Cerca de 500 pessoas ouviram os relatos sobre a situação no Haiti
Diego Cruz

O Teatro da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) recebeu cerca de 500 pessoas na manhã deste domingo, 31. A mesa “Haiti: ação humanitária ou ocupação militar – a luta do povo haitiano” foi parte da programação do Fórum Social Temático de Salvador. O evento foi promovido pela Conlutas e pelo Quilombo Raça e Classe.

Os painelista foram Zé Maria de Almeida, da Conlutas, Elias José, do Quilombo Raça e Classe, Julio Condaque, da Secretaria de Negros e Negras do PSTU, e a estudante Ilze, da Assembleia Nacional de Estudantes – Livre (ANEL). També deram seus depoimentos o ativista haitiano Frank Seguy e o estudante Otávio Calegari, que estava no Haiti no momento do terremoto.

Zé Maria retomou o histórico da Conlutas na luta contra a ocupação militar do Haiti pelas tropas da ONU. Para ele, a campanha contra a ocupação tem de continuar: “a ajuda tem de ser associada à intensificação das denúncias do papel da ocupação militar no Haiti”.

Ele também informou sobre a campanha de arrecadação impulsionada pela Conlutas. Segundo ele, uma primeira etapa emergencial arrecadou recursos diretamente dos sindicatos. A meta inicial era recolher R$ 50 mil para serem enviados imediatamente à organização Batay Ouvryie. Superando as expectativas, na última sexta-feira, 29, já havia R$ 200.

Zé Maria afirmou a necessidade de uma segunda etapa de arrecadação junto aos trabalhadores. Ele citou como exemplo os trabalhadores da GM de São José dos Campos, que discutem desconto de um dia de salário. Outra fábrica região está debatendo a doação de 1% do salário por trabalhdor.

“O povo do Haiti é nosso irmão, solidariedade não é ocupação!”
Elias José criticou as organizações tradicionais do movimento negro, que se colocam ao lado do governo Lula em vez de denunciar a ocupação e a repressão no país ocupado. “Nós não vamos esperar por eles, vamos nós mesmo ajudar os trabalhadores haitianos”, disse.

Ele e Julio Condaque criticaram a mídia e o governo, que apresentam as tropas como humanitárias, escondendo a repressão promovida por elas. Júlio esteve no Haiti durante as , conta. Ele ainda criticou o papel das ONGs no país, principalmente da Viva Rio.

Sobre as multinacionais, Otávio denunciou o papel que cumprem, superexplorando a barata mão-de-obra haitiana. Como exemplo, citou uma empresa coreana do ramo têxtil que exporta, principalmente, para os Estados Unidos e para o Canadá. As doações de roupas que chegam dos EUA para o Haiti são dessa fábrica, ou seja, os haitianos recebem como doação a roupa usada que eles mesmos fabricaram.

Há dois anos vivendo no Brasil, o haitiano Frank Seguy opinou que a tragédia do terremoto e suas vítimas foi uma construção sócio-histórica. Ele retomou o histórico das colonizações, primeiro pela Espanha e depois pela França. Lembrou que a dominação francesa destruiu 45% do meio-ambiente no país.

Frank também destacou a história da burguesia haitiana, denunciando o roubo das terras de camponeses, expulsos para a cidade como mão-de-obra barata. Denunciou papel perverso da Minustah, principalmente do Brasil à frente das tropas. O governo brasileiro, segundo ele, se aproveita da identificação do povo haitiano com os brasileiros, sobretudo pelo futebol. Ele disse, ainda, que os haitianos chegama a pensar que não existe racismo no Brasil.

O haitiano criticou duramente a suposta ajuda humanitária dos países imperialistas, principalmente das ONGs. Lembrou do furacão que atingiu o Haiti em 2004. muitas pessoas que perderam suas casas continuam desabrigadas até hoje.

Para terminar, Frank denunciou o papel do FMI, que diz querer ajudar na reconstrução do país. Na verdade, a falsa ajuda do Fundo nada mais é do que um empréstimo que vai elevar a dívida externa e ampliar ainda mais a dependência com o imperialismo. “Só os trabalhadores podem ajudar”, concluiu.