No último dia 13 de março aconteceram atos organizados pela CUT, FUP, MST, UNE e vários movimentos sociais, centrais sindicais e partidos da base aliada do governo Dilma. Em princípio, o chamado do ato apontava que as manifestações ocorreriam “em defesa da Petrobras”, “contra a retirada de direitos” e “por uma reforma política”.

Os atos do dia 13 acontecem numa semana bastante polarizada. No dia 15 aconteceriam manifestações convocadas pela direita que pedem o impeachment da presidente Dilma. Além disso, os dados da operação Lava Jato começam a se tornar públicos e a lista de políticos envolvidos tem gerado ainda mais revolta popular.

Infelizmente, a essência dos atos chamados pela CUT nada tinha a ver com as pautas que diziam defender. Os atos deixaram claro que a pauta central era a defesa do governo Dilma, contra um suposto “golpe da direita”. Centenas de bandeiras da campanha de Dilma estavam espalhadas pelos atos em todo o país. Gritos de “Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma…” eram ouvidos em alto e bom som! Nos carros de som ou à frente dos atos, faixas davam o recado: “Não vai haver golpe”!

Os dirigentes sindicais e do movimento social que discursavam não conseguiam esconder os reais propósitos da convocação do ato e as falas quase não tocavam nos ataques do governo aos direitos dos trabalhadores; na reivindicação de revogação imediata das Medidas Provisórias 664 e 665 (que ataca direitos trabalhistas e previdenciários como o seguro-desemprego e pensão por morte); na exigência da saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e seu plano de austeridade; na defesa de uma Petrobras 100% estatal com suspensão da privatização, terceirizações e leilões do petróleo, eleições para direção da empresa, prisão e confisco dos bens dos corruptos e corruptores, estatização das empresas que desviaram bilhões de reais da Petrobras e manutenção dos empregos dos trabalhadores que estão sendo demitidos.

Os discursos eram uma reafirmação da defesa do projeto “vitorioso nas urnas” e contra o golpe da direita, como se o projeto aplicado por Dilma fosse oposto ao projeto que o PT vem aplicando no Brasil há 12 anos e que ganhou as eleições em 2014.

Ao contrário do que estava nas chamadas dos atos, o que se viu foi a tentativa de mostrar para Dilma que ela não está sozinha e que, independente do ato da direita no domingo, os movimentos que convocaram o dia 13 não vão abandoná-la, apesar de todos os ataques que o governo está fazendo contra os trabalhadores.

Na Bahia, uma presença nada ilustre!
Dentre os nomes convocados para “defender a Petrobras”, um nome nada ilustre figurou entre os oradores em cima do trio. Trata-se do ex-presidente da Petrobras e antigo militante do PT, José Sérgio Gabrielli, que um dia antes havia dado depoimento na CPI da Lava Jato no Congresso Nacional. Gabrielli passou a ser alvo de acusações após o escândalo da compra da refinaria de Pasadena, operação que passa por investigações de superfaturamento e evasão de divisas.

Gabrielli foi convocado a depor pois diversas obras que foram realizadas em sua gestão como presidente estão citadas na operação Lava Jato, a exemplo da construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. A obra teve seu custo inicial elevado de US$ 2 bilhões para US$ 18,8 bilhões. No depoimento à CPI, Gabrielli reconheceu que os custos da construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, ficaram fora “dos padrões internacionais” e que isso se deveu às variações no câmbio do Dólar e ajustes no projeto.

 Para o grande “defensor da Petrobras”, não há “corrupção sistêmica” na empresa e os desvios são casos isolados dentro da empresa e que “os números confirmados de corrupção pela Operação Lava Jato são relativamente pequenos quando comparados ao volume total de recursos investidos pela empresa” e que a corrupção na empresa é “indetectável”.

Infelizmente, os esforços da CUT e dos outros movimentos que convocaram o ato no dia 13 não estão colocados de fato para defender os interesses dos trabalhadores. Não é possível defender uma Petrobras sem assumir a bandeira da “Petrobras 100% Estatal”, pondo fim à privatização da empresa que iniciou no governo FHC e foi aprofundada nos governos Lula e Dilma.

Defender a Petrobras é defender a prisão e confisco dos bens de corruptos e corruptores, pondo fim às terceirizações, que é a base dos problemas de corrupção na empresa e tem prejudicado milhares de trabalhadores. Não é possível contar como aliados na defesa da Petrobras políticos que receberam milhões no financiamento de campanha das empreiteiras e de executivos da empresa envolvidos nos escândalos de corrupção.

Defender a Petrobras ao mesmo tempo em que tenta defender o governo Dilma é uma situação irreconciliável, pois infelizmente os governos do PT não acabaram com a privatização e com os esquemas de corrupção na empresa, que iniciaram na ditadura militar e foram fortalecidos pelos governos de direita.

Um chamado à CUT, MST, FUP, UNE, CTB e demais entidades
Há um novo momento político no Brasil, mas não há qualquer ameaça de golpe que mereça uma mudança de foco nas mobilizações dos trabalhadores. A tarefa dos lutadores para o momento atual é lutar contra os planos de ajustes do governo Dilma, que, é verdade que se diga, seriam aplicados por Aécio caso ele fosse eleito. Golpear pela esquerda o governo Dilma é a única saída consequente para o momento político atual.

É preciso combater a velha direita e também o governo e seus ataques aos trabalhadores desde já. Para isso, é preciso unificar os trabalhadores em um só campo. É preciso que se rompa o apoio político que as maiores organizações sindicais e populares desse país dão ao governo e a construção de um pólo independente dos trabalhadores que possa organizar o povo para ir às ruas de forma consequente para lutar contra a retirada de direitos, contra os ajustes do governo Dilma e contra a pauta da direita conservadora.

Façamos atos unitários que tenham como pauta de exigências e reivindicações a revogação das Medidas Provisórias que atacam direitos trabalhistas e a Previdência, o arquivamento do PL 4330 das terceirizações, o fim das demissões e a defesa da estabilidade no emprego, contra os cortes do orçamento da saúde e educação, a suspensão do pagamento da dívida pública aos banqueiros e uma Petrobras de fato “100% estatal”.

Os trabalhadores podem dar uma saída para o momento atual, mas é preciso deixar para trás os compromissos com os governos e apostar no poder de mobilização da nossa classe.