Ex-tesoureiro do partido afirma que não tomou a decisão sozinhoApós quase três anos da crise do mensalão que abalou o governo Lula, praticamente paralisando o Congresso por um ano, as conseqüências das denúncias de corrupção ainda repercutem. O último capítulo dessa história ocorreu no dia 25 de janeiro, quando o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, acusado de corrupção ativa e formação de quadrilha, prestou depoimento à Justiça.

No depoimento de cerca de duas horas, Delúbio, apontado pelo próprio partido como um dos principais responsáveis pelo esquema de captação de recursos junto ao publicitário Marcos Valério, negou que agisse sozinho. “Não é verdade que eu tomo a decisão sozinho”, disse o ex-petista à juíza Sílvia Maria Rocha. O ex-tesoureiro do PT afirmou que contava com o aval de toda a Executiva do partido para buscar recursos a fim de pagar as dívidas de cerca de R$ 26 milhões contraídas durante a campanha eleitoral de 2002.

O então tesoureiro nomeou os principais dirigentes do PT como sendo co-responsáveis pelo esquema, citando nomes que vão de Marta Suplicy a Aloizio Mercadante e até mesmo Valter Pomar, dirigente da chamada “esquerda” petista. Delúbio recorreu ao publicitário Marcos Valério, que colocou suas empresas à disposição do petista para arrecadar os recursos. Com Valério, Delúbio teria conseguido R$ 55 milhões. Delúbio afirmou ainda estar “muito agradecido” a Marcos Valério.

O PT não quis responder às acusações de Delúbio, afirmando em nota à imprensa que se manifestará somente após a conclusão de todo o processo.

Impunidade
Nem bem começou a fase dos depoimentos dos acusados no processo do mensalão e a primeira pizza já saiu. O ex-secretário geral do PT, Sílvio Pereira, acusado de formação de quadrilha, firmou um acordo com a Procuradoria Geral da República que o livra do processo.

O acordo, realizado com o próprio procurador Antonio Fernando de Souza, autor da denúncia do mensalão ao Supremo Tribunal Federal, prevê a prestação de 750 horas de serviço comunitário em três anos. Além disso, Silvinho “Land Rover” Pereira terá que se apresentar todo o mês à Justiça e não poderá assumir cargos públicos nesse período. O ex-petista ficou famoso quando foi descoberto o jipe de luxo Land Rover que ele recebeu de presente da empresa GDK, que tinha contrato com a Petrobras.

Após o acordo, Silvio Pereira deixou o prédio da Justiça Federal exultante pela impunidade. “Foi feita Justiça. O resultado final é justo porque está previsto na lei. Estou muito contente com isso”, declarou sorrindo à imprensa.

Tendência
Esta semana tem sido de depoimentos dos acusados. Além de Delúbio, o ex-ministro José Dirceu também deu sua versão dos fatos à Justiça. No entanto, o processo do STF não tem data para terminar e segue caminhando lentamente. Tudo leva a crer que grande parte das acusações citadas, senão todas, irão prescrever ou cairão no esquecimento. Se isso ocorrer, um dos mais escandalosos casos de corrupção que se tem notícia na história do Brasil permanecerá impune. E seus autores livres, leves e soltos.