Da Praça Tahir a Syntagma, da Plaza del Sol a Ocuppy Wall Street, as mulheres estão na luta

Não ao machismo e à opressão!
Em defesa dos direitos das mulheres: abaixo os planos de ajuste!
Que os capitalistas paguem pela crise!

Uma das imagens mais impactantes que percorreu o mundo foi a de uma ativista egípcia sendo brutalmente agredida, arrastada, pisoteada e com sua roupa sendo arrancada pelos soldados do exército egípcio.

Uma cena que marca a brutalidade, a barbárie e a injustiça capitalista expressa em uma furiosa violência machista. Mas também mostra a firmeza, a valentia e a coragem das que lutam. Uma cena, entre tantas, que imprimiu às revoluções no norte da África e do Oriente Médio, além do protagonismo popular e da juventude, um rosto de mulher.

No Egito foram as mulheres operárias do setor têxtil quem fizeram a primeira greve que originou o ascenso operário contra Mubarak. Foram elas que percorreram as demais fábricas para convencer seus colegas de classe a se unirem à greve. Esta mesma fábrica têxtil de Mahalla al Kubra, convocou a greve de 6 de abril de 2008, ocasião em que foram duramente reprimidas.

Os jovens que iniciaram os protestos na Praça Tahir, depois se denominaram movimento 6 de abril, em apoio à classe operária têxtil. Enfrentando a ditadura e a opressão, as mulheres, com véus e sem véus, estiveram na Praça Tahir e continuam na luta, enfrentando o governo e também o machismo.

Na Europa, do outro lado do oceano, a crise capitalista e os sucessivos planos de ajuste, cortes e superexploração contra a classe trabalhadora, atingem profundamente as mulheres e seus direitos, conquistados com muita luta. É sobre as mulheres e demais setores oprimidos, como os imigrantes e a juventude, que primeiro recaem os efeitos da guerra social que os capitalistas estão levando adiante contra a classe trabalhadora. Junto a destruição do chamado Estado de Bem Estar, estão atacando todas as conquistas que as mulheres trabalhadoras obtiveram.

Diante disto, há anos os governos capitalistas procuram apresentar uma mentira: a de que as mulheres estariam praticamente emancipadas sob este sistema, cuja característica principal é a exploração e a desigualdade.

A verdade é que a desigualdade e a opressão são uma arma útil à exploração. Inclusive nos países onde a classe e as mulheres obtiveram mais conquistas, estamos longe de ter igualdade: as mulheres ganham um salário inferior que os homens em todo o mundo. Estas cifras variam de 16% na Suécia ou Dinamarca, a 23% na Alemanha, a 33% no Brasil e entre 26 e 30% na Argentina.

A violência é outro dado aterrador que vem aumentando em todo mundo. A pobreza e a fome atingem mais as mulheres: 70% dos que vivem mergulhados na pobreza são mulheres.

As mulheres, que nos anos de crescimento econômico são superexploradas e incorporadas ao mercado de trabalho ganhando menos, em anos de crises, em geral, são as que carregam o custo dos ajustes e cortes sociais.

É verdade que nós mulheres, especialmente como produto da luta das trabalhadoras de conjunto, obtivemos uma série de conquistas. Mas todas elas estão permanentemente ameaçadas.

Na Europa de hoje, por exemplo, todos os governos aplicam os planos de ajuste da troika, da União Europeia, do FMI, planos que estão atacando todos os direitos duramente conquistados. Cada corte social gera desemprego e, especialmente neste momento, com as demissões no serviço público, demissões em massa de mulheres em setores como educação e saúde, por exemplo, além de jogar para o âmbito doméstico tarefas que antes eram realizadas pelo Estado, como o cuidado de doentes, idosos, crianças ou inclusive a tentativa de dificultar ou diminuir a duração da licença-maternidade. Às medidas práticas, acrescenta-se uma campanha reacionária e conservadora em defesa de que o lugar da mulher é no lar. A igreja, por exemplo, em países como Espanha e Portugal, através dos bispos tem feito declarações nos meios de comunicação dizendo diretamente este tipo de aberrações.

Há uma ofensiva ideológica também contra o aborto legal e de medidas práticas, com cortes na saúde e direitos, que o dificultam, como na Inglaterra e Espanha. As leis que existiam em prol da igualdade, que não eram aplicadas e nem garantiam efetivamente a igualdade, estão na mira, o que aprofundará em muito a desigualdade, a opressão e, com isto, a exploração da classe operária de conjunto.

Mas também nas manifestações na Europa, as mulheres estão em luta e, como no Egito, se destacam e têm grande peso, como nas últimas manifestações multitudinárias que ocorreram no Estado espanhol.

Na América Latina temos a dupla jornada, a desigualdade salarial, a falta de creches, a crescente violência contra as mulheres e a impunidade dos assassinos, como no Brasil, ou diretamente a fome, como no Haiti, ou ainda o fato terrível da morte de mulheres por abortos mal feitos e de forma clandestina, por não ser legalizado e ainda ser criminalizado. Muitas mulheres morrem por abortos feitos em condições precárias.

Da mesma forma em que as mulheres são as primeiras a sofrer as consequências das injustiças e ataques dos governos, também estão entre os primeiros a sair a lutar.

Assim foi com outra foto divulgada nas redes sociais: a de uma mulher do Pinheirinho, (bairro com mais de 6.000 pessoas construído a partir da ocupação de terrenos urbanos no Brasil), com seus filhos, rodeada de fogo e bombas que a polícia lançava durante a desocupação violenta que realizou nesse bairro, uma ação autoritária e de violação flagrante dos direitos humanos, que impactou os brasileiros e repercutiu no mundo.

