Na semana em que a chamada Operação Satiagraha foi deflagrada pela Polícia Federal, uma série de figuras tarimbadas voltaram aos noticiários. O banqueiro Daniel Dantas já transitava das páginas de negócios e economia para as policiais. Naji Nahas ficou conhecido por quebrar a bolsa de valores do Rio através de especulações fraudulentas em 1989. Já o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, pupilo de Maluf, já era um célebre delinqüente após ter dilapidado os cofres públicos durante sua desastrosa gestão.

Um nome, porém, destoava da lista de notórios marginais de colarinho branco. O de Luiz Edurado Greenhalgh, advogado, ex-deputado e fundador do PT. A prisão de Greenhalgh chegou a ser pedida pela Polícia Federal e o Ministério, mas foi negada pela Justiça. O advogado é acusado de agir como lobista de Dantas no governo. As investigações apontam que o petista atuava para beneficiar o banqueiro nos negócios e conseguir informações privilegiadas sobre processos na justiça.

Advogado do diabo
Conversa telefônica entre Greenhalgh e o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, interceptada pela Polícia Federal, mostra como o ex-deputado atua na defesa dos interesses de Dantas, em áreas que vão além da mera assessoria jurídica. Numa das conversas gravadas, Greenhalgh pergunta ao assessor direto de Lula se havia alguma investigação contra Humberto Braz, braço direito de Dantas. Na mesma conversa, o advogado reclama do delegado da Polícia Federal que encaminhava o processo contra o banqueiro. “Um descontrolado”, resume Greenhalgh.

A PF gravou conversas telefônicas do ex-deputado desde 2007. Greenhalgh também teria pedido ajuda à ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, para beneficiar Dantas na fusão entre a Brasil Telecom e a Oi, num negócio escandaloso que garantiu ao banqueiro quase US$ 1 milhão. Em conversa do advogado com o também ex-deputado petista Sigmaringa Seixas, Luiz Eduardo Greenhalgh, ou simplesmente LEG, como era conhecido na quadrilha de Dantas, afirma: “Ele (Dantas) faz muita bobagem, mas, se a gente puder evitar que ele seja constrangida e tal, a solução é essa”.

Para o delegado Protógenes Queiroz, Greenhalgh “seria o homem de ligação entre pessoas do Poder Executivo Federal, empresas estatais e Daniel Dantas”. Em nota, o petista se defendeu afirmando que fora “contratado por Dantas para prestar serviços como advogado”.

Trajetória
Luiz Eduardo Greenhalgh ficou conhecido por defender os presos e perseguidos políticos da ditadura militar. Construiu sua carreira política e profissional defendendo ativistas de movimentos sociais e populares. Ficou conhecido também por atuar em defesa dos Direitos Humanos e na luta pela descoberta dos restos mortais de militantes assassinados pela ditadura. Defendeu, entre outros nomes célebres, o seringueiro Chico Mendes.

No PT, era identificado com o que se poderia chamar de “esquerda” petista. Era, por exemplo, contrário à Alca, o acordo de livre comércio que os EUA queriam impor ao país. Advogou em nome do MST e defendeu líderes como José Rainha e João Pedro Stédille. Pois bem, é esse mesmo Greenhalgh que aparece agora como lobista da organização criminosa liderada por Daniel Dantas.

A relação do banqueiro com o PT, porém, não se resume ao ex-deputado. A aproximação e as relações promíscuas estabelecidas entre o partido de Lula e o banqueiro não são de agora. As empresas controladas por Dantas foram as que mais abasteceram as contas de Marcos Valério, o operador do mensalão. A Telemig Celular e Amazônia Celular chegaram a depositar, na época, mais de R$ 150 milhões nas contas do valerioduto.

Dantas sempre se beneficiou com sua proximidade com o poder. Começou sua carreira apadrinhado por Antônio Carlos Magalhães e se esbaldou nas privatizações de FHC. No governo Lula, sem preconceitos ideológicos, buscou o PT e foi bem recebido. O banqueiro precisava, como sempre precisou, da ajuda do Estado nos negócios.

O PT precisava de dinheiro, o que para Dantas não era problema. Foi o casamento perfeito, ainda que com algumas brigas, como a pendenga com o então ministro Luiz Gushiken sobre o controle dos fundos de pensão. É a outra ponta da organização criminosa do mensalão, dirigida por José Dirceu.

Greenhalgh defendia Chico Mendes, hoje defende Dainel Dantas. Assim como o PT. Triste Greenhalgh, triste PT.