Viva a revolução árabe! Viva a luta de todas as trabalhadoras do mundo!

Saudamos as lutas das mulheres trabalhadoras de todo mundo, em especial as que foram e estão sendo protagonistas da revolução árabe.

Os meios de comunicação em massa, quando se referem às mulheres destas regiões, sempre nos falam dos terríveis abusos que sofrem: apedrejamento, mutilação genital. Mas nada nos dizem da luta que estas mulheres vêm desenvolvendo, há muito tempo, em defesa de seus direitos. Hoje, no calor da revolução, podemos vê-las em toda sua grandeza, participando nos confrontos, não como pessoas isoladas, mas como parceiras de luta dos homens que se rebelam contra os regimes totalitários de Ben Ali, Mubarak e Kadafi.

Foi um grupo de mulheres que começou a protestar contra o regime de Ben Ali. Estas mulheres, entre as quais pode ser mencionada Radhia Nasrauoi (presidente da Associação Tunisiana de Luta contra a Tortura), tiveram que pagar sua ousadia com ameaças de morte, perseguições da Polícia Secreta e inclusive acusações de sodomia, a partir de montagens de fotos e vídeos forjados que passam na Internet.

E no Egito as mulheres estiveram nas primeiras filas durante a queda de Mubarak. Amel Said, uma trabalhadora egípcia, explicou ao jornal La Vanguardia de Barcelona que sua família (inclusive seu marido) incentivou sua participação. E diz que sua esperança é que “agora as mulheres terão voz nos assuntos do Egito”. As mulheres egípcias permaneceram nas ruas desde o primeiro minuto do protesto. As idosas forneciam água aos que sofriam os efeitos do gás lacrimogêneo. As mães, esposas e irmãs carregavam cartazes, levavam seus filhos às manifestações ou preparavam alimentos. Lado a lado, com os homens de sua família ou seus colegas de trabalho, conquistaram a Praça da Libertação e ali dormiram, passearam com seus filhos nos ombros e gritaram suas reivindicações de democracia e liberdade. Foram as 3 mil mulheres trabalhadoras da maior fábrica estatal têxtil Hilaturas Misr, situada em Mahala, que em dezembro de 2006 percorreram toda a fábrica, de 24 mil trabalhadores, para iniciar a primeira grande greve que acordou ao movimento operário egípcio. Foi essa mesma fábrica que organizou a greve de 6 de abril de 2008, dando nome ao movimento que iniciou as mobilizações que derrubaram Mubarak.

Não é casual esta participação das mulheres trabalhadoras e pobres. Elas, da mesma forma que suas irmãs do ocidente, sofrem as consequências das políticas capitalistas. “Eu pago 600 libras (80 euros) de aluguel e recebo 300 libras por mês”, dizia Umm Yasir, uma servidora estatal de 33 anos. E acrescentava que seu marido, também trabalhador do Estado, ganhava o mesmo, com os quais eles e seus três filhos tinham que viver. Por isso, dizia outra ativista: “vemos muitas mulheres, islâmicas ou não, com véu ou sem véu, unindo-se e colocando-se à frente do que passa na rua. Esta é a verdadeira igualdade e nunca voltaremos ao ponto de partida”.

“Só me sinto segura quando estou em Tahrir (Praça da Libertação)”, diziam muitas mulheres. “Nestes dias de revolução ninguém nos tocou, nem assediou, sentimo-nos alguém”. E isso foi fruto da revolução, muito importante destacar, pois não tem nada a ver com a realidade quotidiana destas mulheres. No Egito, segundo um estudo do Centro Egípcio para os Direitos das Mulheres, 83 % das mulheres locais e 98% das estrangeiras são hostilizadas sexualmente e há um caso de abuso sexual ou estrupo a
cada 30 minutos, ocasionando 20 mil vítimas por ano.

Estas mulheres suportam séculos de opressão e estão nos dando um grande exemplo. Mas não são as únicas que estão na luta. Mulheres trabalhadoras e jovens estudantes da França, Grécia, Espanha, Itália, Portugal e Inglaterra participam ativamente das lutas de resistência que sacodem ao velho continente. Vemo-las brigando por emprego, salário, condições de trabalho e defesa dos direitos humanos nos países latino-americanos, inclusive em Cuba. E são protagonistas também do despertar do proletariado norte-americano, como se vê nas mobilizações de Wisconsin.

A mulher e a crise capitalista
A crise, com epicentro na Europa e nos EUA, golpeia principalmente os setores mais frágeis do proletariado, as mulheres e os imigrantes.

