Delúbio Soares, tesoureiro do PT
Foto de arquivo / divulgação

Como um simples sindicalista se tornou gestor do maior fundo do país e tesoureiro do PTDepois da reunião da executiva nacional do PT, realizada nesta quarta-feira, 8 de junho, na sede nacional do partido em São Paulo, o pivô do maior escândalo de corrupção do governo Lula, Delúbio Soares, concedeu uma tumultuada entrevista coletiva.

Delúbio, como era de se esperar, negou todas as acusações feitas por Roberto Jefferson (PTB-RJ). Na segunda-feira, Jefferson afirmou que Delúbio pagava uma mesada de R$ 30 mil a congressistas – o “mensalão” – em troca de apoio político ao governo. O tesoureiro disse também que é vitima de uma “chantagem” política. Mas quando foi questionado sobre que chantagem era essa, o dirigente petista esquivou-se. Também ficou nervoso quando jornalistas perguntaram se ele já tinha recebido presidentes de partidos aliados em sua casa. Primeiro, o tesoureiro afirmou que nunca recebeu nenhum presidente de partido. Pressionado por jornalistas, contudo, Delúbio voltou atrás e confessou ter recebido dirigentes de partidos.

Enquanto dava evasivas respostas aos jornalistas, a esposa do tesoureiro petista, sentada atrás dele, emitia sinais nítidos de tensão mordendo constantemente uma caneta. Depois de meia hora de perguntas, o presidente do PT, José Genoino, encerrou de forma atabalhoada a coletiva.

Quem é Delúbio Soares
Aos poucos, vai se revelando para o país esse personagem oculto do PT chamado Delúbio Soares. Nascido em Goiás, Delúbio, antes de se tornar o guardião do cofre petista, teve passagem pelo movimento sindical, chegando a ocupar o cargo de tesoureiro nacional da CUT.

Em meados dos anos 90, contudo, perde o cargo numa disputa para o sindicalista Gilmar Carneiro. Na época os dois faziam parte da corrente Articulação, grupo que dirige majoritariamente a central. Posteriormente, Delúbio é indicado como membro do conselho do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), conhecido como Codefat. Anos mais tarde assume a sua Presidência. A reportagem apurou que Delúbio já em 1997 assina documento do FAT como seu presidente.

O FAT é o maior fundo social do país, com o patrimônio, estimado em 2003, de R$ 81,57 bilhões. Seus recursos não são só constituídos pelo Tesouro, portanto, sua administração não é feita exclusivamente pelo Estado e sim por representantes do governo, de empresários e das centrais sindicais. Qualquer liberação de recursos passa pelo crivo do presidente do FAT. Dos recursos disponíveis para investimento, cerca de 40% devem ser destinados ao BNDES. Quer dizer, o FAT é uma das principais fontes de recursos do BNDES.

Ao ser criado, pela Constituição de 1988, o FAT teve como objetivo reunir recursos que permitissem qualificar trabalhadores. Mas seus recursos muitas vezes foram destinados a empresários que usaram o dinheiro para aumentar seus negócios que se aproveitaram de juros baixos, bem inferiores aos de qualquer banco. Alguns escândalos sobre o desvio de recursos do FAT foram publicados pela imprensa, como casos em Santa Catarina, Mato Grosso do Sul (Gestão Zeca do PT) e Distrito Federal (1999). Entretanto, apenas no Distrito Federal foi comprovado o caso mais escandaloso de desvio, que levou o governador Joaquim Roriz a demitir seu secretário de trabalho, Wigberto Tartuce. O empresário e amigo de Lula, Mauro Dutra, também já foi suspeito de desviar esses recursos. De 1997 até 2004, segundo apuração da revista Veja, a Ágora – uma ONG chefiada por Dutra – recebeu mais de R$ 25 milhões do FAT liberado pelos governos de Brasília, São Paulo e do Rio Grande do Sul. Entre 1997 e 1998, a ONG recebeu R$ 4,4 milhões do governo do Distrito Federal, administrado na época por Cristóvam Buarque (PT), para qualificar trabalhadores. O Ministério Público, no entanto, apurou que esse dinheiro remunerava os dirigentes da Ágora.

Festa no apê, ou melhor, na fazenda
Talvez tenho sido na época em que esteve à frente do maior fundo do país que Delúbio Soares abandonou seu hábitos de sindicalistas para assumir um comportamento tipicamente burguês. Logo depois que deixou o FAT, o tesoureiro do PT promoveu uma festança em Buriti Alegre, sua pequena cidade natal no interior de Goiás, no dia 6 de janeiro de 2003. Cerca de 18 jatinhos pousaram por lá, trazendo uma nobre comitiva que incluía os governadores Marconi Perillo (Goiás) e Zeca do PT (Mato Grosso do Sul), além do publicitário Duda Mendonça e do presidente do PL, Waldemar Costa Neto.

Por trás dos escândalos de corrupção envolvendo dirigentes petistas, esconde-se um componente fundamental: a mudança pelo qual esses dirigentes passaram nos últimos anos. As transformações não se limitaram a simples mudanças de hábitos. Ocupando cargos em Conselhos deliberativos de empresas, via Fundos de Pensão, por exemplo, ou como Delúbio, esses ex-sindicalistas foram acumulando bens e tornaram-se proprietários de empresas e incorporaram cada vez mais as práticas escusas do mundo dos negócios, fazendo da corrupção o seu método. Uma vez no governo, o deslumbramento pelo poder os transformou numa espécie de “novos ricos” da política nacional. No rastro de Delúbio seguiram Waldomiro Diniz, Sérgio Buratti e muitos outros não tão importantes assim. Esses senhores expressam a face mais gritante das transformações do PT.