Dirigente da Fifa, José Maria Marin, era ligado e defendia a ditadura e torturadores

Em 2013, Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog, apresentou um pedido à CBF defendendo que José Maria Marin não a representasse frente à Copa do Mundo de 2014 devido às evidências que o ligam ao regime de exceção que dominou o Brasil entre 1964 e 1985. Marin ajudou a dar sustentação política à ditadura. Era “como se a Alemanha tivesse permitido que um membro do antigo partido nazista tivesse organizado a Copa de 2006“, afirma a petição pública divulgada na época.

Entre as figuras públicas que assinaram o documento estavam Chico Buarque de Hollanda e Fernando Gabeira. Infelizmente, o pedido não foi aceito.  A confederação afirmou que o assunto não dizia respeito a eles, mas logo passou a defendê-lo. Agora Marin está preso, mas por corrupção. Porque, infelizmente, o Brasil continua carregando o título de campeão da impunidade, pois nenhum agente de Estado envolvido com torturas, estupros e sequestros foi preso ou está sendo processado. Mesmo depois da Comissão da Verdade verificar a veracidade destes crimes e identificar os criminosos.

Agente da ditadura
Vladimir Herzog foi assassinado em 1975 quando estava ilegalmente detido nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Informações de Defesa Interna (DOI-Codi), controlado pelo Exército, em São Paulo.

José Maria Marin era deputado estadual filiado ao partido da ditadura: a Arena. Em 9 de outubro de 1975, Marin utilizou-se de um aparte durante uma sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo para pedir providências aos governos militares contra a atuação de militantes de esquerda na TV Cultura, emissora em que Herzog trabalhava como diretor de jornalismo. O discurso está registrado no Diário Oficial de São Paulo.

Dezesseis dias depois, no dia 25, Herzog foi ilegalmente detido e assassinado no DOI-Codi.

Os discursos de Marin intimidavam a equipe de jornalismo da emissora e das demais redes de comunicação e servia de justificava para os crimes cometidos. Não foi Marin que assassinou Herzog, mas seus discursos ajudavam a impunidade que gozavam os agentes da ditadura.


Marin e Maluf na época da ditadura

Um ano após a morte de Herzog, em 7 de Outubro de 1976, Marin fez um discurso de elogio ao delegado Sérgio Fleury, personagem ativo da repressão e violência durante a ditadura. Marin disse que Fleury “deveria ser uma fonte de orgulho para a população de nossa cidade.”  Discurso também reproduzido pelo Diário Oficial.

José Maria Marin também foi ex-governador biônico na época da ditadura. Recentemente, foi flagrado furtando uma medalha durante a premiação da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a qual colocou no bolso. Literalmente, é capaz de roubar até doce de uma criança ou medalhas de nossos juniores.

Corrupção pesada na Copa do Mundo
Agora, José Maria Marin e outros seis dirigentes podem pegar 20 anos de prisão em virtude de irregularidades em contratos de torneios esportivos na América, de acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e o FBI. É acusado de extorsão, fraude, lavagem de dinheiro, entre outras irregularidades como gestão desleal em relação com a escolha das sedes da Copa do Mundo de 2018 e 2022.

A investigação aponta subornos de US$ 150 milhões (equivalente a mais de R$ 450 milhões) em questões ligadas a transmissão de jogos e direitos de marketing do futebol na América do Sul e Estados Unidos.

O ex-presidente da CBF, de 83 anos, está detido em Zurique. E já há pedido de sua extradição para os Estados Unidos.

Suborno em contratos da Copa do Brasil e Libertadores
A Traffic, do empresário brasileiro José Hawilla, maior agência de marketing esportivo da América Latina, é apontada pela investigação como um dos principais canais de desvios de recursos e propinas. A empresa é detentora dos direitos de transmissão da Copa do Brasil, Libertadores e Copa América. Hawilla se comprometeu à Justiça norte-americana devolver US$ 150 milhões.

A investigação realizada pela Procuradoria de Nova York descobriu que o ex-presidente da CBF seria um dos cinco beneficiários de uma propina de US$ 110 milhões (R$ 346 milhões) pagas pela empresa uruguaia Datisa, criada pela Traffic e por outras duas agências de marketing para negociações de direitos de transmissão da Copa América.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Marin recebeu R$ 2 milhões em propinas para cada edição da Copa do Brasil. O suborno tinha como intuito facilitar os direitos comerciais do torneio.

O Departamento de Justiça dos EUA também mira o contrato da CBF feito com a Nike. Incluindo também as Eliminatórias da Concacaf, a Copa Ouro da Concacaf, a Liga dos Campeões da Concacaf, a Copa América da Conmebol, a Copa Libertadores da Conmebol e a Copa do Brasil, que é organizada pela CBF.

A CBF, demonstrando que é o centro da cartolagem, divulgou uma nota defendendo Marin. E o ministro do Esporte, George Hilton, descartou a possibilidade de o governo brasileiro abrir uma investigação própria sobre a confederação de futebol, pois não haveria até o momento indícios de ilícitos na escolha do Brasil para a sede da Copa do Mundo.

As acusações, segundo a polícia suíça, estão relacionadas a um vasto esquema de corrupção de mais de US$ 100 milhões dentro da Fifa nos últimos 20 anos, envolvendo fraude, extorsão e lavagem de dinheiro em negócios ligados a campeonatos na América Latina e acordos de marketing e transmissão televisiva.

Um triste exemplo
Corrupção e repressão sempre andaram de mãos dadas e durante a ditadura são inúmeros os exemplos em que militares e empresários estiveram envolvidos em escândalos de corrupção, a maioria das vezes silenciados pela censura.

Jose Maria Marion hoje vai preso por mais um escândalo de corrupção. Este exemplo deveria ser seguido pelo governo Dilma e o Ministério da Justiça abrindo processos para punir os agentes de Estado que cometeram crimes durante a ditadura e os empresários que se beneficiaram com a repressão que foi feita contra os trabalhadores.

Enquanto não houver Punição e Reparação não haverá Justiça.