Os cortes na saúde e educação fazem com que o desemprego entre as mulheres aumente e que, além disso, sofram com a redução dos serviços destinados à maternidade. Uma situação parecida ocorre nos EUA, onde a mulher ocupa a maioria dos postos de trabalho na educação e onde o Ministério da Educação, em 2010, estimava que os cortes do orçamento punham em perigo cerca de 300 mil postos de trabalho nas escolas públicas. E isto numa situação em que cerca de um terço das mulheres trabalhadoras norte-americanas são chefes de família.

E esta realidade faz-se ainda mais grave quando se trata da mulher imigrante, Ela é discriminada como trabalhadora, como mulher e como imigrante. As leis de imigração convertem a vida dos imigrantes, homens e mulheres, em um inferno. A lei conhecida como a “Lei da vergonha”, aprovada pela Comissão Europeia em junho do 2008, permite encarcerar o imigrante sem papéis durante 18 meses.

Uma denúncia da organização Médicos Sem Fronteiras joga luz à violência sexual sofrida por mulheres subsaarianas, detidas no Marrocos quando tentavam chegar à Europa. Entre maio de 2009 e janeiro de 2010, uma em cada três mulheres atendidas pela Médicos Sem Fronteiras, em Rabat e Casablanca, admitiu ter sofrido um ou vários ataques sexuais, estando fora de seu país de origem. O documento de denúncia conclui dizendo que: “o uso da violência sexual converte-se assim em uma das práticas violentas mais habituais contra a mulher no contexto do fenômeno migratório”.

O aumento da violência contra a mulher
A crise econômica, o desemprego, a falta de perspectivas, agudizam a violência contra a mulher. O estudo A crise invisível? revela o aumento de vítimas de violência doméstica na Bulgária, Estônia, Irlanda, Holanda, Escócia, Romênia e Eslováquia; aumento do tráfico de mulheres na Alemanha, Hungria e Reino Unido e um aumento da prostituição e de ataques a prostitutas na Alemanha e Reino Unido.

Em Portugal, em 2010, 43 mulheres morreram vítimas de violência doméstica. Na França uma mulher é assassinada a cada três dias em casos de violência doméstica. Na Itália estima-se que 6,7% das mulheres sofreram violência física e sexual ao longo de sua vida.

Estes números crescem nos países latino-americanos. No Brasil, a cada 15 segundos uma mulher é vítima da violência e 3,9 mulheres são assassinadas a cada 100 mil habitantes. Em El Salvador essa taxa sobe a 12,7. Essa violência aumenta quando se trata de mulheres lésbicas e indígenas, que sofrem abusos e ataques sexuais por parte de militares, contrabandistas e traficantes.

E a maior violência vem da parte dos estados latino-americanos que, ao manter a proibição do aborto legal, condenam uma enorme quantidade de jovens mulheres trabalhadoras e pobres à morte ou à mutilação.

Por que lutam as mulheres?
Milhões de mulheres morrem a cada dia vítima da violência doméstica, de abortos clandestinos, de estupros, de fome e miséria. Milhões de trabalhadoras sofrem discriminação trabalhista, recebem menor salário por igual trabalho, sofrem assédio sexual, são demitidas sem piedade quando ficam grávidas. Milhões de mulheres tornam-se párias porque não têm estudo, nem trabalho, muitas nem sequer documentos.

As mulheres lutam contra essa realidade. Por isso participam da revolução árabe, da resistência europeia, das diferentes lutas dos trabalhadores e pobres da América Latina.

A LIT-QI faz chegar sua solidariedade às mulheres árabes e a todas as trabalhadoras que estão enfrentando as políticas capitalistas e lutando por seus direitos democráticos, como a legalização do aborto.

Essas lutas são muito importantes e extremamente necessárias. Mas não são suficientes. Para conseguir a verdadeira libertação da mulher é necessário acabar com esta sociedade na qual uns poucos vivem da exploração da grande maioria. Devemos substituir esta sociedade injusta por uma igualitária e solidária, a sociedade socialista que só poderemos começar a construir quando os trabalhadores (homens e mulheres) tomarem o poder político em todos os países do mundo e derrotarem definitivamente o imperialismo.

Chamamos todas as trabalhadoras, as jovens estudantes, as mulheres pobres da cidade e do campo a somar-se à luta por essa nova sociedade e à tarefa de construir a direção revolucionária mundial que nos permita conseguir esse objetivo.

São Paulo, 8 de março de 2011

Secretaria Internacional da Mulher
Liga Internacional dos Trabalhadores- IV Internacional

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