As “damas de ferro” não nos representam
O capitalismo e muitas organizações de mulheres querem apresentar como uma conquista que nos beneficiaria os governos capitalistas de Ángela Merkel, na Alemanha; Cristina Kirchner, na Argentina; ou inclusive Dilma Rousseff, no Brasil. Como se as mulheres burguesas e trabalhadoras fossem iguais, bastando apenas conquistar mais lugares para as mulheres sob o capitalismo.

Mas a opressão da mulher trabalhadora é diferente da que sofre a mulher burguesa, pois para nós a opressão significa exploração e dupla jornada. E cada mulher capitalista, mais ainda as dirigentes capitalistas, atuam em prol do aprofundamento da opressão das mulheres, na medida em que conduzem os cortes e a exploração.

Cumprem um papel absolutamente reacionário, como por exemplo, o da vice-presidenta do governo de Rajoy na Espanha, Soraya Sáenz de Santamaría, que recentemente defendeu que as mulheres possam ter as licenças-maternidade diminuídas, para apenas 10 dias após o parto, colocando-se como exemplo. Para ela é fácil, pois esta conservadora tem todas as condições para explorar outras mulheres e fazer com que cuidem de seus filhos, além de revelar uma profunda ignorância sobre as necessidades de cuidado das crianças.

Em plena ofensiva contra a classe operária e sobre as mulheres trabalhadoras, apresenta-se como um grande filme e exemplo a vida de Margareth Thatcher, a “Dama de Ferro”, como se uma das maiores defensoras da exploração e da desigualdade no mundo fosse uma conquista da emancipação das mulheres.

Ou mais ainda Dilma Rousseff, em quem a classe operária e as mulheres têm muita expectativa, mas que, para garantir suas alianças com a classe dominante e com a Igreja, não se opõe à campanha reacionária contra a descriminalização do aborto, colocando em risco de retrocesso a pouquíssima assistência que as mulheres têm neste caso.

Nós da LIT-QI dizemos claramente: Estas mulheres não nos representam!

Trabalhadoras e trabalhadores unidos contra os governos capitalistas e a opressão A igualdade não é possível sob o capitalismo, já que este sistema é campeão em desigualdade.

As mulheres têm que lutar quotidianamente pelos mais mínimos direitos sob este sistema, para conquistá-los e defendê-los. Mas cada conquista mínima estará sempre ameaçada, porque a razão de ser do capitalismo é o lucro e a exploração em benefício do sistema financeiro e dos capitalistas. E os capitalistas usarão permanentemente a discriminação como arma para conseguir mais exploração.

Assim mantém sob a opressão mais da metade da população do planeta, as mulheres. A opressão atinge mais ainda as mulheres que integram outros setores oprimidos pelo capitalismo, como as mulheres jovens, negras, imigrantes ou lésbicas.

Na crise econômica mundial em que vivemos, esta face perversa se aprofunda e os ataques se tornam mais brutais e colocam em risco todas as conquistas duramente obtidas.

Nesta luta, as mulheres burguesas em geral estão com sua classe, defendendo os planos de ajustes.

Em algumas lutas, mulheres burguesas podem somar-se, como na defesa da legalização do aborto, mas estarão sempre limitadas em sua atuação, sobretudo em tempos como este, onde se trata de se enfrentar duramente com os governos capitalistas e seus planos de exploração.

Mas a conquista da emancipação só poderá ocorrer sob outro sistema, sob um sistema sem exploração que só é possível se fizermos a revolução socialista. E esta luta une as mulheres e homens da classe trabalhadora.

Os trabalhadores precisam assumir conosco a luta contra a opressão, pois a revolução socialista é impossível sem a participação das mulheres
A classe trabalhadora de conjunto, ou seja, também os homens da classe trabalhadora precisam assumir as bandeiras da emancipação e libertação das mulheres e as lutas por nossos direitos.

Pois os homens trabalhadores que defendem ou praticam o machismo, fazem, consciente ou inconscientemente, o jogo que quer o sistema, a patronal e seus governos.

A luta contra a opressão e as desigualdades precisa ter voz na luta da classe trabalhadora, para fazê-la mais forte agora mesmo na luta geral para que esta crise não seja paga por nós, trabalhadoras e trabalhadores.

E também porque devemos lutar por um mundo sem exploração, mas também sem opressão.

As mulheres devemos continuar nos somando à luta!
Cada vez somos mais as mulheres trabalhadoras que nos somamos à luta em defesa de nossos direitos, na luta contra os cortes e “ajustes”, na luta contra o capitalismo e seus governos, na luta pelo socialismo. É dever das e dos revolucionários impulsionar uma maior participação das mulheres em suas organizações e incorporá-las à luta. Isto é estratégico, pois, sem a participação efetiva das mulheres (metade da força de trabalho no mundo), não existe possibilidade manter ou obter novas conquistas, muito menos de chegar ao socialismo.

Por isso, neste 8 de março, a LIT-QI faz um chamado a todas as mulheres trabalhadoras a se organizar, a sair a lutar e, nesse mesmo processo, a construir conosco, homens e mulheres, partidos revolucionários como parte de uma Internacional.

  • Que os capitalistas paguem pela crise!
  • Em defesa dos direitos das mulheres: abaixo os planos de ajuste!
  • Em defesa dos serviços públicos!
  • Contra o desemprego: redução de jornada de trabalho sem redução de salário!
  • Salário igual para trabalho igual!
  • Fim de toda violência contra a mulher!
  • Castigo exemplar para assassinos, agressores ou violadores de mulheres!
  • Despenalização e legalização do aborto: Anticonceptivos para não abortar, aborto legal seguro e gratuito para não morrer.

    Secretaria Internacional da Mulher
    Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional

    Março de 2012
    www.litci.org