No momento em que escrevemos esta nota uma onda de pânico se espalha em São Paulo. Depois de três dias de atentados (e motins em penitenciárias) atribuídos ao PCC, muitos trabalhadores sentem-se inseguros para ir ou permanecer no trabalho, assim como os estudantes temem ir para as escolas. Muitas linhas de ônibus estão recolhendo seus veículos, empresas e escolas fechando as portas, dispensando funcionários e estudantes.

O governador do Estado de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), deu uma declaração ridícula de que “tudo está sob controle”, esquecendo de dizer sob controle de quem. O governo Lula quer se aproveitar eleitoralmente do caso, e se dispõe a “mandar tropas federais”, insistindo na mesma política já usada no Rio de Janeiro. Neste estado, o exército, depois de duas semanas reprimindo a população, só conseguiu reaver fuzis roubados depois de negociar com os bandidos, mostrando toda a ineficácia dessa solução.

Os trabalhadores e estudantes têm toda a razão de repudiar a ação dessas máfias, como o PCC, que aterrorizam a cidade. E têm também completa razão quando repudiam os governos federal e estadual pela situação atual. Agora, tanto o governo federal como o estadual vão tentar utilizar estes fatos para justificar uma repressão mais dura contra os trabalhadores e a juventude negra.

O PSTU vem a público para afirmar que o que está acontecendo é o atestado de falência da política de segurança tanto do governo estadual (PSDB-PFL) como do federal (PT). Em todas as campanhas eleitorais eles falam deste problema, e apontam como solução aumentar os efetivos policiais ou usar as Forças Armadas como polícia. Em nenhum momento colocaram em questão o modelo econômico e a corrupção do Estado, da polícia e da justiça.

É impossível pensar que a solução para a violência seja reforçar a polícia, pela simples razão de que ela esta é uma das bases da própria violência. Sem a corrupção da polícia e do judiciário seria impossível a organização destes atentados pelo PCC desde dentro dos presídios, com armas e celulares. A cada ano aumenta o número de policiais e a corrupção segue aumentando. O resultado está a vista: nunca houve tantos policiais no país, e nunca na história tinha ocorrido ocorreu uma onda de violência urbana tão grande como nos últimos três dias.

É impossível conter a violência sem acabar com as suas causas. O desemprego em massa e a miséria, produtos do capitalismo neoliberal são as causas básicas da violência. As máfias do narcotráfico e do seqüestro recrutam a juventude pobre sem alternativas nem perspectivas. Sem resolver este problema, nenhum outro será solucionado. Sem parar de pagar as dívidas externa e interna aos banqueiros não haverá emprego nem educação para a juventude, e essas máfias continuarão com sua base social. A outra face dos lucros escandalosos dos banqueiros neste país é o aumento da violência urbana.

É impossível acabar com o narcotráfico com a repressão, como se demonstra a cada dia. A ilegalidade das drogas até hoje só fez surgir um enorme mercado ilegal, com lucros fabulosos e sem impostos para os traficantes e os banqueiros, comerciantes, policiais e juízes corruptos ligados a eles.

E é impossível ainda “prender os bandidos” se não se começa por prender os grandes ladrões deste país. Qual é a autoridade moral do PT e do PSDB-PFL, que acobertam os corruptos do parlamento, para punir os outros ladrões?

Defendemos o direito democrático dos trabalhadores de ficarem em casa, não indo trabalhar para defender suas vidas e a de seus filhos. Os estudantes têm o direito de não ir a escola. E responsabilizamos os governos federal, estadual e municipais pela segurança dos trabalhadores e estudantes.

São Paulo, 15 de maio de 2006

Direção Nacional do PSTU