Muitas críticas à presença de militares brasileiros no Haiti. Esse foi o tom dos três representantes de movimentos sociais em Audiência Pública no Senado, nesta quarta-feira, 17. A audiência foi promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).

O haitiano Didier Dominique, representante do movimento Batay Ouvryie, afirmou que a presença de tropas da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) em seu país é parte de um projeto imperialista, cujo objetivo é aproveitar a mão-de-obra barata para indústrias que se instalam em novas zonas francas.

“Este é um projeto imperialista, do qual participa o vice-presidente brasileiro José Alencar, dono de empresas têxteis, que enviou seu filho para conhecer as zonas francas do Haiti”, disse o haitiano à Agência do Senado.

Frantz Dupuche, membro da Plataforma Haitiana em Defesa de um Desenvolvimento Alternativo, também foi contundente ao informar os senadores sobre as consequências da ocupação. “Vimos informar os senadores brasileiros que o desempenho da Minustah é um fracasso por não cumprir sua meta de estabilizar o país. Trouxemos fotos de zonas com hospitais e escolas que foram bombardeadas com gás [lacrimogêneo] pelos soldados da ONU” (Folha Online, 17/6/2009).

Participaram, também, da audiência o advogado Aderson Bussinger, integrante da Comissão de Direitos Humanos da seção do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que esteve no Haiti em 2007, Sandra Quintela, coordenadora da Rede Jubileu Sul, e Antonio Lisboa Leitão de Sousa, representante da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) que esteve no Haiti em maio.

Aderson disse que as tropas da ONU estão ajudando a polícia haitiana a reprimir o movimento sindical. Um exemplo citado por Sandra Quintela foi a mobilização por reajuste de salários realizado no início de junho que foi duramente reprimida pela polícia e por soldados da Minustah. Um estudante foi baleado na cabeça, durante manifestações na capital do país.

Outro exemplo foi a repressão ao ato realizado por trabalhadores no 1° de maio, lembrado por Antonio Lisboa que estava no Haiti nesta data como integrante de uma caravana da Conlutas. “O Brasil deveria se retirar imediatamente do Haiti, onde existe uma situação de típica ocupação , declarou Aderson Bussinger.

No final da audiência, o senador José Nery (PSOL-PA) propôs que uma comitiva de senadores visite em breve o país caribenho para se interar das denúncias realizadas pela delegação haitiana. Os representantes haitianos continuarão sua visita pelo Brasil até o dia 25.

Próximas atividades
Nesta quinta-feira, 18, Didier Dominique chega à Minas Gerais. No dia 19, sexta, o sindicalista haitiano vai participar de panfletagens na porta da Mannesmann e visitar duas ocupações realizadas por movimentos de luta pela moradia. Também haverá uma audiência com a presidência da Câmara de Vereadores, às 14h, e um encontro com a comissão de direitos humanos da Assembleia Legislativa de Minas.

Dominique também vai participar de uma palestra com a Conlutas, movimentos sociais e Sindicato dos Servidores Municipais de Belo Horizonte (Sindibel). O evento será às 17h30, no auditório do Sindibel, na Avenida Afonso Pena, 726, 8° andar.

Em São Paulo, está programado um debate com Carole Pierre Paul-Jacob para o dia 19, sexta-feira. O evento acontece a partir das 19h, na sala 239 da PUC-SP.