A esquerda mundial tem a obrigação de tomar uma posição frente a estes fatos. Para nós, neste conflito, de um lado estão o imperialismo, Israel e seus agentes colaboracionistas; do outro as massas palestinas em luta por sua liberação.

Por isso, não temos dúvidas: estamos categoricamente no campo da resistência, independentemente de quem seja sua direção. Em outras palavras, nos colocamos incondicionalmente no “campo militar” do Hamas. O que isso significa? Que, sem dar nenhum apoio político ao Hamas nem chamar a confiar em sua direção, estamos a favor de sua vitória na batalha contra os colaboracionistas, porque este “campo militar” é hoje o das massas palestinas e sua luta contra décadas de opressão. É a mesma posição que tivemos junto à resistência contra os nazistas e colaboracionistas na Segunda Guerra Mundial ou junto ao vietcong na Guerra do Vietnã.

Ao mesmo tempo, acreditamos ser imprescindível que todas as organizações da resistência palestina nos territórios de Gaza e Cisjordânia, assim como as dos campos de refugiados dos países vizinhos e da diáspora mundial, se unam para não reconhecer o governo fantoche de Fayyad e juntem forças para lutar juntas contra os inimigos externos e internos da causa palestina.

A “NEUTRALIDADE” É UM GRAVE ERRO
A Agência Gara informou que duas organizações palestinas de esquerda, a FPLP e FDLP, organizaram uma mobilização “para denunciar a loucura sanguinária em Gaza” (ver páginas www.francepalestine.com e www.rebelión.org).

De acordo com esta informação: “Tanto a FPLP como a FDLP se pronunciaram chamando o fim do derramamento de sangue e a união dos palestinos… É a questão palestina rechaçando os combates e o conjunto de violências entre Al Fatah e Hamas. Numerosas personalidades nacionais, as instituições da sociedade civil e centenas de cidadãos participaram da manifestação à frente da qual marcharam quadros, partidários e membros das duas frentes. Os manifestantes gritaram consignas que chamavam a unidade nacional e denunciavam todo tipo de divisões, assim como o recurso às armas no seio da Palestina… A FPLP… insistiu na necessidade de um diálogo nacional total e de uma reconsideração das instituições de segurança sobre bases igualitárias e profissionais”.

Não estamos de acordo com este enfoque do conflito. A posição de “parar uma guerra fratricida” seria válida se se tratasse de dois bandos que representassem interesses de setores similares da população, e lutassem por questões secundárias ou pela divisão dos recursos financeiros. Mas este não é o caso atual. O que ocorre hoje nos territórios palestinos é o resultado de uma política de uma direção colaboracionista, que já se rendeu definitivamente a Israel e ao imperialismo e quer liquidar a resistência de quem ainda não se rendeu.   

Não se pode analisar os atuais enfrentamentos como uma simples luta de Fatah versus Hamas, como a briga entre duas organizações similares do povo palestino que deveriam se unir em lugar de lutar entre si. É preciso ia fundo da questão: uma destas organizações (Al Fatah) passou ao campo dos inimigos do povo palestino.
Uma vez mais vemos a analogia de quanto os nazistas ocuparam a França e instalaram o “governo de Vichy”: a resistência que lutava contra a ocupação tinha que enfrentar não apenas os nazistas, mas também os franceses que colaboravam com eles. Ou quando os EUA ocupavam o Vietnã do Sul e instalou um governo títere em Saigon: a resistência do vietcong atacava tanto as tropas ianques como os soldados e funcionários do governo fantoche. Nestes casos, nenhuma organização de esquerda havia proposto chamar a unidade entre a resistência e os colaboracionistas. Esta é a situação atual da Palestina, a partir da adesão de Abbas e a direção da Al Fatah ao projeto do imperialismo e do sionismo.

A unidade daqueles que querem lutar pela causa palestina é imprescindível para uma possível vitória. Mas chamar a unidade com os colaboracionistas e agentes do inimigo, considerando-os aliados, joga contra essa luta porque confunde as massas palestinas sobre o verdadeiro significado dos atuais enfrentamentos. E esta confusão só serve aos interesses do imperialismo e Israel.

Pelo fim do bloqueio a Gaza
A expulsão dos colaboracionistas transformou Gaza, de fato, em um território palestino independente. Mas esta situação se dá no marco de um gravíssimo quadro socioeconômico, resultado da destruição de sua infra-estrutura (usinas, hospitais, etc.) pelos ataques israelenses e o bloqueio de verbas e fundos por parte de Israel e o governo títere de Abbas. Tanto Israel como Abbas tentam utilizar esta situação para obrigar Gaza a se render por fome. 

Por isso a LIT chama a realizar uma campanha internacional, o mais unitária possível, para exigir o fim imediato do bloqueio a Gaza e a entrega de alimentos, medicamentos, eletricidade e todo o necessário para a sobrevivência da população.

GOVERNOS TÍTERES E PROVOCAÇÕES
A partir da crise cada vez maior que a política de “guerra contra o terror” no Oriente Médio enfrenta e do fortalecimento das forças da resistência nos distintos países (Iraque, Afeganistão, Líbano, Palestina), o imperialismo tenta uma variante que permita reverter, ou ao menos atenuar, esta crise.

Por um lado, se apóia em forças e dirigentes títeres (alguns o são há tempos, outros são “novos”) que atuam como “agentes colaboracionistas”. Por outro, impulsiona ou aproveita atentados provocadores para tentar dividir a luta da resistência e fortalecer militarmente seus agentes.

Esta política foi ensaiada inicialmente no Iraque, com o governo títere de Al Maliki e os atentados às mesquitas das diferentes confissões religiosas para aumentar o enfrentamento entre xiitas e sunitas. Agora se estendeu também ao Líbano, onde se apóia no primeiro-ministro Fouad Siniora e no deputado sunita Saad Hariri, filho do ex-primeiro-ministro libanês assassinado, Rafic Hariri.

Recentemente, nos acampamentos palestinos no país, apareceu uma nova organização, a Fatah Islâmica, supostamente ligada à Al Qaeda, realizando atentados em que foram assassinados vários deputados. Estes fatos foram aproveitados pelo exército libanês para lançar uma ofensiva sobre os acampamentos palestinos. Trata-se, evidentemente, de um tipo contra o Hizbollah.

Na Palestina, Mohamed Dahlan parece cumprir ambos papéis. Por um lado é o chefe de segurança do governo títere de Abbas. Por outro, denunciou sua ligação com a CIA e o Mossad (a quem entregava quadros da resistência palestina), a construção de uma força de choque com armas dos EUA para atacar o Hamas e, inclusive, que havia trabalhado com supostos membros da Al Qaeda para realizar atentados em locais turísticos do Egito, buscando que a resposta do povo egípcio isolasse o Hamas e a resistência palestina.
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