A representativa delegação internacional no 2º Congresso Nacional da Conlutas tem garantido uma rica troca de experiências e o fortalecimento dos laços de solidariedade internacional da classe trabalhadora. São mais de 20 países com representantes que participaram dos debates no plenário e nos grupos.

Vinda de bem longe, a delegação do Japão é uma das mais animadas e participativas. São 10 companheiros, entre trabalhadores ferroviários e estudantes de Tóquio e região metropolitana.

Oriundos de um dos primeiros setores fortemente atacados nos anos de aplicação do projeto neoliberal no Japão, no início da década de 1980, esses companheiros e companheiras têm protagonizado várias lutas e movimentos de resistência em seu país.

Membro executivo do Sindicato Nacional dos Ferroviários de Chiba – o DORO-CHIBA, Teruoka Seichii nos contou que o setor ferroviário é um dos mais atingidos pelas privatizações, situação que se agravou com a crise econômica mundial. Segundo Seichii, desde 1982, metade dos postos de trabalho da categoria foram destruídos. Dos 400 mil trabalhadores na década de 80, hoje existem apenas cerca de 200 mil.

“O ataque foi tão forte que, nesse processo, duzentos trabalhadores cometeram suicídio em meio às privatizações no Japão. Em nossa região, única em que houve resistência, isso não ocorreu”, contou.

Outro integrante da delegação, Yamamoto Hiroyuki, secretário do Comitê Internacional de Solidariedade ao DORO-CHIBA, ressaltou que os outros dois sindicatos nacionais de ferroviários existentes no país nada fizeram diante dos ataques. Ao contrário, aliaram-se ao governo nos ataques ao sindicato de Chiba, após as greves realizadas por esse sindicato em 1985 e 1986, quando foram demitidos 40 trabalhadores e, no ano seguinte, mais 1.047. “Desde o início das privatizações eles nunca fizeram uma luta, uma greve”, denunciou.

Os ataques também se estenderam a outros segmentos. Yosuke Oda, presidente da Federação Nacional de Estudantes do Japão, estudante da Hosei, universidade de Tókio com 30 mil alunos e principal centro da resistência estudantil japonesa, nos contou que na educação, a política de privatização também foi aplicada, precarizando o ensino.

Apesar de ser um sindicato pequeno, com cerca de 400 trabalhadores sindicalizados, o DORO-CHIBA vem cumprindo um destacado papel de resistência contra os ataques não só aos ferroviários, mas também a outras categorias e setores no Japão.

“Desde 1989, estamos construindo uma coordenação central nacional de sindicatos, NCCTU. Nesses anos os trabalhadores foram individualizados. Mas a luta em Chiba tem servido de exemplo em todo o país e por causa da nossa luta, temos sido procurados para participar e apoiar outras mobilizações”, contou Hiroyuki.

Segundo Seichii, o DORO-CHIBA realiza um encontro anual que costuma reunir cerca de 6 mil trabalhadores e ativistas do país.

As impressões sobre o Brasil
A delegação do Japão fez questão de elogiar a realização do Congresso da Conlutas e a busca da unidade que representa o encontro. “É uma luta maravilhosa e o que estamos vendo aqui, aprendemos muito e vamos levar para o Japão”, disse Kunio Yoneda.

“Mesmo com algumas dificuldades em razão do idioma, podemos ver que a luta dos trabalhadores é a mesma, seja no Japão, Brasil, Europa ou Estados Unidos. Mas o mais importante é que aqui estamos vendo o essencial, que é possível a unidade na luta, entre trabalhadores da cidade, do campo, estudantes, em todo o mundo”, disse Yamamoto Hiroyuki, resumindo na verdade a importância do internacionalismo e da unidade da classe operária, dois desafios que os congressos da Conlutas e de Unificação se propõem a enfrentar.