Numa reunião da gestão do DCE da UFPR, foi votada a expulsão do grupo minoritário da direção da entidade por ter eleito delegados ao Congresso da Conlutas. A medida é antidemocrática e fere a unidade na luta contra a reforma universitária e o ReUni. AbaixEm defesa da unidade dos lutadores e da democracia no movimento estudantil

Recentemente, nos deparamos com um fato lamentável. Foi votada na reunião de gestão do DCE da UFPR a expulsão de um grupo de estudantes que integrava a gestão. O motivo principal foi o fato de esse grupo ter eleito delegados ao Congresso da Conlutas pela minoria do DCE.

Achamos que esse fato possui duas gravidades as quais queremos tratar com o conjunto dos movimentos sociais de todo o país, em especial o movimento estudantil combativo e de esquerda. Sabemos que há muitos companheiros lutadores honestos, sinceros e preocupados com a construção da unidade, com a superação de velhos métodos no movimento estudantil, que possuem dúvidas em relação a este debate e queremos apresentar essas duas gravidades de modo que avancemos em conjunto com a construção das lutas, o que passa por avaliar e rever posições, expressar autocríticas, mas também apontar os erros, debatê-los, e afinarmos concepções.

1) A expulsão é um ataque à Frente de Luta contra a Reforma Universitária
Em primeiro lugar, queremos discorrer sobre o que é essa gestão. Ela é fruto de um importante processo de mobilização, que não ocorreu apenas na UFPR. Esse processo é a luta contra o REUNI que teve no movimento estudantil da UFPR um importante protagonista. Achamos que parte da força de nossa luta teve a ver com a unidade de todos os lutadores, sejam eles do partido x, y ou z, ou de nenhum partido, mas todos com a disposição de derrotar o REUNI. Isso em nossa avaliação foi muito importante, afinal este Decreto é um forte ataque que deve ser combatido através do somatório de forças e não da divisão das forças.

A gestão que estava no DCE naquele período era uma gestão que não só deixou de organizar os estudantes, como defendia com afinco o REUNI, um dos maiores ataques da história da Universidade Pública brasileira. Tivemos o importante saldo de expressar nas eleições do DCE a unidade e a combatividade expressa na Ocupação da Reitoria. Definimos, portanto, uma chapa que expressava todos os setores em luta.

Essa unidade também foi determinada por uma movimentação nacional, que refletiu na criação da Frente Nacional de luta contra a Reforma Universitária. Essa Frente ajudou a determinar o levante do movimento estudantil em todo o país e, como na UFPR, varreu os governistas da UNE de uma série de entidades que voltaram a ser instrumento do movimento estudantil combativo.

Dessa forma, não achamos coerente que uma chapa unitária da esquerda, que concretiza a unidade em nível nacional construída entre todos os setores combativos do movimento estudantil, encaminhe as diferenças e polêmicas, que sempre vão acontecer no interior de uma gestão, na forma de expulsão de parte de seus integrantes.

Achamos que esta é uma postura inconseqüente, que não prioriza a necessidade de lutar e para isso fortalecer o pólo dos lutadores. A Frente de Luta foi parte determinante do levante do movimento estudantil em 2007. Uma postura como essa que tiveram a maioria dos companheiros do DCE não é uma postura conseqüente com a necessidade que temos hoje.

2) A expulsão é um ataque à democracia no movimento estudantil
É absolutamente legítima a organização da minoria de uma entidade enquanto minoria. Vejamos um exemplo. A União Nacional dos Estudantes é composta majoritariamente pela UJS, que tem a política e práticas que todos nós conhecemos. Por serem maioria, definem a política da entidade, mas isso pra nada impede que a diretoria minoritária se manifeste com uma política diferente da política da maioria. No DCE da UFPR há inclusive militantes que reivindicam a diretoria minoritária da UNE e manifestam uma opinião diferente, por exemplo, em relação ao REUNI. Seria um absurdo a diretoria majoritária impedir essa forma de manifestação.

Na Plenária Nacional da Frente de Luta, que ocorreu em março de 2007, os diretores da UNE se pronunciaram como tal, e localizaram que eram da diretoria minoritária. A UNE enquanto entidade era contrária à realização daquela plenária, mas não houve um impedimento de os diretores da minoritária construir e participarem dessa plenária.

Imagine se a UNE expulsasse os diretores que falam publicamente outra política, constróem outros fóruns como a Frente de Luta contra a Reforma Universitária, diferente da política da diretoria minoritária. Seria correto que em uma reunião de gestão da UNE se expulsasse esses diretores?

Infelizmente, o debate que foi feito no DCE da UFPR e o questionamento feito em relação à organização da minoria sobre o Congresso da Conlutas supera negativamente os métodos antidemocráticos da UNE. Esta entidade, que atingiu um nível brutal hoje de burocratização, em que nada que se passa no chão das escolas e universidades está refletido nas posições políticas desta entidade e nas suas movimentações, permite que seus diretores minoritários expressem e organizem suas diferenças, como concretizado com a construção da Frente de Luta contra a Reforma Universitária. O DCE da UFPR atuou de forma mais antidemocrática.

Seria absolutamente errada que a minoria do DCE construísse o Congresso da Conlutas como se fosse o DCE de conjunto construindo, afinal houve uma decisão política da entidade de não participar com delegados, mas é um absurdo antidemocrático impedir que a minoria eleja seus delegados. Isso seria tão errado quanto dizer que os diretores minoritários da UNE deveriam ser expulsos da gestão, porque estiveram nas ocupações de Reitoria, ou porque vieram construir a Frente de Luta contra a Reforma Universitária.

Se a eleição dos delegados ocorresse pelo DCE, mais de 40 delegados poderiam ser eleitos, mas a decisão da entidade foi respeitada e realizou-se a eleição pelo critério da minoria, que pela representação que tem no DCE, significa 5 delegados. Ou seja, a decisão política da entidade foi respeitada e foi utilizado o direito democrático de organização enquanto minoria, direito presente em muitas e muitas entidades, inclusive aquelas majoritariamente dirigidas pelo governismo, como o é a UNE e infelizmente ainda alguns outros sindicatos e centrais traidoras.

Também foi respeitado o direito de eleição de observadores ao Congresso e uma coisa não impede a outra. É possível e necessário que o DCE da UFPR envie observadores pelo DCE (embora não se tenha enviado pela maioria), mas é possível e necessário que a minoria possa se organizar para mandar delegados.

Por fim, também entendemos como uma postura antidemocrática o fato de uma reunião de gestão, com cerca de 20 pessoas decidirem sobre a saída de um grupo de estudantes da gestão do DCE passando por cima da decisão de mais de 3000 estudantes que votaram nessa chapa para o DCE com a composição apresentada.

Repudiamos esse tipo de postura do DCE e reivindicamos que a unidade seja construída de modo conseqüente e coerente com a necessidade que a luta nos impõe. Seria muito importante que o DCE da UFPR revisse essa postura, sob pena, infelizmente de ser parte responsável ao enfraquecimento das lutas do movimento estudantil combativo em nível nacional.

Coordenação Nacional de Lutas – Conlutas
Coordenação Nacional de Lutas dos Estudantes – Conlute

Atualizada em 20/8/2008, às 16h06