em governos anteriores.

Tanto esforço não foi por nada, certamente o homem forte do PSL tem muito a revelar sobre os meandros da candidatura Bolsonaro, e muito mais. Não se sabe o que mais foi prometido ao agora ex-ministro em troca de seu silêncio, mas pouca coisa não deve ter sido. Esse tipo de acordo, porém, está sempre submetido a uma série de “contratempos” e mudanças. Muita coisa ainda pode vir daí.

Reforma da Previdência
A crise no governo Bolsonaro ocorre às vésperas do envio do projeto de reforma da Previdência ao Congresso Nacional, prioridade absoluta do governo. A queda de Bebianno e o escândalo do laranjal do PSL deve dificultar a negociação do projeto com o Congresso. Os deputados e senadores vão aumentar o preço de seus votos para aprovar o projeto exigido pelos banqueiros. Bolsonaro, porém, já deu mostra de que não hesita em abrir o balcão de negócios e partir para o troca-troca descarado que tanto denunciava. Por outro lado, se essa crise expressa uma divisão da burguesia e do próprio governo, em relação à reforma da Previdência há a mais ampla unidade dos de cima.

É por isso que a classe trabalhadora, as centrais, os sindicatos, as organizações do movimento de massa como os movimentos sociais e populares, devem preparar desde já uma Greve Geral para derrotar essa reforma, a exemplo do que ocorreu em 2017 contra a reforma de Temer. No próximo dia 20, quarta-feira, ocorre em São Paulo a Assembleia Nacional da Classe Trabalhadora, que pode e deve ser um passo importante nesse processo.

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